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VISÕES POPULARES

‘Regime sionista não completará 100 anos’, avalia Breno Altman

Jornalista faz balanço dos conflitos no Oriente Médio e aponta perspectivas para o futuro

04.jul.2025 às 18h36
Belo Horizonte (MG)
Flora Villela
‘Regime sionista não completará 100 anos’, avalia Breno Altman

- Foto: Reprodução/Ópera Mundi

O saldo da guerra entre Israel e Irã no Oriente Médio, a possibilidade de escalada de outros conflitos e o genocídio em curso na Faixa de Gaza são alguns dos assuntos abordados por Breno Altman em entrevista ao Visões Populares, podcast do Brasil de Fato MG.

“Embora o Irã não tenha destruído o regime sionista nem expulsado os Estados Unidos do Oriente Médio, ao se defender com sucesso, impedindo os inimigos de alcaçarem os seus objetivos, o Estado iraniano teve uma vitória tática”, avalia.

Jornalista e fundador do site Opera Mundi, com mais de 40 anos de carreira, Altman se dedica prioritariamente à cobertura dos fatos internacionais. Ele também possui trajetória militante que o acompanha desde a ditadura militar brasileira. 

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato – Qual é o cenário atual no Oriente Médio e qual é o papel de Israel nas tensões na região?

Breno Altman – Para explicar o que tem ocorrido nos últimos meses, incluindo a agressão de Israel contra o Irã, precisamos puxar o fio da história. O projeto sionista nasceu com um objetivo estratégico e um outro objetivo tático. 

O objetivo estratégico foi consolidar a criação do chamado Estado judeu, de supremacia étnica judaica, nos marcos históricos do que é a chamada Eretz Israel, uma expressão em hebraico para “terra de Israel”. Lá teria existido o mitológico Reino Unido de Israel e Judá, que é citado nos textos religiosos do Velho Testamento.

Não há comprovações arqueológicas de que esse reino tenha existido, mas esse é o reino de referência para o sionismo, para alguns setores de maneira explícita, como é o caso dos partidos religiosos e da extrema direita sionista, e para outros setores de forma ambígua e velada. O objetivo seria que o Estado de Israel, fundado em 1948 em um pedaço da Palestina, viesse a ocupar aquelas fronteiras que correspondiam ao mítico reino de Israel e Judá.

Essas fronteiras, em termos atuais, correspondem a uma ampla área entre o Rio Eufrates, no Iraque, e o Rio Nilo, no Egito. Ou seja, toda a Palestina, toda a Jordânia, todo o Líbano, parte do Iraque, parte da Síria, parte da Arábia Saudita, um canto do Kuwait e parte do Egito. Essa seria Eretz Israel. 

É evidente que o sionismo nunca colocou esse objetivo estratégico em prazo curto ou sequer médio. É um prazo histórico, como uma espécie de objetivo final de consolidação do sionismo. Mas esse objetivo sempre esteve presente no movimento sionista. 

E há um objetivo tático: consolidar a existência do Estado de Israel na Palestina. Desde que, ao projeto sionista, foram designados 53,5% das terras daquela região, o objetivo do movimento sionista sempre foi se expandir por toda a Palestina histórica. Apesar das diferentes alas do sionismo proporem distintas estratégias para esse objetivo.

É dentro disso que podemos compreender todo o processo expansionista de Israel, daquele 53,5% inaugurais, na partilha da Palestina, até os 100% que Israel consolida na guerra dos seis dias, em 1967. É dentro dessa lógica que nós podemos compreender o genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza. 

Israel já se decidiu por eliminar a hipótese dos dois estados, que foi consagrada pelas resoluções internacionais e pelos acordos de Oslo. Já deixou muito claro que não cumprirá essas resoluções nem o acordo Oslo, que dois estados deixaram de ser uma opção. Portanto, é assim que nós devemos entender o que acontece em Gaza desde 2007, ou seja, desde o momento em que Israel cerca Gaza e impõe escassez, limpeza étnica e genocídio, o que se intensifica em seguida, a partir do 7 de outubro de 2023. 

