Há seis anos sem reajuste e com salário base abaixo do mínimo, servidores públicos do estado do Pará tentam usar a visibilidade da COP30 para cobrar reposição das perdas salariais, que somente no governo Helder Barbalho (MDB) chegam a 31%. No entanto, a avaliação de sindicalistas é que a força política do barbalhismo em parte da esquerda freia mobilizações populares e sindicais.
“Para nós, servidores, essa está sendo a ‘COP menos 30’, porque só na gestão do já acumulamos perdas salariais de 31%. E a secretária de planejamento [Hana Ghassan], que está sendo projetada para ser a nova candidata a governadora, sequer reuniu com os servidores”, denunciou Zaira Fonseca, coordenadora do Sindicato dos Docentes da Universidade do Estado do Pará (Sinduepa), um dos 13 sindicatos e das quatro federações que compõem a Federação dos Servidores Públicos do Pará.
Na terça-feira, dia 3 de junho, a Federação realizou manifestação em frente à Assembleia Legislativa do Pará. O objetivo foi tentar articular a retomada da campanha salarial 2025, após o governo de Helder Barbalho anunciar, no dia 15 de maio, que somente após a conclusão de estudos orçamentários a mesa de negociação poderia ser retomada. De acordo com o governo, os estudos seriam finalizados em agosto. O ato também foi em apoio à iniciativa da deputada Livia Duarte (Psol), que protocolou requerimento que propõe ao Executivo do Pará o envio de PL de revisão de vencimentos dos servidores.
Sindicatos ameaçam greve geral, mas a força eleitoral do barbalhismo é desafio
Desde o anúncio do governo Barbalho sobre a necessidade de estudos orçamentários, os sindicatos ameaçam articular nas bases uma greve geral. Até o momento, apenas o Sindicato dos Técnico-Administrativos da Uepa (Sintauepa) deflagrou greve cobrando cumprimento do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR).
A realidade de arrocho salarial, segundo Gildo Santos, servidor da Secretaria de Obras do Pará (Seop), prejudica a saúde e os projetos de vida dos servidores, mas por temor de assédio moral, muitos têm medo de denunciar publicamente o governo. “Esse servidor, que hoje vem tentando sorrir para as câmeras, tentando respirar, tentando sobreviver – porque nós estamos trabalhando com gastos bilionários, R$ 4,7 bilhões só para as obras da COP – está há seis anos sem reajuste”, observou.
Gildo afirma que muitos servidores estão atuando até os 75 anos, idade da aposentadoria compulsória, uma vez que o salário base, que conta para a aposentadoria, representa uma pequena fatia dos vencimentos, “e quando a pessoa se aposenta, ela não sabe como vai sobreviver”, destaca.

Atualmente, o vencimento base dos servidores públicos estaduais está abaixo do salário mínimo, no valor de R$ 1.320. E, apesar da resistência do governo em conceder reajustes, a visibilidade da COP tem contribuído para algumas conquistas. Foi o caso do Sindambiental, sindicato que representa servidores das secretarias ligadas à pauta ambiental. A entidade conseguiu, na terça-feira (3), a aprovação do PCCR na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).
“É um ano em que a gente tem uma vantagem do ponto de vista da discussão e do apelo em relação à questão ambiental. Mas se a gente tivesse cruzado os braços, nada sairia. E eu quero dar um recado para os servidores. Se a gente for esperar sentado em casa ou indo em um ato ou outro, a gente não vai conseguir a nossa data base. Vai amargar mais um ano de arrocho salarial”, provoca Daniel Francez, coordenador do Sindambiental.
Já para o professor Diego Machado, docente da Universidade do Estado do Pará (Uepa), é um desafio enfrentar a força eleitoral que o barbalhismo representa no único estado do Norte em que o bolsonarismo não venceu. A família de políticos ficou ainda mais forte após últimas eleições municipais, quando o MDB venceu em 82 dos 144 municípios paraenses. Boa parte dos sindicatos e das centrais têm na direção membros envolvidos com partidos. E isso pode, segundo ele, estar freando a articulação de uma greve geral.
“Levado pelos processos das últimas eleições, a gente entende que o barbalhismo tem se consolidado também na base de esquerda do nosso estado. Isso é importante da gente denunciar, porque isso acaba tocando também nas nossas lutas. Então, cada vez mais o governo promove um arrocho salarial, e não vemos uma resposta proporcional da esquerda”, argumenta Diego. Para ele, a própria participação fraca de deputados progressistas nos atos em favor da data base são sintomáticos. A Alepa conta com quatro deputados do PT, dois do PDT e uma do Psol, e só a psolista Livia Duarte é oposição aberta ao governo.
O Brasil de Fato entrou em contato com o governo estadual, que não se manifestou até a publicação deste texto. O espaço permanece aberto.