O professor Hector Luis Saint Pierre, especialista em segurança internacional do programa San Tiago Dantas, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirmou em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, que o atual momento do conflito entre Israel e Irã representa um “ponto de inflexão” e exige uma saída diplomática urgente. “É um momento propício para a negociação”, defende. Para ele, a escalada do conflito pode ter consequências devastadoras, chegando inclusive a uma terceira guerra mundial.
“O que ele está dizendo é correto”, afirma o professor, ao comentar a fala do presidente da Rússia, Vladimir Putin, que manifestou, nesta sexta-feira (20), preocupação com o risco de o mundo caminhar para uma terceira guerra mundial. “Se os Estados Unidos chegarem a entrar [na guerra], será muito difícil conter esse conflito armado no terreno no qual a disputa está acontecendo”, indica Saint Pierre.
De acordo com ele, isso acontece porque outros países podem ingressar no conflito, gerando um impacto econômico global. “A Índia ou o Paquistão, que já estão em uma situação de atrito, podem entrar. A China tem interesses econômicos no Irã. O Estreito de Ormuz [rota essencial do petróleo], que está dominado pelo Irã, pode ser fechado. […] Isso significaria uma crise internacional pela qual outros países seriam convocados ou seriam arrastados para esse conflito”, explica.
O professor pondera que, apesar de coerente, a declaração de Putin pode ser, em parte, um “blefe”. “Para a Rússia, interessa mais um fechamento diplomático das condições bélicas neste momento. Para todo o mundo convém que isso se acabe diplomaticamente, talvez menos para [o primeiro-ministro israelense] Netanyahu, porque a manutenção desse governo depende da continuação da guerra. Mas para o resto dos países seria uma solução diplomática. E eu vejo um pouco complicado neste momento essa saída”, avalia.
O professor também alerta para o risco de um possível assassinato do líder supremo iraniano Ali Khamenei, sugerido por autoridades israelenses. “Certamente isso acenderia ainda mais o conflito. […] Forças sociais emergem do próprio tecido social para buscar vingança por outros caminhos, como os ataques guerrilheiros”, indica.
Israel age ilegalmente
Segundo o especialista, o ataque israelense ao Irã configura uma agressão ilegal que contraria a Carta das Nações Unidas. “Foi um ataque de agressão, claramente, ao artigo 51 da Carta das Nações [que estabelece o direito de legítima defesa no caso de um ataque armado], por Israel, com a pretensa ideia de que o Irã estaria muito próximo de construir uma bomba nuclear”, afirma. “Essa justificativa não se sustenta legalmente.”
Saint Pierre destaca que o Irã, ao contrário de Israel, é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e permite visitas da Agência Internacional de Energia Atômica. “Não há nenhum motivo para pensar que o Irã tenha algum dispositivo [nuclear]”, diz. “A própria inteligência norte-americana afirma que o Irã não tem condições de chegar ao armamento nuclear.”
Sociedade internacional desmoralizada
Para o pesquisador, o apoio internacional irrestrito a Israel tem desmoralizado as normas diplomáticas globais. “Essa série de agressões impunes de Israel está criando uma sociedade internacional desmoralizada, onde se perdeu a conduta da ética diplomática internacional”, analisa.
Saint Pierre critica o enfraquecimento do Estado de bem-estar social na Europa em nome de gastos militares e a fragilidade das lideranças ocidentais. “Infelizmente, nunca houve na história lideranças de tão baixo nível, de tão baixa qualidade na Europa”, opina.
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