O dia 24 de junho marca o dia do São João, ápice das festas juninas no Brasil, com homenagens a São João Batista. Por trás das bandeirinhas, das quadrilhas e do milho cozido, existe uma história que antecede o calendário cristão e atravessa séculos de transformações culturais.
“A origem da festa junina é bem anterior ao calendário católico. Ela foi assimilada pela Igreja, mas era, originalmente, uma celebração pagã de colheita, ligada ao solstício de verão no Hemisfério Norte”, explica Juliana Hermegildo, pesquisadora, quadrilheira e doutoranda em Comunicação na Universidade Federal do Ceará (UFC), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo Hermegildo, os primeiros registros desse tipo de festa vêm da Península Ibérica, com influências celtas e de outros povos camponeses europeus. Nessas celebrações, era comum acender fogueiras para agradecer pela colheita e pedir proteção contra maus espíritos. “Com a expansão da Igreja Católica, houve uma assimilação dessas práticas. Coincidiu com a data de um dos santos mais celebrados, que é São João. Diz a tradição que a mãe dele acendeu uma fogueira para anunciar seu nascimento”, relata.
Com a colonização portuguesa, a festa foi trazida ao Brasil e ganhou novas formas. “No Nordeste, temos o período chuvoso. Celebramos São José, o santo das chuvas, e começamos as colheitas de feijão e milho, que acontecem no fim de maio para o início de junho. Então houve esse casamento com a origem da festa”, conta Juliana. Ela destaca também o papel das heranças indígenas e africanas na celebração. “As nossas comidas típicas têm muito dessas heranças”, afirma.
Identidade nordestina e tradição cultural
A tradição junina ganhou raízes profundas no Nordeste. “Cada estado tem sua particularidade. O São João do Maranhão é comemorado com o Bumba meu boi. No Ceará e em Pernambuco, temos uma característica forte das quadrilhas juninas, inclusive eu sou brincante. Cada um criou um pouco de uma identidade própria, mas o São João une todos os novos Estados do Nordeste”, aponta Juliana Hermegildo.
Mais do que uma festa religiosa, o São João hoje é uma potência cultural e econômica. “É uma economia criativa forte. Saindo das festas de marketing, dos grandes shows, a festa na rua, onde acontecem os festivais de quadrilha, pequenos shows com bandas regionais, tem as barraquinhas de comida típica, as praças são ocupadas. É uma festa que se mobiliza muitas pessoas, muitos profissionais, e é o mês inteiro, podendo se estender no Ceará até o fim de julho ou começo de agosto”, diz a pesquisadora.
Ao longo do tempo, o São João se transformou, mas manteve o seu espírito coletivo. “Estamos sempre em constante movimento, e é isso que é a festa de São João: o coletivo, a sociabilidade, essa coisa linda que ela faz com a gente”, descreve. “É uma festa unânime, muito mais forte do que carnaval. […] A cada dez pessoas, nove curtem e gostam do São João no Nordeste”, conclui.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.