Entre os dias 19 e 30 de maio, eu e Lucas Estanislau, coordenador de internacional do Brasil de Fato, fizemos parte, a convite da Embaixada da China no Brasil e do Partido Comunista da China (PCCH), de uma delegação brasileira que visitou o gigante país asiático. Éramos cerca de 20 pessoas, entre jornalistas e integrantes de partidos brasileiros de um amplo espectro político. Estavam presentes o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialismo e Liberdade (Psol), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Partido Social Democrático (PSD). Em comum, todas as siglas compõem a base de apoio do governo Lula, em maior ou menor medida.
Beijing, Jinggangshan e Shangai foram as cidades que visitamos, cada uma representando características bem fortes da sociedade chinesa. Eram como espelhos. Beijing nos trouxe a perspectiva da história milenar da China, em monumentos suntuosos que estão ali para nos lembrar das sombras dos impérios que, em várias partes do mundo, espalharam tirania e exploração do povo. Mas também foi na capital que vimos manuscritos originais de Karl Marx no acervo do Museu do PCCH.
Em Jinggangshan, no alto das montanhas, conhecemos uma espécie de “cidade vermelha”. Berço do exército liderado por Mao Zedong, os símbolos do comunismo e, consequentemente, a sua história na China estão por todas as ruas da cidade. Incluindo a rua de compras, pois até as lembrancinhas de viagem são de temática revolucionária. Conhecemos a casa onde Mao viveu, as antigas instalações do exército e projetos atuais de revitalização e combate à pobreza rural. O “socialismo com características chinesas” foi tema constante dos diálogos da delegação brasileira com nossos anfitriões chineses.
Terminamos a viagem na cidade das luzes chinesas, a mais conhecida no Ocidente. Chegamos a Shangai carregando no imaginário as descobertas em tecnologia, e não nos frustramos. O alto desenvolvimento tecnológico está presente no cotidiano das pessoas. A cidade também é a principal sede de empresas que desenvolvem soluções em tecnologia em diversas áreas. Entre essas, conhecemos uma empresa liderada por jovens que desenvolveu ferramentas de inteligência artificial para seleção e recrutamento em processos seletivos.
É impossível, depois de tantos dias, não perder horas de pensamento sobre a complexidade e as contradições da sociedade e do Estado chinês. Uma economia planificada onde o Estado (e o Partido) controla a infraestrutura e os bancos, mantém pleno emprego, emprega uma vitoriosa luta contra a pobreza e, ao mesmo tempo, convive com o estímulo ao consumo, a existência de milionários e bilionários. Como explicar? Como entender a onipresente figura de Xi Jinping que preside a nação, elabora e implementa uma visão de Estado?
O Brasil de Fato mantém uma correspondência permanente na China há dois anos e meio e pretendemos avançar este ano, mirando numa pequena redação que funcione daquele lado do mundo. Porque é na China, em meio a muitas contradições, que se elabora o futuro da humanidade com bases multipolares. Um lugar onde tradição e modernidade se encontram, onde os conceitos da ciência política ocidental não podem ser aplicados. Um país dos carros elétricos, das árvores recém-plantadas, de muita comida ultraprocessada, de um povo muito amável e acolhedor. Um país onde nenhum atraso é tolerado.
Para seguir conhecendo mais histórias sobre a terra do meio, acompanhe o Brasil de Fato e o nosso correspondente Mauro Ramos, que toda semana traz notícias da China. E não se esqueça de apoiar nosso jornalismo, para podermos sempre chegar cada vez mais longe.
Xièxiè,
Monyse Ravena
Coordenadora de Áudio e Vídeo