O Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia (TSE) divulgou nesta sexta-feira (6) a lista dos 9 candidatos que disputarão as eleições presidenciais de 17 de agosto. O principal nome da esquerda é o presidente do Senado, Andrónico Rodriguez. Além de enfrentar a oposição, ele também terá a tarefa de unir o bloco progressista, que hoje enfrenta uma divisão entre apoiadores do atual presidente, Luís Arce, e do ex-mandatário, Evo Morales.
Andrónico conseguiu registrar sua candidatura pela Aliança Popular depois de um impasse judicial sobre o registro da sigla. O grupo não havia trocado a diretoria em um tempo hábil e o TSE analisou a participação do partido, que foi autorizado a estar no pleito. Ele enfrentará agora outros 2 candidatos de esquerda: o ex-ministro do atual governo Eduardo Del Castillo (representando o Movimento Al Socialismo) e a prefeita de El Alto, Eva Copa (Morena).
Eles serão acompanhados nas urnas por outros 6 candidatos. Os principais nomes da direita são o empresário Samuel Doria Medina (Alianza Unidad), o ex-presidente Jorge Fernando Tuto Quiroga (Alianza Libertad Y Democracia) e o prefeito de Cochabamba, Manfred Reyes Villa (Autonomia Para Bolivia).
Outros três nomes de menor peso completam a lista: Fidel Tapia Zambrana (Nueva Generación Patriótica), Max Jhonny Fernandez Saucedo (Alianza Fuerza Del Pueblo) e Rodrigo Paz Pereira (Partido Demócrata Cristiano).
Mas parte da expectativa da divulgação da lista de candidatos ficou pela ausência de Evo Morales no pleito. Ele não pôde se candidatar depois de uma decisão do Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia (TCP), que decretou, em dezembro de 2023, que presidentes e vice-presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, de forma seguida ou não. Com a sentença judicial, Evo Morales, que foi presidente por três mandatos, não poderia voltar ao poder.
Ele, no entanto, insistiu até o último momento e convocou apoiadores para irem às ruas, que pediram a aprovação da sua candidatura.
Apoiadores do ex-presidente criaram o movimento Evo Pueblo e tentaram inscrevê-lo digitalmente pelo partido Ação Nacional Boliviana (Pan-bol). O TSE, no entanto, rejeitou a candidatura.
No momento, as pesquisas de intenção de voto ainda indicam um cenário incerto. Um levantamento da Ipsos Ciesmori, realizado em maio, indicava que Doria Medina liderava com 19,1% das intenções de voto, seguido por Quiroga (18,4%), Andrónico Rodríguez (14,2%) e Reyes Villa (7,9%).
Já uma pesquisa anterior, realizada em março pela Red Uno, colocava Andrónico na liderança com 18%, seguido de perto por Doria (17%) e Quiroga (16%).
Andrónico terá uma tarefa difícil: articular a esquerda no país para vencer o pleito. Evo Morales foi presidente por três mandatos e nos últimos anos iniciou uma disputa interna em seu antigo partido, o MAS, contra o atual presidente e seu ex-ministro da Economia, Luis Arce. Esse movimento criou um racha no bloco de esquerda e o próprio Arce renunciou a candidatura para evitar ser um “ponto de conflito” para o progressismo boliviano.
Com apenas 36 anos, Andrónico chama atenção entre a nova geração de políticos da Bolívia, que representam os movimentos populares, com parte dos analistas bolivianos considerando-o “sucessor natural” de Evo Morales. Essa relação está muito vinculada ao fato de o jovem ter tido uma formação política como dirigente cocalero, assim como o ex-presidente.
Filho de produtores agrícolas do movimento sindical cocalero, testemunhou e participou de diversas reuniões de intenso debate político.
Andrónico foi crescendo no movimento sindical ao longo do tempo, enquanto desenvolvia outros trabalhos, como a participação em um programa musical de rádio. Com 18 anos, se mudou para Cochabamba para estudar Ciência Política na Universidade Mayor de San Simón. A região é berço político de Evo e tem forte produção cocalera, o que o aproximou do MAS, o qual integravam tanto Evo como Arce.
Se tornou presidente da Casa Alta e teve um papel de negociação e conciliação com a oposição, além de manter distância considerável do presidente Luis Arce. Andrónico também se afastou nos últimos meses de Evo Morales, depois que o ex-presidente foi acusado de “estupro e tráfico de pessoas”, por manter relações com uma menina de 15 anos em 2015, quando ainda era presidente.