A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) entregaram nesta terça-feira (1º) uma carta ao Papa Leão XIV com as principais demandas da Igreja Católica frente às mudanças climáticas para serem discutidas na Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro em Belém (PA).
O documento Um chamado por justiça climática e a casa comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções foi construído com as demandas climáticas a partir da visão da Igreja Católica do Sul Global, que inclui países da África, América Latina e Caribe, e Ásia.
Entre as principais propostas, estão o fortalecimento da aliança intercontinental entre países do Sul Global para promover cooperação e solidariedade e a exigência de pagamento da dívida ecológica, feita pelas nações mais ricas, com financiamento climático justo.
De acordo com o texto, a mensagem é fruto do discernimento coletivo das Igrejas inspiradas pelo clamor dos povos e pela urgência do colapso climático. A posição foi construída a partir das feridas vividas nos seus territórios e da esperança semeada em suas comunidades, como Igrejas que caminham ao lado dos mais vulneráveis.
“Compartilhamos uma convicção comum: sem justiça climática, não há paz; sem conversão ecológica, não há futuro; sem escuta dos povos, não há soluções reais”, diz o documento.
A carta foi inspirada na encíclica do Laudato Si’, do Papa Francisco, lançada em 2015, que também aborda questões ambientais e aponta mudanças urgentes para a garantia do futuro da humanidade e do planeta.
O objetivo principal da nova carta entregue ao Papa Leão XIV é definir orientações que contribuam para a atuação pastoral e cívica da Igreja rumo à COP30. Além de fortalecer a voz pública nos espaços de negociação climática internacional a partir de uma perspectiva de justiça ecológica integral, evidenciando as principais causas e responsabilidades do colapso ambiental e climático.
O primeiro vice-presidente da CNBB Dom João Justino de Medeiros destacou a importância da Igreja estar presente na COP30. “Um evento desta natureza, e desta significação não pode ficar restrito a governantes e cientistas. Ele precisa chegar a um número sempre maior de pessoas, mesmo porque os impactos da crise climática não vem só para um, vem para todos. Certamente, os resultados são diferentes na vida das pessoas, mas todos estamos sobre a possibilidade desse impacto tão sério e tão grave”, apontou.
De acordo com a CNBB, a carta também será entregue à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na quarta-feira (2), e apresentada na audiência pública da Câmara dos Deputados na próxima quinta-feira (3).
Papa na COP 30
Durante a reunião, o Papa foi convidado novamente para participar da COP30, que será realizada no Brasil em novembro. O governo brasileiro já havia apresentado um convite oficial ao Pontífice, que foi reforçado pelos cardeais brasileiros após o conclave.
“A partir do convite oficial do governo brasileiro, voltamos a este convite de uma forma mais incisiva. [O Papa] tem consciência da importância e do lugar da palavra da Igreja nesse contexto de COP 30. Vamos ver qual a resposta e a posição do papado a partir do nosso convite”, disse o presidente da CNBB e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), cardeal Jaime Spengler.
O cardeal brasileiro participou da audiência com o Santo Padre, junto com o representante das Conferências Episcopais da África, cardeal Fridolin Ambongo Besungu, representante das Conferências Episcopais da Ásia, o cardeal Filipe Neri e do secretário-geral do Celam, dom Lizardo Estrada Herrera.
“A audiência foi marcada por uma cordialidade muito boa. O Santo Padre demonstra uma capacidade de escuta interessada em cada um dos temas que nós trouxemos. Foi uma hora e quinze de uma conversa certamente rica e frutífera.”, explicou Spengler.