A condenação definitiva da ex-presidente da argentina Cristina Kirchner a seis anos de prisão domiciliar por corrupção, confirmada pela Corte Suprema da Argentina, levou milhares de pessoas às ruas de Buenos Aires em sua defesa. Para a jornalista Érika Gimenez, coordenadora da ARG Medios, o momento pode representar uma oportunidade de reorganização para o campo popular.
“A Corte diz é que ela sustenta, mesmo sem provas de atos ilícitos diretos de Cristina, que ela responda por permitir ou não permitir tais atos. Ou seja, ela é condenada por ser presidente no momento em que ocorriam obras na província do sul da Argentina, que favoreceu uma pessoa. […] Não tem nenhuma prova direta de que ela favoreceu a essa pessoa e esses 500 milhões de dólares desviados”, explica Gimenez, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
A decisão judicial impede Kirchner de concorrer às eleições legislativas deste ano. Segundo a jornalista, trata-se de um caso típico de lawfare, tese adotada pela defesa da ex-presidente. “É o uso político do Judiciário para desestabilizar a participação política futura. […] Os juízes são muito próximos do ex-presidente Mauricio Macri. Inclusive, alguns procuradores que participaram do caso, jogavam padel com eles na residência oficial de Olivos”, destaca.
Apesar disso, Gimenez afirma que o clima nas ruas de Buenos Aires, onde milhares se mobilizaram nesta quarta-feira (18), não era de tristeza. “Foi um clima de esperança nas ruas. Isso é importante porque nesse momento o governo [do presidente Javier] Milei é triste, a economia está muito difícil, e as pessoas estavam felizes. Têm uma causa, pelo menos, para continuar a luta”, relata. Em prisão domiciliar, Kirchner participou do ato por meio de uma plataforma de reuniões por vídeo.
Para ela, a reação popular pode abrir caminho para um novo ciclo de articulação política no país. “É uma oportunidade também para o peronismo, para a esquerda popular também, para se reunificar nesse momento que é difícil, mas é possível”, observa. Ela explica que Kirchner tem aliados importantes, como Axel Kicillof, Juan Grabois e Pedro Guadalupe, que vinham tendo disputas internas. “Agora acho que isso arruma toda a unidade”, avalia.
As eleições legislativas argentinas ocorrem em outubro, com disputa acirrada prevista especialmente na província de Buenos Aires. “O desafio será converter esse impulso, não só eleitoral, mas político também, que dê respostas à população toda. Mas com uma unidade forte, federal, em todo o país, peronista, da esquerda popular, acho que dá”, conclui a jornalista.
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