Essa é a dinâmica que nos permite compreender também o ataque ao Irã. O Irã é o único Estado da região que ainda tem poder de confrontação contra Israel. Com a ajuda evidente dos Estados Unidos, Israel viu, um a um, seus grandes adversários ou capitularem ou deixarem de existir.

Quem resiste ao expansionismo sionista e ao imperialismo norte americano no Oriente Médio, é o Irã. E, portanto, é natural que o Irã, mais cedo ou mais tarde, fosse um alvo do regime sionista e dos Estados Unidos. E isso ocorreu durante 12 dias no mês de junh, embora nem Israel, nem os Estados Unidos tenham conseguido atingir os objetivos aos quais se propunham, que era destruir a República Islâmica do Irã e colocar no seu lugar um governo fantoche, amigável e neutro, mais ou menos como está acontecendo na Síria.

O objetivo tático era destruir as instalações militares e nucleares do Irã e nenhum dos dois objetivos, nem estratégico, nem tático, foram alcançados por Israel e pelos Estados Unidos.

A justificativa mobilizada por Israel para o início do conflito é o programa nuclear do Irã, que, segundo eles, estaria prestes a obter uma arma nuclear. Também por isso os EUA se envolveram diretamente. A  justificativa se sustenta? 

Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, em 2003, com o apoio da União Europeia, o pretexto foi que o Iraque estaria desenvolvendo armas de destruição em massa. Depois se comprovou que isso não passou de um pretexto fabricado pelo serviço de inteligência dos Estados Unidos e da União Europeia. Foi uma grande mentira. O Iraque não tinha quaisquer armas de destruição em massa, era um pretexto para fazer o que eles chamam de mudança de regime no Iraque, para derrubar o governo de Saddam Hussein e colocar no seu lugar um governo fantoche. 

Da mesma maneira, agora, surge um pretexto em relação ao Irã: impedir o Irã de ter a arma nuclear. O Irã, por diversas vezes, ao longo dos últimos 20 anos, afirmou categoricamente que não tinha interesse em desenvolver uma bomba nuclear. Mesmo agências hostis ao Irã, como é o caso da Agência Internacional de Energia Atômica, já disseram muito claramente que não há provas de que o país estivesse pronto para desenvolver uma arma nuclear.

Então, não tenho dúvidas em dizer que isso não passou de um pretexto vulgar levantado pelos Estados Unidos e pelo regime sionista. Se algum equívoco cometeu o governo do Irã, foi de não ter um programa para construir uma bomba atômica já há muitas décadas. Porque, feliz ou infelizmente, é a posse da bomba atômica que garante a segurança dos Estados ameaçados pelo sistema imperialista. 

Basta entendermos o exemplo da Coreia do Norte. A República Democrática Popular da Coreia não é atacada porque possui armas atômicas e pode revidar um ataque militar, em ampla escala. 

Esse é um problema concreto. Os países só conseguem defender sua soberania, quando se colocam numa perspectiva anti-imperialista, se têm a bomba atômica. O que rege o direito de se ter energia nuclear, com fins militares, no planeta é um tratado, chamado Tratado de Não Proliferação Nuclear.

Esse tratado não é assinado por alguns países: Israel, Coreia do Norte, Paquistão e Índia.  Evidentemente, as superpotências nucleares do mundo sempre pressionaram as demais nações a que assinassem, porque isso garante à elas um controle da situação internacional.

Esse tratado é aplicado de forma assíncrona. É sabido que Israel possui a bomba atômica, embora não assuma esse fato. Eles desenvolveram a bomba atómica a partir dos anos 70, com apoio tecnológico francês e com urânio fornecido pela África do Sul,na época do Apartheid.

Israel teria tido condições de construir, naquele primeiro momento, alguma coisa como 10 a 20 artefatos nucleares para fins militares. Hoje, podem ter alguma coisa como 90 ou 400 bombas, a especulação varia. Israel nunca foi fiscalizado pela Agência Internacional de Energia Atômica, nunca teve que explicar com fatos concretos qual é a sua realidade nuclear, nunca foi pressionado pelos países do Ocidente a respeito da bomba atômica. 

