Uma pesquisa socioambiental realizada com moradores de Volta Redonda, município da região sul fluminense, evidencia os impactos da poluição industrial causada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a mais antiga do país.
A maioria dos 334 entrevistados residem no município há mais de 10 anos e relataram que houve piora na emissão de “pó preto” no ar pela siderúrgica. Mais de 90% afirmaram que a poluição piorou ou continua igual a 2024.
O Movimento Ética na Política de Volta Redonda (MEP-VR) divulgou o levantamento sobre a percepção dos moradores nesta terça-feira (17). Em 2023, o Brasil de Fato mostrou que o “pó preto” é, na verdade, formado por micropartículas de ferro que, soltas no ar, tem relação com doenças respiratórias.
Segundo a pesquisa do MEP, 93% afirmou conviver com a presença de poeira preta ou escura em superfícies; 79% notaram um aumento de problemas respiratórios como tosse, alergias e irritação; 68% observaram fumaça densa ou colorida saindo de chaminés da siderúrgica; e 57% sentiram impactos mais graves na saúde, como sensação de ar pesado e dificuldade de respirar.
Além disso, também foram registrados acúmulo de lixo, mudança na coloração da água, barulho excessivo e cheiro desagradável. A pesquisa foi conduzida pela professora Ana Paula Vasconcelos Gonçalves da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) entre os dias 5 e 12 de junho.
Ao Brasil de Fato, Pedro Paulo Vidal, coordenador da equipe socioambiental do MEP, afirmou que a iniciativa traz para o centro do debate a população que vive diariamente os impactos da atividade industrial poluente.
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“Quando você está discutindo sobre impactos ambientais, racismo ambiental, poluição, é muito importante saber o que a população está sentindo, o que ela está vendo, o que ela percebe, como a poluição, os impactos ambientais estão chegando nesse cidadão. A gente tem tentado fazer pesquisas socioambientais de maneira regular, pelo menos anualmente. É muito difícil obter dados científicos sobre a poluição, porque é uma coisa tão grande, tão diversa que para você ter dados, estatísticas sobre isso, você tem que ter toda uma estrutura que infelizmente nós não contamos, mas dentro do possível tentamos saber algumas informações sobre os impactos ambientais na nossa cidade”, disse Vidal.
Fiscalização insuficiente
A deputada estadual Marina do MST (PT) protocolou na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) uma indicação para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) atuar diante da poluição industrial. Segundo a parlamentar, a iniciativa é necessária porque o órgão estadual, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), não tem cumprido com responsabilidade a função de fiscalização.
“Me sinto muito triste de ver essa cena de poluição do pó preto que todos os dias traz muitos problemas e muitas consequências de saúde para o nosso povo aqui. Que essa indicação [legislativa] incentive o Ibama a nos ajudar nesse processo de fiscalização contra essa poluição industrial, principalmente da CSN em Volta Redonda”, afirmou Marina em vídeo nas redes sociais.
A mesma crítica também vem dos moradores: “o Inea não tem atendido de maneira satisfatória os anseios da população por uma Volta Redonda mais equilibrada do ponto de vista de combate à poluição”, disse o morador do município Pedro Paulo Vidal.
Monitoramento de poluentes
Na última semana, o deputado estadual Flavio Serafini (Psol) foi à Brasília tratar do monitoramento das emissões de gases de efeito estufa no estado do Rio.
“Hoje, o inventário estadual subestima drasticamente as emissões, especialmente do setor industrial. Isso não é detalhe técnico, é omissão que favorece grandes poluidores como a Ternium, em Santa Cruz, e a CSN, em Volta Redonda, duas das maiores siderúrgicas da América Latina”, afirmou Serafini em suas redes sociais.
“A Ternium sozinha emite praticamente o mesmo que toda a cidade do Rio. Mas o governo do estado finge que não vê”, detalhou o parlamentar sobre a siderúrgica localizada em Santa Cruz, zona oste do Rio, antiga TKCSA.
A reportagem questionou a CSN e o Inea sobre o que tem sido feito para medir e reduzir os impactos da atividade industrial. Até o fechamento, apenas a siderúrgica respondeu. O espaço segue aberto para um posicionamento.
O que diz a CSN
Em nota ao Brasil de Fato, a companhia afirmou que a qualidade do ar em Volta Redonda apresentou melhora. “Dados oficiais de monitoramento do Inea indicam que a qualidade do ar esteve classificada como ‘boa’ em 99,75% do tempo e regular em 0,25%”.
Informa ainda que, em fevereiro de 2024, iniciou o monitoramento de partículas sedimentáveis (PS) em oito pontos distribuídos pela cidade, em locais definidos em consonância com o Inea e com aprovação do órgão ambiental.
Segundo a empresa, desde então “foi registrada uma redução expressiva de 68% na taxa de material sedimentado”. Por fim, citou ações para mitigar as emissões de particulados e assegurar o atendimento aos limites estabelecidos pela legislação ambiental.
“Esse avanço é resultado de uma série de medidas adotadas pela Companhia, com destaque para as reformas programadas nas três sinterizações da Usina Presidente Vargas, concluídas ao longo de 2024. Paralelamente, a CSN está implantando três novos filtros eletrostáticos de alta tecnologia, estruturas com cerca de 30 metros de altura, capazes de reter partículas sedimentáveis (o chamado ‘pó’). Outras iniciativas complementam esse esforço, como a aplicação de polímeros nas pilhas de matérias-primas e de carvão, além do uso de tecnologias avançadas de limpeza. A CSN também reforçou o controle das emissões com a aquisição de 10 novos canhões de névoa, mais potentes que os modelos anteriores”, diz o texto.