Mesmo com a despedida do mês de São João, São Pedro e São Marçal, no Maranhão, o apito do amo do boi está longe de silenciar. Por lá, as brincadeiras, como são conhecidas as as tradições culturais ligadas a esse período, duram o ano inteiro. Haja santo para homenagear!
Esta edição o Bem Viver , programa do Brasil de Fato, mostra como os terreiros e comunidades, especialmente da capital São Luís e região, são os espaços que contemplam essa diversidade de brincadeiras, como explica a pesquisadora em Cultura e professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Letícia Cardoso.
“Esse traço identitário, comunitário, que é o bumba meu boi, está presente em mais ou menos 450 comunidades do Maranhão. São muitos grupos de bumba meu boi e comunidades que vivem disso o ano inteiro. Por isso, falar de festividades no São João, para mim, significa também pensar no trabalho que as comunidades têm o ano inteiro para que no São João, em junho, possam colocar as brincadeiras populares na rua. Ou seja, apresentar para as pessoas, sair do mundo doméstico do terreiro e ir para o público”, explica.
Com musicalidade, danças e rituais, depois de junho, as brincadeiras ligadas ao bumba meu boi, que marcam uma das tradições de mais força nesse período, deixam as apresentações de palco, mas retornam às suas comunidades e terreiros e a festa continua.
“Em julho, existe uma extensão do período junino voltado para a questão turística, onde eles continuam fazendo apresentações por contratos, mas agosto, setembro e outubro, os bois começam a fazer as matanças nas comunidades, nos terreiros, isso é tradição no Maranhão”, complementa.

Letícia explica, que para além das festividades, o bumba meu boi cumpre um papel político e social.
“Acaba sendo esse veículo de expressão popular que fala da realidade, fala de amor, ele canta a natureza, as belezas naturais, canta as disputas que existem entre os bois, mas também expressa todos os anseios e problemas que o povo vive, faz uma crítica social muito forte. Por isso, ele é um complexo cultural, e não apenas uma expressão festiva”.
Capital das festas juninas
Segundo a pesquisa “Cultura nas Capitais”, São Luís é a referência das festas juninas, por contar com 38% dos moradores participando das festividades, o maior índice entre as cidades que participam do levantamento. Além disso, 53% da população considera o São João como o principal evento cultural da cidade.

Adriana Silva, brincante do Boi da Maioba, fala da emoção de viver essa cultura e do acolhimento a pessoas de todas as idades nas brincadeiras. O grupo foi fundado há 128 anos e é reconhecido como o mais antigo do sotaque da ilha, também chamado de Boi de Matraca.
“É muito bonito ver a quantidade de jovens inseridos na nossa cultura que é tradição, história e carrega a ancestralidade de muito tempo, ainda viva nos dias de hoje. Acho que o encanto do Maranhão é isso: você chega aqui e se depara com todas as idades, todos os tipos de pessoas e você vê que não há uma limitação física ou de idade para brincar”, explica Adriana.

Cacuriá e diversidade de brincadeiras
Além do emblemático bumba meu boi, que por si só tem diversas variações, o Maranhão se destaca também pelas Quadrilhas, o Tambor de Crioula, a Dança Portuguesa, o Cacuriá e muitas outras, como explica Rosa Reis, uma das coordenadoras do Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte), cantora e caixeira do Divino, responsável pelo grupo de cacuriá Balaio de Rosas.
“Cada uma tem sua particularidade, sua dança própria, sua indumentária, sua história, seu ritual e se você for no interior do Maranhão ainda vai encontrar muito mais, que são as variações de todos esses sotaques. E ainda temos tambor de crioula, lelê, quadrilha, coco, gente… é muita coisa, é muito lindo e isso está na alma do maranhense”, comemora Rosa.
Dança sensual inspirada na tradição das Caixeiras da Festa do Divino Espírito Santo, o Cacuriá foi criado na década de 70 no Maranhão e hoje já compõe o calendário de festividades juninas.
“A gente tem trabalhado muito pelo enriquecimento dessa dança, para que ela cresça cada vez mais, para que ela seja divulgada e acho que a gente já conseguiu bastante com o Laborarte, quando começamos lá com a Dona Teté e Nelson Brito fazendo esse cacuriá pequeninho e esse movimento foi crescendo e hoje temos vários Cacuriás, resultado de muito trabalho feito com consciência, para a gente não perder a essência de toda essa história que começou com Seu Lauro, lá em 1973”, complementa.

Figuras ilustres, os cantadores e amos de bois são tietados por onde passam, enquanto o batalhão aquece os tambores. Entre eles está João de Sá Viana, cantador e amo do Boi de Pindaré, fundado em 1960 e pertencente ao sotaque da Baixada, marcado por um ritmo mais suave e cadenciado.
“Para nós é uma satisfação mostrar tudo o que nós sabemos fazer durante a temporada. Nossa temporada começa a partir dos ensaios e chama atenção de todos porque nosso Maranhão, nosso bumba boi é sucesso e com muita firmeza, muita garra apresentamos ao público maranhense, aos que vêm de fora e aos estrangeiros a nossa cultura, que é muito pesada, muito valorizada, em nome de São João, São Pedro e São Marçal que são os carros-chefe dessa nossa cultura”, declara João.
E tem mais…
No Distrito Federal, a produção de frutas desidratadas do Acampamento 8 de Março, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mostram que comida saudável pode ser prática e deliciosa! Maria Honorato do Carmo, conhecida por Raquel, tira do próprio quintal jaca, banana, graviola, maça, coco e uma diversidades de frutas do Cerrado.
Também tem pitadas e ingredientes da reforma agrária na receita de hoje, Gema Soto ensina como fazer um arroz vermelho com carne.
E em Cuba, a arte transforma a educação das crianças no Festival “Corazón Feliz”, é um espaço onde meninos e meninas se tornam protagonistas, criadores, cidadãos.
Quando e onde assistir?
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