Mas o Irã vive uma situação oposta. Porque o Irã, de uma maneira muito ingênua, como outros países, mesmo depois da revolução islâmica de 1979, que derrubou o governo do Shah Reza Pahlevi, que era vinculado aos Estados Unidos, assinou o tratado. O que desencadeou, em relação ao Irã, todas essas fiscalizações.

Assinar o tratado de não proliferação atrasou o programa nuclear do Irã e fez o Irã se comprometer com a utilização da energia nuclear somente para fins civis, pacíficos. Quando era bastante claro que, se o Irã quisesse se proteger de um eventual ataque em larga escala dos Estados Unidos ou de Israel, que tem um dos exércitos mais bem preparados do mundo, deveria ter a bomba atômica.

Assim, se algum comentário crítico eu devesse fazer sobre a situação do Irã, nesse contexto das relações com os Estados Unidos e com com Israel é esse: por que cargas d’água o Irã foi assinar o tratado de não proliferação nuclear e evitou ao longo de toda a trajetória pós-79 a fabricação da bomba? Ter a bomba seria um antídoto muito forte diante dos ataques realizados por Israel e pelos Estados Unidos.

Após os ataques, os EUA e Israel garantiram ter enterrado o programa nuclear do Irã. Isso é verdade?

Não é apenas o Irã que diz que suas instalações foram danificadas mas não destruídas. O Pentágono e a CIA têm o mesmo relato. Os ataques dos Estados Unidos e Israel contra o Irã foram fortes, mas apenas danificaram suas instalações nucleares e militares. Eles não destruíram a infraestrutura nuclear do Irã a ponto de atrasar o programa nuclear iraniano por décadas ou sequer por anos, como eles afirmaram. 

Aparentemente, esse atraso será de meses. E o Irã, desta vez, acena com medidas mais duras de autoproteção, que eventualmente serão negociadas.

O Irã nunca representou uma ameaça a qualquer país da região e, ao contrário de Israel, nunca atacou nenhum país vizinho. O Irã teve uma guerra com o Iraque, é verdade, mas que não foi provocada pelo Irã. É um país com uma tradição de muitos anos, muitas décadas, muitos séculos,  de paz. 

A República Islâmica do Irã nunca projetou uma ação militar internacional e isso é o que levou o Irã a assinar, inclusive, o tratado, já que nunca teve interesses expansionistas na região. Quem tem interesses expansionistas na região é Israel, que, só nos últimos meses, já atacou o Líbano, a Síria, o Iêmen e o Irã. No passado, Israel já atacou o Egito, a Jordânia e o Iraque.

Israel é um ator de agressão no Oriente Médio, o Irã não. Os Estados Unidos são outro fator de agressão ao Oriente Médio que já desencadeou inúmeras guerras na região, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria, o Irã não. O Irã tem uma trajetória pacífica.

O que mostra mais claramente ainda como essa história dos Estados Unidos e de Israel, a respeito da ameaça representada pelo Irã, não passa de uma balela, de uma grossa mentira, cujo objetivo é ter um pretexto para eliminar o Irã enquanto fator de contenção do imperialismo e do sionismo no Oriente Médio.

Há a possibilidade de que esse conflito represente um passo para uma guerra generalizada? 

Nós estamos vivendo uma época de acirramento de contradições. A base desse acirramento é que temos  uma velha ordem mundial, criada a partir de 1991, com fim da União Soviética, baseada na hegemonia de um sistema imperialista comandado pelos Estados Unidos. Essa ordem mundial entrou em crise, especialmente no século 21, pelas dificuldades intrínsecas e internas do próprio sistema imperialista, a partir da grande crise do capitalismo de 2008 e 2009. 

O sistema imperialista não conseguiu e não consegue mais preservar a hegemonia sobre o mundo, o que levou a uma crise dessa ordem. Essa crise foi agravada com o desenvolvimento econômico chinês e com a recuperação do Estado russo. Então, temos uma velha ordem morrendo e uma nova ordem multipolar nascendo, que se confronta contra os privilégios dos Estados que dirigem a velha ordem. 

