Apesar do clima de tensão no Oriente Médio, com a guerra entre Irã e Israel e o ataque dos Estados Unidos, o economista José Oreiro acredita que a chance de uma escalada real do conflito é pequena. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele destaca que os últimos episódios têm mais a ver com simbologia política do que com ofensivas militares concretas.
“Teve uma grande encenação, muito provavelmente até mesmo por parte do [presidente] Donald Trump, que tinha que prestar algum auxílio a Israel”, analisa Oreiro. Segundo o professor, o Irã já havia retirado materiais estratégicos antes dos bombardeios dos EUA, e a retaliação iraniana com mísseis foi limitada e previsível. “O Irã também precisa dar uma resposta para o seu povo, aí lançou seis mísseis, que nem são os hipersônicos. […] Então acho que essa crise está caminhando para se ‘desescalar’, embora possa ainda perturbar durante algumas semanas”, avalia.
A possibilidade de fechamento do Estreito de Ormuz, rota por onde passa cerca de 20% do petróleo global, também foi considerada improvável pelo economista. Embora o parlamento iraniano tenha aprovado a medida neste domingo (22), Oreiro lembra que a decisão final cabe ao líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e que a medida prejudicaria não só os seus adversários, mas também aliados como a China, que depende do petróleo iraniano. “O que o parlamento do Irã fez ontem foi simplesmente falar para a plateia”, sugere.
Brasil é favorecido
O professor também pontua que, até o momento, o Brasil tem se beneficiado economicamente com a atual configuração do conflito. Isso se deve à valorização do real frente ao dólar e ao fato de o país ser exportador de petróleo. Com a alta nos preços internacionais, a entrada de dólares na economia brasileira aumenta, contribuindo inclusive para a arrecadação federal via dividendos da Petrobras.
“A guerra entre Israel e Irã, do ponto de vista macroeconômico, não tem sido ruim para o Brasil; pelo contrário”, aponta. “O Brasil se coloca como um país que pode atender uma parte da demanda mundial de petróleo e, no caso de um eventual fechamento do Estreito de Ormuz, daqueles que não sejam atendidos pelos países do Golfo Pérsico”, afirma.
Oreiro defende que o país está mais preparado hoje para lidar com possíveis impactos externos do que esteve no passado. “O Brasil de hoje não é o Brasil dos anos 70. Nós não temos dívida externa, somos credores em dólares”, aponta.
O economista reconhece que, embora seja possível ao Brasil manter certa autonomia frente à volatilidade externa, não há como se dissociar completamente da paridade internacional nos preços dos combustíveis. Entretanto, como o real tende a se valorizar com o aumento das exportações, essa movimentação pode ajudar a manter os preços internos relativamente estáveis no médio prazo.
Segundo ele, os próprios preços do petróleo no mercado internacional indicam que os investidores não esperam um agravamento do cenário, evitando uma “terceira crise do petróleo”. Após leve alta, o barril voltou a cair, o que reforça a leitura de que há contenção no conflito. “Se realmente o ataque norte-americano fosse escalar o conflito, o que nós deveríamos ter observado seria uma subida significativa do preço do petróleo, mas isso não aconteceu”, explica.
Conflito só interessa a Netanyahu
Para o economista, o único líder que parece interessado na escalada da guerra é o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. “Antes dos ataques de Israel ao Irã, Netanyahu quase foi deposto. Ele precisa da guerra para se manter no poder”, observa, repetindo a avaliação feita pelo ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, sobre a guerra. “Os americanos, os europeus e os chineses precisam dizer o seguinte: ‘Filho, fica quieto. Agora os adultos estão na sala e vamos resolver essa lambança que vocês fizeram’”, ironiza Oreiro.
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