A fuga da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal federal (STF) a dez anos de prisão pela invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de documentos falsos, pode indicar o risco de uma evasão em massa de bolsonaristas. O alerta é do cientista político Rudá Ricci.
“A extrema direita passou a formar, a partir de 2020, uma rede internacional. Aquilo que a extrema direita disse da esquerda brasileira, que estaria vinculada a uma rede internacional e ideológica, nunca se confirmou. Mas foi exatamente o que eles fizeram, construíram essa rede e hoje ela tem potencial para os abrigar no exterior”, indicou o cientista político.
Com receio da emissão de uma ordem de prisão, a deputada federal partiu para a Europa. Em entrevista à CNN, Zambelli afirmou que seu destino final será a Itália e que não pretende voltar ao país se seu processo não for anulado.
“Como cidadã italiana eu sou intocável na Itália, não há o que ele possa fazer para me extraditar de um país onde eu sou cidadã, então eu estou muito tranquila quanto a isso”, determinou Zambelli, que mais cedo, em entrevista à Rádio Auriverde, falou que pretende manter sua militância no exterior.
A Itália é comandada pela primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que mantém diálogos com políticos brasileiros alinhados.
“Me cansei de ficar calada, me cansei de não atender meu público. Nosso país não tem condições de abarcar pessoas que querem falar tanto quanto eu”, disse a deputada.
Rudá Ricci acredita que Zambelli deve adotar postura similar ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que fugiu do país em 18 de março deste ano. “Eles, de fato, atacam o Judiciário. Quando você decide atacar a mais alta corte do país, pode ser preso e eles optam por fugir, outros também podem decidir por esse caminho, da fuga”, alertou o cientista político.
Dos EUA, onde passou a morar, Eduardo Bolsonaro segue distante do alcance da Justiça brasileira e próximo do coração da articulação internacional da extrema direita, que passa pelo governo do presidente estadunidense Donald Trump.
Por lá, Bolsonaro tem se articulado com parlamentares da extrema direita e a atuação do deputado federal chamou a atenção da Justiça brasileira.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) passou a investigar nesta semana se Eduardo Bolsonaro cometeu crimes em sua atuação política desde que se licenciou do mandato e viajou para os EUA.
A suspeita da PGR é de que Eduardo tenha cometido “coação no curso do processo” contra autoridades brasileiras – principalmente ministros do Supremo Tribunal Federal, em especial Alexandre de Moraes.
Antes de Zambelli e Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro ensaiou uma fuga da Justiça, se hospedando por dois dias na embaixada da Hungria, entre os12 e 14 de fevereiro deste ano, após ter seu passaporte apreendido pela Polícia Federal.
Desde 2010, o primeiro-ministro da Hungria é Viktor Mihály Orbán, principal líder da extrema direita húngara e aliado de Jair Bolsonaro. Quando ainda era presidente, o brasileiro recebeu o premiê em Brasília e o chamou de “irmão.”