Isso gera um confronto entre os Estados que propõem uma nova ordem e os que defendem a velha ordem. Isso é a base dos conflitos que estamos vivendo. Por isso, esses conflitos se radicalizam e irão, com idas e vindas, se radicalizar ainda mais.

Se o sistema imperialista não quiser aceitar o nascimento de uma nova ordem e recorrer, como claramente tem feito, às armas, a fim de deter o nascimento dessa nova ordem, não restará outra alternativa aos Estados que representam a nova ordem que não se defender, seja por meio de guerras regionais e locais, como é a guerra da Rússia contra a Ucrânia, ou a resistência do povo palestino contra Israel, e a reação iraniana também contra o regime sionista. Ou podem ser obrigados a reagir em escala mundial, a depender do tipo de ataque que foi projetado pelo pelo sistema imperialista.

Por exemplo, se na guerra na Ucrânia houver uma escalada da OTAN, se a Ucrânia estiver abastecida por mísseis de longo alcance norte-americanos e europeus, com a permissão de utilizá-los contra cidades russas, por exemplo, alguém imagina que a Rússia vai cruzar os braços?

A Rússia vai varrer do mapa a Ucrânia. E isso pode desencadear uma guerra mundial ou, até mesmo, uma guerra nuclear. Então, é um cenário delicado, mas, aos preços de hoje, eu não acho que a guerra mundial está ali na esquina. Não é disso que se trata, embora o cenário de confrontação entre a ordem que morre e a ordem que nasce gere um ambiente de confronto. 

Uma maneira de evitar o confronto seria os Estados defensores da velha ordem abdicarem dela e aceitarem conviver em uma outra ordem multipolar, renunciando a sua hegemonia planetária. Essa é uma negociação possível.

A outra negociação possível seria os Estados defensores da nova ordem capitularem, renunciarem a construí-la e aceitarem a hegemonia norte-americana. Também isso poderia levar à paz. É o que os Estados Unidos buscam, inclusive o termo cunhado para essa estratégia é a “paz através da força”. Ou seja, obrigar esses Estados a renunciarem às suas aspirações de mudar a ordem mundial. 

Eu acho muito difícil essa renúncia, porque a China  e a Rússia já são grandes demais, além de que outros Estados ganharam muita força e autonomia. Então, nós temos de fato um ambiente perigoso, de crescentes tensões que podem, a qualquer momento, se desdobrar em uma guerra mundial. Eu não descarto essa hipótese.

Qual foi o saldo dessa guerra? Quais são os possíveis desdobramentos para o próximo período ?

Eu acho que houve uma derrota tática dos Estados Unidos e de Israel, porque eles são os Estados agressores e não conseguiram alcançar os seus objetivos. O Irã, o Estado agredido, conseguiu impedir que o regime sionista e a principal superpotência capitalista do mundo obtivessem suas metas.

Diante desse contexto, embora o Irã não tenha destruído o regime sionista ou expulsado os Estados Unidos do Oriente Médio, ainda assim, ao se defender com o sucesso, impedindo os seus inimigos de alcançarem os seus objetivos, o Estado iraniano teve uma vitória tática. E, portanto, Israel e os Estados Unidos tiveram uma derrota tática.

Uma vitória tática é aquela na qual, embora você tenha sido bem sucedido, você não aniquilou a força acumulada do seu inimigo e sua possibilidade de voltar a atacar.  Já a vitória estratégica impossibilita seu inimigo de voltar a atacar. 

Um exemplo de vitória estratégica foi a do Exército Vermelho e dos aliados contra a Alemanha nazista. O nazismo foi esmagado, a Alemanha foi esmagada e ela já não tinha mais como reagir. Isso é uma vitória estratégica. Ou quando o Vietnã expulsa os Estados Unidos do seu território, aquilo foi uma vitória estratégica, porque, sem o apoio dos Estados Unidos, o chamado Vietnã do Sul, que era capitalista e pró-imperialista, não tinha mais como se defender. 

Nesse caso, nós tivemos uma vitória tática do Irã e  isso significa dizer que o confronto ainda terá outros capítulos, até porque o elemento essencial do cenário continua vibrando. Esse elemento é, evidentemente, o genocídio do povo palestino na Faixa de Gaza. Então, eu considero que esse congelamento atual por meio do cessar fogo é apenas uma etapa provisória.

Como a questão energética se liga a este e a outros conflitos em curso na região? 

Nós tivemos uma subida do preço do petróleo, mas que já declinou. Qualquer conflito que envolva o Irã, ou que envolva quaisquer países produtores de petróleo, é normal ter uma ascensão no preço do barril.

Por exemplo, quando a Rússia atacou a Ucrânia em 2022, tivemos uma disparada do preço do petróleo, porque a Rússia é uma grande produtora de petróleo e as sanções contra o país levaram a uma escassez do mercado e, consequentemente, ao aumento de preços. 

Também houve uma elevação do preço do barril do petróleo, porque o Irã, em um certo momento, decidiu fechar o Estreito de Ormuz. O Estreito de Ormuz é por onde passam cerca de 20% da produção petrolífera do mundo, especialmente a produção do Golfo Pérsico, incluindo a Arábia Saudita.

Fechado o Estreito de Ormuz, o mundo vivenciaria uma queda de 20% do fornecimento de petróleo e isso abalaria as economias ocidentais e a China também, porque a China adquire muito petróleo do Golfo Pérsico, e, fatalmente, o preço do petróleo dispararia.

É necessário entendermos que o Oriente Médio é estratégico também por causa do petróleo. Ou seja, não é que os Estados Unidos precisem do petróleo do Oriente Médio. Os Estados Unidos já, há vários anos, são autossuficientes em termos de petróleo.

Mas querem garantir que o petróleo do Oriente Médio continue abastecendo o lucro das suas companhias petrolíferas e impedir que o petróleo do Oriente Médio seja controlado por aliados da China. No caso de uma confrontação militar, aquele país que tiver o controle do maior volume de reservas de petróleo, sai na frente, porque tudo que tem a ver com a guerra depende de petróleo.

Tanques, aviões, navios e drones precisam de petróleo. Existem algumas substituições por outras fontes de energia, mas o petróleo ainda é a fonte principal de abastecimento energético em uma guerra. Os Estados Unidos querem controlar o maior volume possível de petróleo e impedir que a China tenha acesso a esse volume.

O Oriente Médio é importantíssimo por essa razão e também pela razão geográfica. Se olharmos no mapa, veremos que o Oriente Médio é uma dobradiça essencial, a principal dobradiça entre Ocidente e Oriente. Tem uma importância vital em um mundo que pode ser arremetido a uma nova guerra mundial.

Por isso, o Oriente Médio é tratado, já há muitas décadas, certamente de uma maneira muito exuberante desde os anos 40, como um espaço geográfico decisivo do confronto de sistemas e de projetos.

Estados Unidos e China disputam a hegemonia econômica no mundo. Quais são os interesses de cada um desses países na região? Por que a China não se envolveu diretamente no conflito?

A situação do Oriente Médio é complexa para Rússia e China, especialmente depois da queda do governo de Bashar al-Assad. Porque a Síria era, ao lado do Irã, a dupla de Estados que resistiam ao regime sionista e ao imperialismo norte-americano na região. Era por meio da Síria que se dava o principal da influência russa no Oriente Médio. A China nunca teve influência no Oriente Médio, não é um ator do Oriente Médio.

Embora tenha fortalecido suas relações com o Irã e, mais recentemente, tenha patrocinado a pacificação de relações entre a Arábia Saudita e o Irã, que são relações tormentosas, a China vem se aproximando do Oriente Médio, mas sem muita tradição e sem esquemas de força na região.

