A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concedeu o título de doutora Honoris Causa para a deputada federal e ex-governadora Benedita da Silva (PT). A cerimônia de entrega ocorreu na última segunda-feira (9) no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) do campus Praia Vermelha, na zona sul.
A homenagem reconhece a relevância da contribuição da parlamentar para a sociedade brasileira, em especial no enfrentamento do racismo, do machismo e da luta pelos direitos humanos. Desde os anos 1980, Bené é uma das vozes mais potentes e históricas do Partido dos Trabalhadores.
Entre as leis de sua autoria foram citadas a que inscreve Zumbi dos Palmares no Livro dos Heróis da Pátria, a que consagra o dia 20 de novembro como feriado da Consciência Negra, e a que inclui História e Cultura da África na grade do segundo grau. A Lei Aldir Blanc, que socorreu artistas na pandemia, também é de sua autoria. A proteção do trabalho doméstico e o enfrentamento à violência contra mulher também são marcas da atuação legislativa de Benedita.
Em seu discurso, a deputada relembrou emocionada sua trajetória, tendo que reafirmar sua dignidade como mulher negra e favelada. “O mundo nos queria mudas, quietas, dobradas, mas eu fui ficando mais sabida e mais abusada na marra, na fé e na força da esperança. Na favela, saber era precisar de solução, de comida, de abrigo, de rumo, a gente aprendia a se virar, a resolver, a não levar problema para casa. A gente aprendia a carregar junto com o fardo a dignidade de primeiro afirmar para o mundo que a gente era gente para depois brigar um pouco mais para ser reconhecida como cidadã”, disse Benedita.
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“A cada passo nessa minha metideza persistente eu fui levando a favela comigo. A gente não tem como sair para brigar pela nossa cidadania e deixar a favela dentro do barraco, a mulher escondida atrás da porta e a pretitude trancada no armário. Nas ideias, no gesto, na coragem, lá ia eu, a preta, a favelada, a mulher. Fui levando a minha gente no corpo, fui levando na alma a sabedoria das mulheres e das pretas que nunca podiam errar porque errar para nós era cair do abismo. A pobreza negra não permite o erro, quem vem de baixo sabe disso”, refletiu em um trecho do seu discurso.
No ano passado, a deputada também foi homenageada pelo Conselho Universitário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O título de doutora Honoris Causa é o mais importante concedido por uma instituição de nível superior.
Trajetória de muitas lutas
Aos 83 anos, Benedita da Silva já foi feirante e empregada doméstica. A parlamentar evangélica é uma das mais reconhecidas defensoras de direitos humanos na história da política brasileira.
Filha do operário José Tobias de Sousa e da lavadeira Maria da Conceição de Sousa, Bené nasceu em 1942 na favela da Praia do Pinto. Mudou-se com a família ainda nos primeiros meses de vida para a comunidade do Chapéu Mangueira, no bairro do Leme, na zona sul carioca, onde iniciou sua luta social.
Sua trajetória política é marcada por pioneirismos. Foi a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira no Senado Federal em 1995, a primeira governadora negra do país ao assumir o governo do Estado do Rio de Janeiro de 2002 a 2003.
Vereadora da cidade do Rio de 1983 a 1986; deputada federal em duas legislaturas consecutivas, de 1987 a 1994, cargo que voltou a exercer em 2010 até hoje. Foi ainda ministra da Assistência e Promoção Social no primeiro governo Lula.