A decisão do presidente da Argentina, Javier Milei, de transferir a embaixada do país de Tel Aviv para Jerusalém em 2026, representa uma afronta aos direitos palestinos, consolidados por leis internacionais. A afirmação é do especialista em relações internacionais, Arturo Hartmann, membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos.
Em conversa com o Brasil de Fato, ele ressaltou que Jerusalém é um território em disputa. A anexação de parte da região por Israel aconteceu em 1967, após a Guerra dos Seis Dias e nunca foi reconhecida pelas Nações Unidas. “No momento em que se reconhece Jerusalém como capital de Israel, ignora-se essa contravenção”, ressalta Hartmann.
Milei anunciou a transferência na quarta-feira (11), durante visita a Israel. Segundo ele, a mudança ocorrerá no ano que vem. Atualmente, somente Estados Unidos, Paraguai, Guatemala, Honduras, Kosovo e Papua-Nova Guiné têm embaixadas em Jerusalém.
A maior parte das nações mantém a representação em Tel Aviv, em respeito às definições da comunidade internacional e como forma de não interferir no resultado das negociações entre israelenses e palestinos. Para Arturo Hartmann, a decisão de Milei reforça um posicionamento que naturaliza a violência como política, típico de governos autoritários.
“Tem um ponto que é muito atraente para os países mais autoritários, de extrema direita ou que enxergam a violência como algo natural: Israel é um laboratório. Porque o país pode praticar, elaborar e sofisticar essas formas de violência sem ser punido. Eles governam por meio da violência. Isso quando há uma situação de apartheid [como a Cisjordânia], no caso de Gaza, temos uma noção de extermínio, que vai muito além.”
Assim, Israel seria espécie de modelo para governos de extrema direita. Com a medida, Javier Milei coloca em prática um gesto diplomático para este grupo e um aceno à uma base de apoio conservadora. “Tem o que se pode chamar de simbologia política. O Milei, para a sua base e para a figura que ele quer construir politicamente, quer estar associado a Israel.”
Em 2017, o presidente estadunidense, Donald Trump, rompeu com décadas de consenso internacional ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel, reacendendo o debate sobre o tema. No Brasil, Jair Bolsonaro (PL), chegou a sinalizar mudança semelhante em 2018, antes mesmo de ser empossado presidente, mas nunca concretizou o plano.
Nas palavras de Arturo Hartmann, medidas assim têm efeito simbólico e isentam Israel de culpa pela violência. “Você reforça e fortalece a impunidade de Israel e vai destruindo, vai solapando os direitos palestinos. É uma provocação, uma ação diplomática que tem esse sentido mais prático político.”