Isso é completamente diferente dos  Estados Unidos, que tem um esquema de força muito importante no Oriente Médio, a começar por Israel. Nós temos sempre que nos lembrar que o regime sionista é uma cabeça de ponte dos Estados Unidos no Oriente Médio. Como já disse um assessor de um ex-presidente norte-americano, o Estado de Israel é o mais barato porta-aviões que os Estados Unidos tem no mundo.

Israel é muito bem financiado e muito bem armado, com um exército que certamente está entre os mais poderosos do mundo. Além de Israel, os Estados Unidos operam interesses hoje no Egito, na própria Arábia Saudita, tem bases militares no Iraque e na Síria. O que dificulta uma resposta mais combativa da Rússia e da China.

Embora eu acredite que nas horas e dias que antecederam o cessar fogo, China e Rússia vinham numa escalada diplomática e, especialmente, a Rússia havia garantido que cumpriria seu acordo estratégico com o Irã, o que significava abastecer de armas e munição o Irã contra Israel e contra os Estados Unidos.

Essa escalada da Rússia e da China foi um dos fatores que impulsionaram a Casa Branca a buscar um cessar-fogo imediatamente depois do ataque contra Fordow e outras duas instalações nucleares iranianas. Rússia e China já davam sinais de que não podiam deixar passar batido uma eventual destruição da República Islâmica do Irã, a partir da intervenção norte-americana.

Acho que isso foi um dos fatores que levou o Donald Trump a fazer um ataque muito pontual, sem uma maior escalada militar e, logo em seguida, forçando Israel a aceitar um cessar-fogo. 

Eu não tenho dúvidas que o ataque contra o Irã foi uma outra guerra por procuração. O alvo não era o Irã. O alvo estratégico é a China. 

Evidente que, se os Estados Unidos conseguissem mudar o regime no Irã, ou seja, destruir a República Islâmica do Irã e colocar ali um governo fantoche, como fizeram em países árabes,  isso seria uma desmoralização para a China. Isso representaria, para o mundo, que os Estados Unidos ainda são capazes de ditar as cartas. 

Não se trata da Síria, que já era um país dividido, conturbado, em guerra civil, seria outra história, muito mais grave, se houvesse mudança de regime no Irã. Seria uma desmoralização da China, que mostraria não estar à altura do desafio político-militar que é enfrentar a velha ordem liderada pelos Estados Unidos.

 Qual é o balanço da situação Palestina até aqui?

Eu vou contar uma história, que é conhecida. Quando os judeus foram levados para diversos campos de concentração, durante a Segunda Guerra, era oferecida a eles a possibilidade de tomar um banho. Eles vinham às vezes a semanas, meses, sem a possibilidade de higiene corporal decente.

Em alguns desses campos de concentração, os judeus foram chamados para cabanas onde teriam chuveiros. Nesses chuveiros, eles poderiam se banhar. E muitos judeus, alguns desconfiados e outros não, seguiram em fila para aquelas cabanas com chuveiros.

E aquelas cabanas com chuveiros, chuveiros tinham, mas desses chuveiros não saíam água, saía o gás que matou centenas de milhares de judeus. É exatamente isso o que acontece com a ajuda humanitária em Gaza. A chamada fundação humanitária de Gaza, controlada por Israel, oferece comida para atrair palestinos e matá-los.

Já são centenas de mortos. Um jornal israelense progressista, muito crítico a Netanyahu, que abriga vários jornalistas anti sionistas e de grande prestígio em Israel, publicou uma reportagem com os soldados israelenses afirmando que recebiam ordem de agir dessa forma. Um desses soldados até disse: “eu me senti como se nós fôssemos os nazistas e eles os judeus”. 

Esse é o retrato do momento mais dramático e o duro é que sempre há um momento mais dramático em seguida nesse genocídio palestino. É a utilização, cada vez mais escancarada, dos mesmos métodos que os nazistas empregaram contra os judeus. Métodos de atração para liquidação da população civil. Pode não ter a mesma escala numérica, mas isso é só uma questão de tempo e de oportunidade

Qual é o prognóstico para o próximo período? Como deve evoluir a situação palestina? 

