A primeira vez em que tomei suco de juçara foi no território ancestral do Quilombo do Campinho, próximo a Paraty. Arrisco dizer que foi o mais maravilhoso que experimentei.
A palmeira juçara (Euterpe edulis) é considerada espécie símbolo da Mata Atlântica, mas corre sério risco de extinção devido à exploração predatória do seu palmito, frequentemente comercializado disfarçado de pupunha ou açaí. Assim como esta árvore contribui na segurança alimentar e na geração de renda para comunidades tradicionais, estes grupos também mantêm um papel crucial na conservação e no manejo da espécie, e têm reivindicado seu reconhecimento oficial.
Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, apresentei o Projeto de Lei 3.581/24, para tornar a palmeira juçara Patrimônio Histórico de natureza material do Estado do RJ. A medida é um passo em direção à preservação da espécie, fomentando benefícios como proteções legais e ferramentas educativas. Mas ainda precisamos de mais.
No início deste mês, tive a oportunidade de participar de uma experiência inspiradora: a Jornada da Natureza, no Paraná, uma iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que integra a luta pela Reforma Agrária Popular com ações de preservação ambiental, restauração do bioma da Mata Atlântica e produção de alimentos saudáveis.
Em sua terceira edição, o evento semeou 21 toneladas de sementes da palmeira juçara e de outras espécies nativas em diferentes municípios e Terras Indígenas do estado através de ações aéreas, como forma de massificação do reflorestamento, e de distribuição de sementes e mudas às famílias camponesas. A ação faz parte da campanha “Plantar árvores e produzir alimentos saudáveis”, que refloresta áreas degradadas para combater a crise climática e social. A meta é plantar 100 milhões de árvores até 2030.
Como paranaense que mora há mais de três décadas no Rio, muitos elementos me emocionaram durante minha passagem pelo evento. Mas, algo muito simbólico me fez refletir sobre o lugar que os organismos públicos vêm ocupando na luta para virar o jogo contra a catastrófica crise climática, e, mais ainda, na construção de nossas realidades cotidianas. Enquanto a Polícia Rodoviária Federal (PRF) participava ativamente da semeadura aérea das sementes, fiquei pensando nas diversas crianças cariocas que acordam sob o barulho de helicópteros que denunciam a guerra urbana em que vivemos. Que contraste! O helicóptero policial que nas periferias urbanas costumam anunciar violência e morte, ali semeiam vida.
Por que não aprender com as boas iniciativas? O exemplo de esperança no Paraná pode (e deve) se expandir para outros territórios. Como militante e parlamentar, voltei ao Rio de Janeiro com a importante tarefa de replicar, neste estado que há anos me acolhe, essa experiência de reprodução da vida protagonizada pelo meu território natal. Natureza viva é povo forte. E reflorestar é resistir.
*Marina do MST (PT) é deputada estadual do Rio de Janeiro, preside a Comissão de Segurança Alimentar da Alerj.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato.