A cerimônia de abertura do Conselho Popular do Brics foi realizada nesta sexta-feira (4), no Teatro Carlos Gomes, no centro do Rio de Janeiro (RJ). O evento marca o início oficial da cúpula social que antecede a reunião de chefes de Estado do bloco, programada para domingo (6) e segunda-feira (7). Com a presença de representantes da sociedade civil de países membros e convidados, a sessão inaugural teve como temas centrais a taxação dos super-ricos, a soberania alimentar e a solidariedade internacional à Palestina.
O encontro também simboliza uma nova etapa na construção do Brics como espaço com participação popular estruturada. Trata-se da primeira reunião presencial do Conselho Popular, criado após o Fórum Civil de 2024 e reconhecido formalmente na Declaração de Kazan. A expectativa é que, ao final da programação, um documento com propostas populares seja entregue aos líderes do bloco.
Estiveram presentes conselheiros de diferentes partes do mundo, como Mohammed Admed Hussen (Etiópia), Ah Maftuchan (Indonésia), Raymond Shillboy (África do Sul) e Victoria Panova (Rússia). A representação brasileira conta com Fabiano Mielniczuk, Rita Coitinho e Marco Fernandes, além da participação de movimentos populares e representantes do governo.
O encontro no Rio de Janeiro foi considerado histórico por seus organizadores, tanto pela diversidade das pautas como pela projeção internacional do Conselho. As atividades continuam até sábado (5), quando será apresentado publicamente o documento final com propostas nas áreas de saúde, educação, ecologia, arte e cultura, finanças, economia digital e institucionalidade do Brics.
A cerimônia também reforçou a denúncia sobre o genocídio em curso na Palestina e a urgência de posicionamentos políticos do Brics em defesa do povo palestino. A defesa de uma nova ordem internacional, baseada em justiça e soberania popular, esteve no centro dos discursos de abertura.
Brics como alternativa geopolítica e disputa contra o fascismo
Para os participantes, o Brics representa uma alternativa à hegemonia do imperialismo estadunidense e à financeirização da vida. Márcio Macedo, secretário-geral da Presidência da República, afirmou que o bloco é “a decisão geopolítica mais inovadora e importante tomada nos últimos anos no mundo” e destacou o avanço da extrema-direita global, financiada por bilionários que “transformam pessoas em algoritmos e minam a democracia”.
A deputada estadual Marina do MST lembrou que os movimentos populares têm propostas concretas para enfrentar crises como a ambiental, e que a defesa da criação de um regime global de saúde pública é urgente. Ela também mencionou o plebiscito popular que defende a taxação dos super-ricos, articulado por movimentos brasileiros, como exemplo de contribuição concreta para a agenda do Brics.
A solidariedade à Palestina foi reiterada por diferentes participantes. Para Marina, “o Brics não pode se omitir diante do genocídio que acontece hoje na Palestina”. A postura foi reforçada por Márcio Macedo, que declarou: “O que está acontecendo em Gaza não tem outro nome: é genocídio”.
Antônio Freitas, subsecretário de Finanças Internacionais do Ministério da Fazenda, afirmou que “na trilha econômica da presidência brasileira do Brics, tivemos entregas importantes, inclusive uma declaração que propõe a taxação dos bilionários”. Ele também manifestou solidariedade ao povo palestino: “O que está acontecendo lá exige posicionamento político”.
Conselho Popular busca institucionalização e permanência
A criação do Conselho Popular do Brics é resultado de um processo de construção coletiva iniciado em março, que mobilizou dezenas de organizações brasileiras e internacionais. A iniciativa busca garantir um canal permanente de escuta entre governos e sociedade civil.
Lucas Godoy Barbosa, representante do Itamaraty, ressaltou que esta é a primeira vez que o Brics realiza uma sessão de trabalho com a participação direta de representantes da sociedade civil. Segundo ele, “somente quando envolvemos a sociedade nos debates conseguimos garantir impacto real na vida das pessoas”.
A conselheira russa Victoria Panova também reforçou a importância de dar continuidade ao processo. “Nossa voz precisa ser ouvida constantemente. O Conselho Civil deve ter força, estrutura e continuidade”, afirmou. Ela lembrou que o embrião do Conselho surgiu há dez anos, durante a presidência da Rússia no bloco, e destacou que a consolidação do espaço depende de apoio concreto dos Estados-membros.
Participação internacional marca encontro no Rio
A presença de conselheiros de outros países deu o tom internacional à cerimônia de abertura. Além dos representantes já citados, estiveram presentes lideranças e especialistas ligados a universidades, centros de pesquisa e movimentos populares de diferentes regiões do Sul Global.
Elias Jabbour, presidente do Instituto Pereira Passos, destacou a importância do Brics como espaço de formulação geopolítica para a América do Sul. “Entre os grandes eventos globais que o Rio vai sediar – G20, Brics e Copa – eu considero o Brics o mais importante”, declarou.
A vereadora Maíra, do MST, reforçou que a ancoragem do Brics no Rio é importante, mas que o protagonismo popular é o que deve ser valorizado. “O Conselho Civil do Brics é estratégico para acumular debates sobre temas candentes para a humanidade, com o povo como protagonista.”
A agenda do Conselho Popular do Brics no Brasil segue até o fim do ano, com atividades previstas em diferentes regiões. A proposta é consolidar uma tradição de cúpulas populares, capazes de influenciar diretamente as decisões dos chefes de Estado do bloco.