Um novo episódio de chuva excessiva no Rio Grande do Sul durante o fim de semana vai trazer alagamentos e agravar a situação das cheias no estado. A informação é da MetSul Meteorologia, confirmada pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
A chuva em grandes volumes vai ocorrer no momento em que alguns rios do estado estão com os seus níveis muito altos, alguns ainda acima da cota de inundação – como é o caso do rio dos Sinos, em São Leopoldo. A empresa de meteorologia alerta que a situação pode evoluir para um cenário muito grave e crítico em algumas localidades, com especial preocupação com a região Metropolitana. Apesar da magnitude das cheias, a calamidade vivenciada pelos gaúchos em maio de 2024 não deve se repetir.
Confira abaixo a situação prevista para os rios do estado:
Em Porto Alegre, o Guaíba apresentou estabilização nas últimas 24h e pequena redução nas últimas horas, estando em 3,39 metros na régua da Usina do Gasômetro às 16h. Os cenários de previsão do IPH indicam que os níveis permanecerão elevados, acima da cota de alerta (3 metros), ao longo dos próximos dias e da semana que vem. Considerando as chuvas previstas para o final de semana, podem ocorrer elevações adicionais ao longo da semana, retornando a níveis em torno da cota de inundação na Usina do Gasômetro (3,6 metros).
Professor do IPH, Fernando Dornelles afirma que é aconselhável, por segurança, que moradores das ilhas deixem suas casas preventivamente. “É importante que a Defesa Civil se prepare, prevendo um nível 50 centímetros maior do que o observado na quarta-feira (25). A previsão é menos que isso, mas, a partir de sábado (28), atenção máxima para os registros pluviométricos e níveis das estações mais de montante”, alerta.
Até as 19h de quarta-feira, o nível do Guaíba na Ilha da Pintada havia atingido 2,74 metros – 54 centímetros acima da cota de inundação. No dia 21, o Guaíba avançou sobre as Ilhas de Porto Alegre, causando alagamentos em residências e deixando ruas submersas.
A Defesa Civil da Capital informou que está atuando com base em monitoramento contínuo, com apoio de empresa de meteorologia contratada, e tem concentrado esforços especialmente nas regiões mais vulneráveis, como as ilhas e áreas ribeirinhas.
Já há um abrigo em funcionamento com 82 pessoas acolhidas. Equipes estão em campo orientando moradores sobre a importância da evacuação preventiva, com posto de comando dentro da região do Arquipélago.
O rio que banha Porto Alegre recebe as águas dos rios Jacuí, Taquari, Caí, Sinos e Gravataí – todos devem ter elevação nos níveis. Conforme a MetSul, o cenário contribui para agravamento da inundação em Canoas, na praia de Paquetá, e represa o Sinos e o Gravataí nas pontas finais das bacias, com alto risco em Canoas, Gravataí, Cachoeirinha e no Arroio Feijó (Alvorada).
A chuva pode cair com altos volumes em parte da bacia do Jacuí, apesar de não repetir os acumulados extremos da semana passada. Com isso, em algumas áreas em que o Jacuí já baixa, no Centro do estado, há risco de repique de cheia. Na parte final da bacia, em Eldorado do Sul, há potencial de agravamento, principalmente pelo nível do Guaíba.
O rio dos Sinos, apesar de estar baixando, enfrentará um aumento pronunciado do nível, com possibilidade de uma cheia de grande porte. Receberá um grande volume de água do Paranhana, que pode atingir cotas de inundação, e das nascentes entre o Litoral Norte e a Serra.
“O Sinos segue acima da cota de inundação, então a situação é de preparação para enfrentamento. O rio deve superar o nível recém observado de 5,25 metros”, alerta o professor do IPH.
A precipitação deve trazer uma nova onda de vazão ao rio Taquari. De acordo com o IPH, o rio já baixou bastante, então a expectativa é que a cheia, apesar do provável repique, fique dentro do normal das cheias para a região.
Cenário parecido é previsto para o Rio Caí, onde se espera que o nível supere o atingido na primeira onda de vazão na cheia da semana passada. Apesar de não prever marcas extremas, a MetSul pontua que a enchente pode ter média a grande proporção no Vale do Caí.
Além das cheias, precipitação pode causar alagamentos urbanos e deslizamentos de terra
Os dados analisados pela MetSul indicam que o período entre o final da tarde e noite do sábado e a manhã do domingo será o de maior risco de chuva forte a intensa no estado. Os acumulados de chuva podem ser particularmente altos em curtos intervalos, o que potencializa alagamentos em zonas urbanas – nas Missões, no Planalto Médio, nos vales, na Serra, na Grande Porto Alegre e no Litoral Norte.
Em alguns pontos, a chuva entre o final do sábado e o início do domingo, em intervalo de apenas 12 horas, pode atingir 100 mm a 150 mm, ou seja, acumulados equivalentes à média histórica de precipitação para junho inteiro.
Essa quantidade de precipitação em pouco tempo pode exceder a capacidade dos sistemas de macrodrenagem em diversas cidades, especialmente dos vales e da Grande Porto Alegre, levando a alagamentos por chuva, e não por rios. O cenário é parecido com o da quarta-feira da semana passada (18), acumulados excessivos de chuva em poucas horas levaram a diversos pontos com alagamentos na região metropolitana.

No domingo (6), de acordo com a MetSul, a chuva vai ocorrer enquanto os rios da região Metropolitana apresentam níveis elevados e os sistemas de bombeamento da macrodrenagem urbana estão saturados pelas cheias, o que pode dificultar ainda mais a absorção da água da chuva.
A região vivenciou uma situação parecida em 23 de maio do ano passado, após a grande enchente. Na ocasião, choveu demais em poucas horas e, com os rios cheios e funcionando como uma barreira para escoar a água da chuva, arroios transbordaram na zona sul de Porto Alegre.
Como a chuva deste final de semana vai ocorrer com os níveis muito altos ainda do Guaíba, Sinos e Gravataí, cidades da Grande Porto Alegre como Canoas, Porto Alegre, Gravataí, Viamão e Alvorada têm um risco acentuado de alagamentos por extravasamento de arroios.
A chuva volumosa na Serra, com o solo saturado pelas recentes precipitações, traz risco de deslizamentos de terra e quedas de barreiras, exigindo atenção em áreas de risco de encostas e em rodovias.
Previsão do tempo
A MetSul explica que ar mais quente vai avançar sobre Santa Catarina e Paraná em altitude, sobretudo no leste dos dois estados, enquanto uma nova massa de ar frio de origem polar de forte intensidade deve ingressar no Norte e no Nordeste da Argentina. O contraste térmico entre as duas massas de ar, uma muito fria e outra quente, vai gerar áreas de instabilidade no Sul do Brasil no sábado e no domingo.
O tempo começa a ficar instável ainda na manhã de sábado, com chuva em pontos da metade norte gaúcha. Da tarde para a noite, a instabilidade ganha força com chuva na maior parte do estado, exceção de algumas localidades da fronteira com o Uruguai. No domingo, com uma área de baixa pressão na costa e o avanço do ar mais frio sobre a massa de ar quente mais ao norte, a chuva tende a se intensificar muito em horas entre a madrugada e de manhã na metade norte gaúcha, diminuindo e parando em muitos pontos da tarde para a noite, embora ainda chova em alguns locais.
Na segunda-feira, com o ingresso de ar mais frio, o tempo firma na maior parte do estado com sol e nuvens, mas algumas localidades ainda devem ter momentos com maior nebulosidade e chance de chuva ou garoa passageira, especialmente no leste e no nordeste do estado.