O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou, nesta terça-feira (17), a intensificação dos ataques de Israel à Faixa de Gaza e ao Irã. Em discurso durante a sessão ampliada da Cúpula do G7, no Canadá, Lula classificou como “matança indiscriminada” a ofensiva israelense contra a população palestina e denunciou o uso da fome como arma de guerra. As declarações vão contra a posição do grupo divulgada no dia anterior.
“Em Gaza, nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças e o uso da fome como arma de guerra”, afirmou o presidente, diante dos líderes das principais potências mundiais reunidos em Kananaskis. Lula também criticou o silêncio internacional diante da repressão em curso: “Há países que ainda resistem em reconhecer o Estado palestino, o que evidencia sua seletividade na defesa do direito e da justiça.”
Na segunda-feira, os líderes do G7 – EUA, Canadá, Itália, Reino Unido, França, Alemanha e Japão – divulgaram declaração apoiando Israel e condenando a suposta ameaça do Irã, considerado no documento uma “fonte de instabilidade e terror” no Oriente Médio.
A fala de Lula ocorre em meio a uma nova escalada no Oriente Médio. Desde a última sexta-feira (13), bombardeios israelenses no Irã deixaram ao menos 224 mortos e cerca de 1,2 mil feridos, segundo o Ministério da Saúde iraniano. O governo do Irã reagiu, lançando ataques que mataram 20 pessoas em Israel.
Lula advertiu que os recentes ataques israelenses ao Irã “ameaçam fazer do Oriente Médio um único campo de batalha, com consequências globais inestimáveis”. Para o presidente, “não haverá segurança energética em um mundo conflagrado” e é urgente devolver protagonismo à Organização das Nações Unidas (ONU), com a formação de um grupo representativo de países comprometidos com a paz.
O presidente brasileiro também apontou os gastos militares globais como um sintoma da desordem internacional. Segundo ele, os investimentos em armas alcançam o equivalente ao Produto Interno Bruto da Itália, cerca de US$ 2,7 trilhões por ano. “São 2,7 trilhões de dólares que poderiam ser investidos no combate à fome e na transição justa”, afirmou.
Sobre a guerra na Ucrânia, Lula declarou que “nenhum dos lados conseguirá atingir seus objetivos pela via militar” e defendeu o diálogo como único caminho para um cessar-fogo e para a construção de uma paz duradoura.
Pressão popular por medidas concretas
A participação de Lula no G7 acontece sob pressão de movimentos populares pró-Palestina no Brasil, que lançaram um abaixo-assinado exigindo medidas concretas do governo brasileiro, como o rompimento imediato das relações com Israel.
No final de semana, enquanto o Canadá se preparava para receber os líderes do G7, milhares de manifestantes saíam às ruas em diversas cidades brasileiras e capitais internacionais, em apoio ao povo palestino.
O cenário também é de repressão a iniciativas internacionais que desafiam o cerco israelense. Neste domingo (15), forças egípcias dispersaram com violência a Marcha Global para Gaza na fronteira de Rafah. Na semana passada, ativistas da Flotilha da Liberdade, entre eles a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila, foram presos pela Marinha de Israel. Eles tentavam levar ajuda humanitária por mar até a Faixa de Gaza.
Defesa da transição energética e soberania sobre minerais
Lula também utilizou a tribuna do G7 para apresentar a experiência brasileira em energia limpa e para defender a soberania dos países em desenvolvimento sobre seus recursos naturais.
“O Brasil foi o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis. 90% de nossa matriz elétrica provém de fontes limpas”, lembrou o presidente.
Ao destacar as reservas estratégicas de minerais como nióbio, níquel, grafita e terras raras, Lula criticou modelos extrativistas do passado: “Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastros de destruição e miséria para muitos.” Ele defendeu que o beneficiamento das matérias-primas ocorra nos próprios países produtores, como forma de romper com a lógica de dependência econômica.