Em entrevista transmitida pela televisão cubana, o vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba, Carlos Fernández de Cossío, afirmou na terça-feira (2) que o novo Memorando Presidencial de Segurança Nacional, assinado por Donald Trump, “ratifica um contexto político e medidas já em vigor”. O documento restabelece diretrizes mais rigorosas da política de “pressão máxima” contra Cuba, aplicadas durante o primeiro mandato de Trump e que, em tese, teriam sido abrandadas durante a era Biden.
“Ele apenas ratifica uma abordagem que já estava em curso. De fato, grande parte do que é apresentado foi mantida inclusive durante o governo Biden, que não só não eliminou essas medidas como as aplicou com uma surpreendente lealdade ao trumpismo”, observou Cossío.
O vice-ministro denunciou, porém, que “o memorando serve como base legal para as ações que a Casa Branca vem implementando — ou passará a implementar — com o objetivo de causar sofrimento ao povo cubano, prejudicar sua economia e limitar seu desenvolvimento em áreas sensíveis como turismo, fornecimento de combustível, geração de energia elétrica e produção de alimentos, entre outras”.
Ele classificou a agressão imposta por Washington à ilha caribenha como uma “guerra econômica” e alertou que, embora o objetivo seja a derrubada da Revolução — algo que não foi alcançado —, “não devemos nos enganar”: essas medidas “causam danos e sofrimento, mas não conseguiram, nem conseguirão atingir o objetivo final, pois esbarram na determinação do povo cubano em preservar sua independência”.
“Pode haver a intenção de intimidar o povo cubano anunciando uma política ainda mais agressiva, como se fosse fácil de ser subjugado. Mas o povo cubano demonstrou, ao longo da história, resistência diante das pressões externas”, destacou.
Sinal aos setores anticubanos
Sobre as motivações que levaram Washington a assinar esse memorando, Fernández de Cossío ressaltou que, embora o documento não as explicite, é possível inferir que se trata de um sinal aos grupos de pressão da direita de Miami, representados pelo senador Marco Rubio.
“Pode-se supor que o senador Rubio, que mantém um compromisso pessoal significativo com a política para Cuba e possui uma autoridade centralizada concedida pelo governo, esteja sob pressão de setores anticubanos que financiaram sua carreira e o apoiaram politicamente.”
Ele acrescentou que, por trás dessas decisões, podem estar atuando poderosos setores ligados à política anticubana nos Estados Unidos, que exigem que o governo aplique a Cuba a nova doutrina da política externa de Washington, baseada em “impor a paz por meio do uso da força” — o que representaria uma postura ainda mais agressiva contra a ilha.
Sobre o impacto real do memorando, ele informou que, embora “grande parte da linguagem seja idêntica à anterior”, será necessário aguardar para avaliar plenamente suas implicações, já que o próprio documento delega ao secretário de Comércio, ao secretário do Tesouro e a outras agências a definição das normas operacionais.
Ainda assim, ele apontou que um dos possíveis objetivos do documento seria garantir o arcabouço jurídico necessário para atacar os setores não estatais da economia cubana. Esses setores, em sua imensa maioria privados, cresceram de forma acelerada nos últimos quase quatro anos.
“Há uma intenção clara de atingir o setor privado cubano. É um tema que gera debate dentro dos Estados Unidos, mas está claro que se busca punir esse setor de alguma forma, e o texto inclui ameaças explícitas nessa direção”, afirmou.
Além disso, o diplomata criticou o desconhecimento da maioria da população estadunidense sobre a real situação de Cuba e as ações que o governo dos Estados Unidos realiza contra a ilha.
“Se a maioria do povo estadunidense fosse informada da verdade sobre Cuba — os fatos, a realidade e o caráter agressivo da política de seu governo —, se soubesse que lhe é proibido viajar à ilha ou manter qualquer interação com ela, tenho certeza de que a maioria se posicionaria contra.”