A justiça argentina autorizou a ex-presidenta Cristina Kirchner a usar a varanda do próprio apartamento durante o cumprimento de prisão domiciliar, após ser condenada a seis anos por alegações de corrupção. A defesa da ex-mandatária denuncia graves irregularidades no processo que levou à condenação, questionando a imparcialidade dos juízes e promotores, mencionando até encontros pessoais com figuras políticas opositoras como Mauricio Macri e Patricia Bullrich.
A dúvida sobre se ela poderia utilizar a sacada para se dirigir aos apoiadores surgiu a partir das regras relacionadas à pena, que impõem a ela a obrigação de “abster-se de adotar comportamentos que possam perturbar a tranquilidade do bairro”.
Mas a autorização foi combinada nesta quinta-feira (19) pelo tribunal responsável pela execução da pena. A controvérsia começou na terça-feira (17), quando um tribunal concedeu a Kirchner a prisão domiciliar sem especificar se ela poderia continuar saudando seus apoiadores da varanda, como tem feito diariamente desde que a Justiça ratificou, na semana passada, sua condenação.
Desde então, centenas de apoiadores de Kirchner têm se reunido diante do edifício onde ela vive em Buenos Aires e passam longas horas em sinal de apoio à ex-presidenta, com a expectativa de vê-la aparecer na varanda do segundo andar. Nesta quarta-feira (18), dezenas de milhares de manifestantes se reuniram na Praça de Maio e marcharam até o apartamento de Kirchner para demonstrar apoio.
“Posso ou não posso sair na varanda da minha casa? Parece piada, mas não é”, escreveu Kirchner nas redes sociais na quarta, e pediu ao tribunal que esclarecesse “qual comportamento está proibido”.
O tribunal respondeu nesta quinta-feira que “não vetou” a Kirchner “o uso e gozo de nenhum espaço específico da arquitetura do imóvel em que reside”, segundo a decisão à qual a AFP teve acesso. A Procuradoria-Geral de Buenos Aires havia se posicionado contra a presença de Kirchner na varanda de seu apartamento, alegando que isso poderia gerar distúrbios na ordem pública e na segurança.
Enquanto isso, o juiz também solicitou que “se proceda à instalação de um dispositivo eletrônico de vigilância”, conforme outro documento judicial reproduzido pela imprensa local, após dias de críticas de apoiadores de Kirchner que consideraram a medida desnecessária.
O advogado de Kirchner, Carlos Beraldi, adiantou nesta quinta-feira, mais cedo, que irá recorrer da medida.
*Com AFP