Na avaliação do cientista político Paulo Roberto de Souza, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), os depoimentos prestados à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os atos golpistas de 8 de janeiro representam “uma tentativa de diminuição de penas […] e também de fazer barulho, principalmente de interesse da extrema direita, numa disputa sobre o próprio sentido dessas ações.”
Entre as estratégias, segundo o professor entrevistado no Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, está a tentativa de dissociar o episódio da tentativa de golpe e recontar os atos como “uma liberdade de expressão que saiu um pouco do controle”, mesmo diante das evidências de planejamento prévio. “As reuniões já estão comprovadas, inclusive de tentativa de assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin, do ministro do STF Alexandre de Moraes”, lembra.
A ação penal contra o chamado “núcleo 1” da tentativa de golpe de Estado entra na reta final da fase de oitivas nesta segunda-feira (2), com o depoimento do senador Rogério Marinho (PL-RN) como última testemunha de defesa. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é acusado de liderar uma organização criminosa para se manter no poder após a derrota em 2022. Enquanto aliados o descreveram como “abatido” e “resignado”, militares e ex-integrantes do governo confirmaram discussões sobre medidas de exceção e até a possibilidade de prender Moraes. Encerradas as oitivas, o STF poderá iniciar os interrogatórios dos réus.
Tarcísio mira 2026, equilibrando acenos ao bolsonarismo e ao liberalismo
Souza também comentou o depoimento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que afirmou não ter visto intenção golpista em Jair Bolsonaro, réu pelo STF. Para o cientista político, o gesto é parte do esforço de Tarcísio para se consolidar como presidenciável em 2026, mantendo um pé no bolsonarismo e outro no campo liberal. “Ele precisa do bolsonarismo para ser viável. Ao mesmo tempo, para vencer, precisa convencer parte do liberalismo político de que ele não é um Bolsonaro.”
O professor observa que o governador de São Paulo tenta se equilibrar entre as duas frentes, sendo chamado por setores da mídia como um “bolsonarista moderado”. “Ele fica acenando, equilibrando uma bandeja em cada mão. Um dia é bolsonarista, no outro é mais neoliberal. […] Pensando no no sentido político, ele não pode desperdiçar esses momentos de aceno, de ganhar visibilidade.”
Essa visibilidade é importante, explica, porque a estadual não garante projeção nacional. “Muita gente confunde uma boa avaliação estadual como uma potência indiscutível no âmbito nacional. E a conta não é fácil”, destacou, citando ex-governadores como José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, que não conseguiram se eleger à presidência mesmo com bom desempenho nos estados.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.