A presença de idosos em regiões com boa infraestrutura urbana é reflexo de um novo perfil da população acima dos 70 anos. Para Daniel Claudino, especialista em mercado imobiliário, essa faixa etária tem buscado qualidade de vida e autonomia, o que exige adaptações nos espaços urbanos e nas moradias. No entanto, ele aponta que ainda há escassez de imóveis realmente voltados para idosos, principalmente os que aliam acessibilidade a preços acessíveis.
“Plantas maiores exigem um imóvel mais caro, e um imóvel mais caro, ainda que a pessoa mais velha tenha, em regra, condições financeiras mais resolvidas, acaba não tendo subsídio do Estado”, indica, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “Um imóvel de até R$ 500 mil, numa área bem localizada em São Paulo, provavelmente vai ter que ser muito pequeno”, diz Claudino. Segundo ele, será necessário um novo olhar tanto do poder público quanto das construtoras. “Essa nova massa que está chegando agora, 70+, vai ter que ter um olhar do Estado e das construtoras diferente”, defende.
O especialista explica que o urbanismo de uma cidade ou até as plantas que são construídas em edifícios novos, lançamentos imobiliários são reflexo de realidade construída em 1950, após a Terceira Revolução Industrial. De acordo com ele, essa realidade “é pautada na perspectiva de que uma pessoa com 60 anos é considerada idosa, tem dificuldade de locomoção e para isso existem asilos públicos, sociais e asilos privados pensando em acomodar esse perfil”.
Mas ele reforça que hoje “estamos vivendo uma nova realidade: pessoas com 70 anos estão ativas, produtivas, estão circulando e querem viver, lógico, com algumas adaptações”. O especialista destaca que alguns bairros e empreendimentos, como quadras em Brasília ou condomínios fechados com comércio interno, já atraem esse público. “Os novos bairros estão sendo pensados para esse público de 70, 80 anos, que continua mais do que nunca presente na nossa realidade, dada justamente a modernização da medicina, da saúde e da nossa sociedade”, afirma.
Claudino indica que um dos componentes considerados na procura de imóveis para essa faixa de idade é a acessibilidade, que deve ser considerada pelas construtoras. “Isso se reflete até na altura da tomada, na largura das pistas – porque eles continuam dirigindo carros, mas querem ter menos dificuldade na hora de transitar com os veículos – e sobretudo acesso a serviços públicos e privados, como o comércio. Eles querem ter uma mobilidade maior dentro de seus imóveis e fora deles”, exemplifica.
A Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que 93% dos idosos com mais de 70 anos de idade moram em áreas com maior mobilidade urbana. De acordo com essa pesquisa, 36% residem em regiões com pelo menos 5 árvores no entorno e 93% vivem em vias mais largas. Os dados mostram uma preferência pela boa mobilidade, arborização e infraestrutura urbana.
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