O senador colombiano e pré-candidato presidencial, Miguel Uribe, segue internado em estado “muito grave” depois de ser baleado em Bogotá durante um ato político. Em boletim publicado nesta segunda-feira (9), a Fundação Santa Fé – local em que o político está hospitalizado – afirmou que ele “respondeu mal” às intervenções e tratamentos médicos ao qual foi submetido.
O novo boletim foi divulgado quase 24 horas depois da cirurgia realizada em Uribe. Ele passou por um procedimento neurocirúrgico e outro na coxa esquerda. O segundo boletim, publicado no domingo, afirmava que a cirurgia foi realizada para “controle inicial de danos”.
Uribe foi atingido por três disparos, dois deles na cabeça e um no joelho, quando discursava em um bairro da capital colombiana. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o momento do ataque, em que o senador cai no chão após ser atingido, e depois aparece ensanguentado, sendo socorrido sobre um veículo.
Em coletiva de imprensa, a procuradora-geral, Luz Adriana Camargo, disse que a investigação está avançando, mas não detalhou quais são as hipóteses levantadas pelo Ministério Público. Ela afirmou que foram analisados mais de mil vídeos, registradas 23 entrevistas e o estudo balístico.
O diretor da Polícia Nacional, Carlos Triana, afirmou que foi usada uma pistola Glock comprada pela primeira vez em agosto de 2020 no estado do Arizona, nos Estados Unidos. Ele, no entanto, disse que não é possível saber como a arma chegou à Colômbia nem como foi obtida pelo atirador.
Três hipóteses
Já o ministro da Defesa, Pedro Sánchez Suárez, afirmou que foi formado um conselho de segurança com o presidente Gustavo Petro e que o governo trabalha com três possibilidades para as origens do ataque contra o integrante do partido de direita Centro Democrático.
“Poderíamos classificar em três grupos principais: se foi diretamente porque era Miguel Uribe Turbay, ou por sua ligação com o seu partido político, ou se foi uma tentativa de desestabilizar o governo nacional por meio de ataques a membros que discordam da atual gestão. Este ataque tem um impacto na estabilidade do nosso país”, resumiu.
O ministro também ofereceu 1 bilhão de pesos colombianos (cerca de R$ 1,3 milhão) para quem fornecesse “informações úteis” que ajudassem a impedir ataques contra líderes políticos. Suárez já havia oferecido 3 bilhões de pesos (R$ 4 milhões) para quem tivesse informações sobre os responsáveis pelo ataque a Miguel Uribe.
Ainda de acordo com o ministro, as forças de segurança trabalham para esclarecer o caso. Mais de 100 investigadores foram mobilizados . “Qualquer pessoa que ataque um líder político, independentemente de sua ideologia ou partido, ataca diretamente nossa democracia. E não permitiremos isso”, disse.
Falhas na segurança
Víctor Mosquera é advogado da família de Miguel Uribe e disse ter entrado com uma denúncia contra o diretor da Unidade de Proteção Nacional (UNP), Augusto Rodríguez, por falta de proteção durante o ato. Para os familiares, o incidente poderia ter sido evitado, já que o órgão negou o envio de reforço à equipe de segurança do político.
“Em 2023, o UNP classificou o senador como um risco extraordinário, mas em 2024 não levou em consideração que ele era candidato à presidência desde outubro e, portanto, seus arranjos de segurança deveriam ter sido melhorados”, disse o advogado.
O próprio Ramírez reconheceu que o número de pessoas responsáveis pela segurança do político era “insuficiente”. Em um primeiro momento, ele tinha sete seguranças e dois veículos blindados no evento na capital. O presidente Gustavo Petro, no entanto, disse que o contingente foi “estranhamente reduzido” para três pessoas no dia do ato.
Suspeito apreendido
Um adolescente de 15 anos foi apreendido como principal suspeito de efetuar os disparos. De acordo com as autoridades, ele teria sido ferido na perna durante troca de tiros com a equipe de segurança do senador.
Petro afirmou nesta segunda-feira que o suspeito pelo atentado contra o senador participou do programa Jovens de Paz, projeto criado em sua gestão para reduzir o índice de jovens que cometem crimes e diminuir a participação em grupos organizados. A identidade do jovem continua mantida em sigilo.
Ainda assim, o presidente colombiano afirmou que o autor dos disparos tinha uma “personalidade completamente conflituosa” e não possuía “capacidade de estabelecer conexões sociais”. O mandatário concluiu afirmando que o jovem se retirou do programa sem frequentar nenhuma aula.
O presidente convocou para a tarde desta segunda-feira os líderes políticos para a Comissão de Garantias Eleitorais. A ideia era discutir ferramentas para garantir a segurança no pleito presidencial do ano que vem. Os opositores, no entanto, rejeitaram o convite. Integrantes do Cambio Radical disseram que não participariam por falta de “atitude positiva” de Petro.
Quem é Miguel Uribe?
Miguel Uribe é neto de Julio César Turbay, que foi presidente da Colômbia entre 1978 e 1982, e a jornalista Diana Turbay, Embora pertença ao mesmo partido e tenha o mesmo sobrenome do ex-presidente Álvaro Uribe, os dois não possuem parentesco.
Uribe é senador desde 2022. Anteriormente, ele atuou como secretário de governo de Bogotá e se candidatou à prefeitura da capital, sendo derrotado em 2019.
Violência eleitoral
Ataques contra políticos em campanhas não são novidade na Colômbia. Este é um problema que se arrasta há décadas no país e atinge muitos líderes da esquerda colombiana. O caso mais emblemático foi o de Jorge Eliécer Gaitán, vítima de um ataque a tiros em abril de 1948, quando era o principal líder progressista da Colômbia e potencial candidato presidencial.
Sua morte colocou fim a um projeto de reforma agrária e é considerada uma das primeiras faíscas do que viria a ser a guerra civil no interior da Colômbia, iniciada alguns anos depois.
As décadas de 1980 e 1990 também ficaram marcadas pela escalada da tensão política envolvendo as eleições no país. Em 1989, o então candidato do Partido Liberal, Luis Carlos Galán, foi morto pelo cartel de Medellín durante a campanha eleitoral. Ele era um dos favoritos na disputa. Meses depois, outros candidatos foram mortos: Bernardo Jaramillo Ossa (União Patriótica – UP) e Carlos Pizarro Leongómez (M-19, ex-guerrilheiro que se tornou candidato), assassinado em abril.
As eleições de 2022, que resultaram na vitória de Petro, também tiveram episódios de violência. De acordo com a Fundação Paz e Reconciliação (Pares), entre 13 de março e 13 de maio, 222 pessoas foram vítimas de violência eleitoral na Colômbia, sendo 29 assassinatos e 193 ameaças.
Segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz), somente no primeiro semestre de 2022 foram registradas 42 chacinas em todo o país e, após seis anos da assinatura dos Acordos de Paz, 1.624 ex-combatentes e líderes comunitários foram assassinados.