Há muitos anos decidi que eu só faço previsão sobre o passado, porque as minhas chances de errar diminuem. Podemos identificar uma tendência e, nesse sentido, eu tenho pleno acordo com as palavras do intelectual israelense e judeu anti-sionista, Ilan Pappe, de que o regime sionista vive o início do fim. 

Porque, especialmente depois de 7 de outubro de 2023, o regime sionista está perdendo, interna e externamente, legitimidade. E sem legitimidade nenhum regime sobrevive, nenhum regime é capaz de sobreviver apenas pela força das armas por um longo período. Você tem que ter legitimidade dentro das suas fronteiras e legitimidade na opinião pública internacional.

Israel está perdendo aceleradamente legitimidade e isso abala a própria sustentação do regime sionista. Os conflitos internos políticos em Israel são imensos e vão se aprofundando.

Portanto, eu creio que num espaço de tempo, embora seja pouco provável que esse espaço de tempo seja curto, nós vamos assistir, espero que ainda esteja vivo para assistir isso, o fim do regime sionista. O regime sionista,  anote para me cobrar daqui a 23 anos, não completará 100 anos. 

Para aqueles que gostam de textos religiosos, o regime sionista durará um pouco mais do que o mítico Reino Unido de Israel e Judá, que durou só uns 70 anos.

Como você avalia o posicionamento do Brasil?

A parte boa é que o presidente Lula é a principal voz do mundo que denuncia o genocídio palestino. É a voz que mais cedo que qualquer outra verbalizou o genocídio palestino e denunciou o regime sionista. A voz mais dura de todas as grandes lideranças mundiais. 

Muito mais duro que Xi Jinping, muito mais duro que Vladimir Putin. Muito mais duro, sem comparação, que outras lideranças, como Modi na Índia, ou mesmo Ramposa na África do Sul.

Lembremos que o presidente Lula, em fevereiro do ano passado, em Adis-Abeba na Etiópia, colocou o dedo na maior ferida moral do sionismo, quando ele questionou como  o governo Netanyahu empregava contra os palestinos métodos tão semelhantes àqueles que o nazismo tinha aplicado contra os judeus. 

Então, do ponto de vista declaratório, eu daria nota 10 para o governo brasileiro. Mas as declarações não são suficientes.  Sem medidas práticas, Israel não recua. O que pode parar a máquina da morte movida pelo sionismo é um conjunto de fatores.

A resistência palestina é um desses fatores, a reação militar do Irã contra Israel é outro fator, mas um fator decisivo é o isolamento de Israel, o boicote mundial a Israel, como aconteceu com a África do Sul na época do Apartheid.

Esse é um instrumento decisivo contra Israel e o Brasil poderia já ter comandado a fila do Sul global em relação a isso, pelo prestígio do presidente Lula e  pelo peso econômico e político do Brasil. Poderíamos já ter caminhado na direção de romper relações diplomáticas e comerciais com o Estado de Israel. 

Essas medidas, por si só, não seriam suficientes para abalar Israel, já que o fluxo comercial entre Brasil e Israel é muito pequeno, mas seriam medidas que certamente serviriam de exemplo para o mundo inteiro, especialmente para o sul global.

Eu sou absolutamente convencido de que se o Brasil agisse dessa forma Rússia e China não poderiam operar abaixo desse sarrafo e acabariam sendo pressionadas a uma atitude mais dura com Israel. E medidas desse tipo teriam uma enorme repercussão no Ocidente, animando ainda mais a mobilização popular para que os governos dos Estados Unidos e da União Europeia adotassem medidas práticas contra Israel.

Então, nesse quesito, medidas práticas, para não dar zero, eu dou dois para o governo brasileiro. Dois porque o Brasil diminuiu sua representação diplomática em Israel e suspendeu a compra de blindados israelenses pelo exército brasileiro. Então, alguma coisinha foi feita,  mas é uma nota muito baixa naquilo que realmente importa, que é adotar medidas para impedir a continuidade do genocídio do povo palestino.

Editado por: Ana Carolina Vasconcelos
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