O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) disse que Israel utilizou um local de ajuda humanitária em Gaza como emboscada para matar 410 palestinos que buscavam comida.
Os suprimentos estavam sendo entregues pela Fundação Humanitária de Gaza (FHG), a única organização permitida por Israel a entregar ajuda no território, apoiada por Tel Aviv e Washington. Desde que o modelo de distribuição de alimentos por meio da organização foi implementado pelo país do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em 26 de maio, a morte de palestinos se tornou rotina nas filas da FHG.
Em 2 de junho, 31 civis morreram. No dia seguinte, mais 27 palestinos foram mortos. No dia 17 do mesmo mês, outras 51 pessoas foram assassinadas nas mesmas condições. Agora, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais 410.
O porta-voz da agência, Thameen Al-Kheetan, disse que o país do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu “instrumentalizou” a comida para civis na Faixa de Gaza, usando-a como uma espécie de “arma” contra a população.
“A instrumentalização da comida contra civis, além de restringir ou impedir o acesso a serviços essenciais para a sobrevivência, constitui um crime de guerra e, em determinadas circunstâncias, pode representar elementos de outros crimes, segundo o direito internacional”, afirmou Al-Kheetan.
“Pessoas desesperadas e famintas em Gaza continuam enfrentando a escolha desumana de morrer de fome ou correr o risco de serem mortas ao tentar conseguir comida”, enfatizou.
Na mesma linha, Philippe Lazzarin, chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), afirmou recentemente que o mecanismo israelense de entrega de ajuda em Gaza é uma “abominação” e uma “armadilha mortal”. “O chamado mecanismo de ajuda, criado recentemente, é uma abominação que humilha e degrada pessoas desesperadas. É uma armadilha mortal, que custa mais vidas do que salva”, declarou Lazzarini.
Essa é uma das declarações mais contundentes da ONU sobre o assunto desde que Israel implantou um modelo único de distribuição de ajuda humanitária na região, por meio da Fundação Humanitária de Gaza. O presidente da organização é o reverendo estadunidense Johnnie Moore, pastor de extrema direita pró-Israel.
A ONU e outras entidades internacionais se recusam a cooperar com a fundação e alegam que a FHG viola princípios básicos de ajuda humanitária, realizada com a presença de soldados israelenses. Além dos mortos, a organização internacional aponta que pelo menos 3,6 mil palestinos ficaram feridos em casos de ataques ligados à entrega de ajuda humanitária.
Desde a intensificação dos ataques de Israel à Faixa de Gaza, após um ataque do grupo político-militar Hamas em território israelense em outubro de 2023, ao menos 56 mil palestinos foram mortos e outros 130 mil feridos, sendo a maioria mulheres, crianças e adolescentes, conforme dados do Ministério da Saúde do território.