Seis meses após a morte do mestre de capoeira Itamar da Silva Barbosa, conhecido como Mestre Peixe, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (CDDHC/Alerj) voltou a cobrar respostas do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, localizado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Um ofício já havia solicitado esclarecimentos ao município pela alegação de negligência médica envolvendo o caso do mestre de Capoeira Angola, mas nunca foi respondido. Desta vez, o documento se estende à Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias.
O documento faz uma série de questionamentos sobre o caso: por que o hospital teria classificado o quadro de Mestre Peixe como de baixa gravidade, por que não foi solicitado leito hospitalar, quais providências foram tomadas para apurar as circunstâncias da morte e quais explicações foram prestadas à família.
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Familiares e pessoas próximas relataram que a equipe médica ignorou sinais de agravamento de seu quadro clínico, e que não teria prestado nem os cuidados básicos ao paciente. A presidente da Comissão na Alerj, deputada Dani Monteiro (Psol), considera que o caso acende um alerta sobre a situação da saúde pública no estado.
“A morte do Mestre Peixe representa não apenas uma perda irreparável para a cultura e para a comunidade da capoeira, mas acende também um alerta urgente sobre a saúde pública no Estado do Rio e, em especial, ao tratamento dado às vidas de Mestres e Mestras da cultura negra e popular, que, muitas vezes, morrem sem dignidade, condições básicas e reconhecimento mínimo do Estado. Não podemos normalizar a negligência institucional. Exigimos respostas e responsabilizações”, afirmou Monteiro.
O ofício foi enviado com base na Lei de Acesso à Informação (LAI) e na competência da Comissão para apurar possíveis violações de direitos humanos. O Brasil de Fato procurou a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias para um posicionamento, mas ainda não houve retorno.
Relembre o caso
Itamar Barbosa sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em sua casa no dia 2 de janeiro e foi levado por familiares para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes. Segundo a família, o Mestre Peixe foi vítima de negligência médica.
O Brasil de Fato mostrou que a entrada do capoeirista no Centro de Terapia Intensiva (CTI) ocorreu mediante liminar judicial dias após dar entrada no hospital. Enquanto seu quadro clínico se agravava, Itamar foi deixado no corredor sem nenhum monitoramento.
Desde então, a deputada estadual Marina do MST (PT) e Dani Monteiro (Psol) têm cobrado da Secretária Municipal de Saúde e a Prefeitura de Duque de Caxias apuração de possíveis negligências durante o atendimento.
Itamar nasceu na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e deu os primeiros passos na capoeira em 1972, aos 12 anos. No dia 13 de junho de 1973, junto com outros amigos capoeiristas, fundou a roda de rua mais antiga do estado do Rio em atividade até hoje, a Roda Livre de Caxias, realizada na Praça do Pacificador e declarada Patrimônio Imaterial da cidade de Duque de Caxias em 2016. Mestre Peixe era um dos coordenadores do Grupo Unificar de Capoeira Angola (GUCA).