Esgotadas todas as possibilidades de recursos em tribunais nacionais, a defesa da ex-presidenta da Argentina Cristina Fernández de Kirchner deve recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), segundo o jornalista argentino Yair Cybel, que acompanha o processo.
“A única instância que restaria agora é a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que tem poder de decidir, porque a Argentina tem tratados internacionais que a legitimam. E, atualmente, a defesa de Cristina vai tentar fazer isso”, informou o jornalista, que diz não haver surpresa na decisão da Suprema Corte.
“É composta por apenas três juízes. É a Suprema Corte mais fraca de toda a América Latina, dois deles nomeados por Mauricio Macri. E, obviamente, todo o processo judicial está viciado”.
Nesta quarta-feira (11), o Tribunal Federal que a condenou rejeitou o pedido dos procuradores de “detenção imediata” da ex-presidente. Segundo a lei argentina, Cristina Kirchner terá cinco dias para se apresentar às autoridades para o cumprimento da pena. Por ter mais de 70 anos, ela pode cumprir prisão domiciliar, o que depende de um pedido da defesa da ex-mandatária.
Movimentos populares articulam reação
Em conversa com o Brasil de Fato, Cybel informou que a vigília de apoiadores da ex-presidenta, que começou na noite de terça-feira (10), segue mobilizada nos arredores da residência onde Kirchner vive, em Buenos Aires. E lembra que em outros momentos da história, as adversidades promoveram longos processos de resistência do peronismo na Argentina.
“Aqui existe a lembrança da resistência peronista, 18 anos de perseguição ao peronismo, o berço dos movimentos guerrilheiros revolucionários, que foi um momento de fortíssimo levantamento insurrecional das organizações populares”, recordou o jornalista, agregando que a sentença de prisão contra Cristina Kirchner já tem produzido um forte descontentamento entre a população.
“Há um clima de muita raiva, muito ódio, muito ressentimento em relação às classes dominantes do país.”
Segundo Cybel, já houve uma série de bloqueio de vias por manifestantes contrários à prisão da ex-presidente, e as organizações sociais estão se mobilizando. Há previsão de uma grande mobilização, na quinta-feira (12), na região conhecida como Tribunales, na capital argentina, onde estão localizadas as sedes das instituições de justiça do país.
“A verdade é que tudo é muito dinâmico. Estamos passando por um momento sem precedentes e crucial na história da Argentina. Por isso, ainda estamos avaliando o que pode acontecer nos próximos dias”, finalizou o jornalista.