O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa nesta semana da reunião do G7 no Canadá. Ele tem, segundo o professor Roberto Uebel, doutor em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), a expectativa de levar a posição brasileira pela paz e por um cessar-fogo entre Irã e Israel, envolvidos em mais um conflito de escala internacional. Convidado como observador, Lula também deve aproveitar a ocasião para reforçar o convite à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será sediada pelo Brasil, em Belém, em novembro deste ano.
“Os canadenses têm uma expectativa muito grande de que o G7 consiga firmar posição e ter, de fato, uma declaração condenando as hostilidades que hoje estão acontecendo no Oriente Médio”, afirma Uebel, em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, o Brasil pode contribuir sugerindo que o conflito seja mediado por um terceiro país ou organismo internacional. “A grande preocupação neste momento é evitar uma escalada do conflito, que obrigue o envolvimento das grandes potências como Estados Unidos, Rússia e China”, avalia.
O tema central da cúpula seria segurança energética, mas a tensão no Oriente Médio acabou ocupando o centro dos debates. “É uma guerra que envolve diretamente a principal commodity, que é o petróleo. E isso afeta diretamente os mercados, inclusive a COP30”, explica o professor. “O Canadá, que sedia o encontro, é um dos países mais preocupados com a transição energética, assim como o Brasil. Pode haver aí uma sinergia importante entre os dois governos”, acrescenta.
Diplomacia brasileira evita ruptura com Israel
Roberto Uebel também comentou sobre a pressão internacional para que o Brasil rompa relações com Israel, algo que o governo Lula tem evitado. “Não há tradição de rompimento de relações diplomáticas na política externa brasileira. Mesmo durante conflitos, como a Guerra do Paraguai, o Brasil manteve suas representações”, analisa.
Para ele, a diplomacia brasileira tende a manter um posicionamento pragmático e evitar medidas que possam comprometer interesses humanitários, econômicos e comerciais. “O Brasil tem representações diplomáticas tanto em Tel Aviv quanto em Teerã. Um rompimento teria um impacto muito ruim, não apenas para a diplomacia brasileira, mas também para os interesses econômicos e políticos que o país mantém com ambas as nações”, diz.
Além da reunião oficial do G7, o governo brasileiro pretende estabelecer contatos bilaterais com o Canadá, Alemanha, Coreia do Sul e, possivelmente, com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Lula também pode se encontrar com o presidente dos EUA, Donald Trump. “Esses encontros são mais protocolares e curtos, mas têm valor simbólico e político. O Brasil busca usar o G7 como plataforma de divulgação da COP30, que pode ser a última com capacidade real de transformação global”, pontua o professor.
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