A Câmara dos Estados Unidos aprovou, nesta quinta-feira (3), o “Big Beautiful Bill” (Grande e Belo Projeto, em tradução livre), projeto de Donald Trump para cumprir promessas de campanha e aumentar o investimento em serviços de deportação de imigrantes. O texto será assinado pelo presidente na sexta-feira (4), feriado nacional mais importante do país.
Entre as medidas previstas estão o corte em programas sociais, como o Medicaid, que permite que famílias pobres tenham acesso a serviços de saúde no país, e a revogação de incentivos ao uso de energia limpa concedido pelo ex-presidente do país, Joe Biden. Na contramão da redução de custos proposta pelos cortes, porém, o texto amplia isenções fiscais aos ricos, com diminuição de impostos sobre herança e renda.
O projeto também prevê aumento no investimento em repressão imigratória, bandeira política de Trump. Cerca de US$ 150 bilhões (cerca de R$ 818 bilhões) podem ser destinados para ações como construção ou aprimoramento de muros e ferramentas de monitoramento da fronteira com o México, expansão de centros de detenção de imigrantes, aumento no efetivo de fiscalizadores imigratórios, como membros do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE, na sigla em inglês), e financiamento de tribunais imigratórios, para agilizar os casos.
Para a jornalista Zoe Alexandra, editora do Peoples Dispatch, o projeto de Trump é, antes de um desastre aos imigrantes no país, um “enorme retrocesso nos direitos dos trabalhadores de todo os Estados Unidos”. Em sua análise, a Big Beautiful Bill “não só concede cortes de impostos para bilionários, permitindo que eles paguem menos ao orçamento público — o que, por sua vez, significa uma perda enorme no orçamento do setor público —, mas também corta programas realmente cruciais nos Estados Unidos. Os EUA não são um país que têm muitos programas sociais, uma grande rede de apoio social para os trabalhadores, mas os poucos programas que existem vão sofrer massivamente”.
A saúde é um dos principais pontos, e não apenas para os mais pobres. “A menos que você seja bilionário, a saúde é um grande problema”, sentencia Alexandra. Milhões de pessoas estão inscritas no Medicaid, e milhões podem, de fato, perder a cobertura através desses cortes, porque o projeto impõe novas restrições e basicamente empurra as pessoas para fora deste programa. Há estimativas de que cerca de 20 milhões de pessoas poderiam perder os benefícios do Medicaid. Isso significa pessoas sem acesso a cuidados de saúde essenciais”.
Donald Trump e seus aliados argumentam que a medida serve para eliminar desperdício, fraudes e abusos do dinheiro público. Mesmo com os cortes sociais, porém, o projeto aumentará os gastos governamentais – em áreas de repressão, não de auxílio. O Escritório de Orçamento do Congresso dos Estados Unidos avalia que as medidas podem aumentar em US$ 3,3 trilhões (R$ 18 trilhões) a dívida do país, que já é de US$ 36,2 trilhões (R$ 197,6 trilhões).
“Enquanto todas as pessoas nos Estados Unidos estão sofrendo com a inflação e com o achatamento dos salários, a classe dominante e o próprio Donald Trump culpam os imigrantes nos Estados Unidos”, avalia Alexandra.
A jornalista destaca que, em seis meses do atual mandato de Trump, os agentes do ICE tem praticado sistematicamente profundas violações de direitos humanos. O argumento é que as deportações teriam como alvo pessoas em conflito com a lei, mas Alexandra denuncia que é mentira. “Eles têm ido a locais de trabalho e prendido dezenas de pessoas em massa, estão pegando pessoas na rua, tirando-as de seus carros na frente de suas famílias, atos realmente horríveis de violência real contra imigrantes que estão criando um medo profundo entre as comunidades de imigrantes”.
Entre janeiro e abril de 2025, 142 mil imigrantes foram deportados dos Estados Unidos. No início de junho, ações de agentes do ICE geraram protestos de rua em massa no país, com confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Para conter os manifestantes, Trump enviou a Los Angeles a Guarda Nacional e membros da Marinha, força de elite do Exército estadunidense.
“Já vimos que mais e mais centros de detenção do ICE estão sendo erguidos. Tem o centro de detenção do ICE ‘Alcatraz de Jacarés’, no meio dos Everglades, uma área de proteção ambiental, para que os imigrantes não possam escapar deste centro, porque eles dizem que o local é cercado por jacarés”, explica Alexandra.
Para ela, os ataques à classe trabalhadora, às comunidades de imigrantes e a populações mais vulneráveis estão aumentando dia após dia. “Tudo para avançar esta agenda que favorece os bilionários, que lhes permite ter cortes de impostos e que favorece acumulação de capital às custas dos trabalhadores nos Estados Unidos”, analisa Alexandra. “Agora eles estão dizendo que vão sacrificar a saúde. Vão sacrificar o bem-estar de todos para colocar ainda mais dinheiro nesta horrível máquina de deportação”.
