Após um mês de visitas e escutas em unidades de saúde de Porto Alegre, o projeto Raio-X da Saúde de Poa apresentará, nesta quarta-feira (9), o diagnóstico da primeira fase da iniciativa. Idealizado pelo vereador Alexandre Bublitz (PT), o projeto percorreu emergências, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais e serviços de urgência e emergência da Capital, ouvindo trabalhadores da saúde, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e gestores públicos. A audiência pública será realizada a partir das 18h45, no Plenário Ana Terra da Câmara Municipal.
A proposta busca mapear os principais gargalos do sistema público de saúde e propor soluções baseadas em dados e na escuta direta de quem vive a rotina nas unidades. Para Bublitz, o ponto de partida do projeto foi a indignação com a forma como profissionais da saúde vêm sendo tratados. “Percebemos que os trabalhadores da linha de frente estavam sendo atacados, xingados em supostas vistorias feitas por políticos que entravam gritando nas unidades. Isso nos motivou a fazer o oposto: visitar com respeito, escutar com atenção e construir um diagnóstico coletivo”, explica.
Ao todo, foram vistoriados nove equipamentos de saúde, incluindo os pronto-atendimentos da Bom Jesus, Lomba do Pinheiro, Cruzeiro e UPA Zona Norte, além da emergência de saúde mental da Cruzeiro, o Hospital de Clínicas, o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, o Hospital Vila Nova (com leitos de retaguarda) e a regulação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Conforme aponta o vereador, os dados coletados revelam que entre 60% e 80% dos atendimentos nas emergências são de baixa complexidade, classificados como verde ou azul. “São pacientes que poderiam ser atendidos na atenção básica, mas que acabam indo para as emergências porque não conseguem atendimento nos postos ou porque não têm vínculo com a rede. A atenção primária está falhando, e quem paga o preço é o sistema como um todo”, afirma Bublitz.
Além dos dados estruturais, os relatos colhidos chamam atenção para o adoecimento dos profissionais da saúde. “Escutamos relatos muito pesados, de ansiedade, burnout, depressão e até ideação suicida. É urgente que se criem programas de acolhimento e cuidado para quem cuida da população. Não é possível manter um SUS funcional sem olhar para quem está sustentando ele com o próprio corpo”, observa.

Pontos críticos
A equipe do mandato sistematizou 31 problemas e 24 propostas, divididas em quatro eixos de análise.
Primeiro: Cuidado com os trabalhadores da saúde. “É inadmissível que profissionais estejam adoecendo por exaustão e não haja nenhuma política pública voltada ao cuidado com eles. Estamos propondo campanhas, programas de atenção à saúde mental e valorização concreta da categoria”, aponta.
Segundo: Fatores pré-emergenciais. “Grande parte das pessoas que vão às emergências poderiam ter seus problemas resolvidos na atenção básica, mas não conseguem. Falta resolutividade nos postos, falta médico, falta estrutura. Isso precisa mudar.”
Terceiro: Problemas no funcionamento das emergências. “Faltam protocolos, faltam cobertores, faltam dietas adequadas. Encontramos pessoas trancadas por dias nas emergências porque não há leitos de retaguarda. É o colapso anunciado de um sistema mal gerido, e que precisa de coordenação e planejamento sério.”
Quarto: Pós-emergência e retaguarda. “Os leitos de retaguarda são essenciais para que o fluxo funcione. Muitos pacientes que vêm do Interior e já estão estáveis poderiam voltar para suas cidades para terminar o tratamento. Isso liberaria leitos e daria mais agilidade ao sistema.”
Outro ponto crítico foi o atraso da Operação Inverno, especialmente no atendimento pediátrico. “Fomos ao Hospital Presidente Vargas no final de junho e ainda não havia profissionais contratados para a operação. Sendo que o aumento de casos respiratórios em crianças começa em abril. Ou seja, a resposta do poder público é tardia e ineficaz”, critica o parlamentar.
A audiência pública contará com a presença de representantes das secretarias municipal e estadual de Saúde, Ministério da Saúde, Ministério Público, conselhos de saúde, sindicatos, conselhos de classe, profissionais da saúde e usuários do SUS. A expectativa é que o encontro funcione como um espaço de diálogo democrático e de construção coletiva em defesa de um SUS público, gratuito e de qualidade.
“O Raio-X não é só diagnóstico, é mobilização. A gente precisa de planejamento a longo prazo, de ações sérias, e de políticas que realmente escutem quem está lá na ponta. Queremos transformar essas escutas em ação legislativa, em leis, em pressão política. Porque não dá mais para normalizar o caos”, conclui Bublitz.
