Sem punição por excesso de faltas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o deputado bolsonarista Ricardo Arruda (PL) partiu para o revide contra a deputada Ana Júlia (PT) pedindo a cassação de seu mandato. A parlamentar havia apontado o excesso de faltas na comissão e pedido sua substituição. Esse elemento levou Arruda a denunciar a petista no recém-reformulado Conselho de Ética. A representação feita pela oposição contra Arruda foi protocolada em 25 de abril e permaneceu mais de três meses sem relator. Em contrapartida, no dia 14 de maio, o deputado apresentou uma representação contra Ana Júlia no Conselho de Ética, alegando ter sido vítima de calúnia, difamação e quebra de decoro parlamentar.

Em sua representação, que também é contra o deputado Renato Freitas (PT), Ricardo Arruda disse que ambos ferem sua honra. São “condutas manifestamente ofensivas, caluniosas e desrespeitosas proferidas em plenário pelos Deputados Ana Júlia Ribeiro e Renato Freitas, em face do Deputado Ricardo Arruda, com o intuito claro de desmoralizá-lo, deslegitimar sua atuação parlamentar e induzir o público a erro quanto à sua integridade pessoal e funcional”, diz o documento.
Arruda se irritou, principalmente, pelo fato de Ana Júlia questionar o atestado de um dentista para justificar sua falta na reunião da comissão. “Um deputado estadual ter a falta de vergonha na cara de apresentar um documento desse… é chamar todos os paranaenses de besta. (..) Porque no mínimo é duvidoso um atestado 40 dias depois”, disse Ana Júlia, em declaração juntada ao pedido de investigação.
Para o bolsonarista, o questionamento “extrapola os limites da imunidade parlamentar, configurando abuso de prerrogativa”.
Deputado se defende atacando, avalia Ana Júlia

Para Ana Júlia, por sua vez, a iniciativa é uma retaliação política: “Fui surpreendida com o pedido de cassação pelo deputado Ricardo Arruda. É um absurdo o que estão fazendo com esta Assembleia e a deturpação do que deveria ser o Conselho de Ética. Eu, com muita responsabilidade, acredito que precisamos questionar a atuação dos nossos colegas na proporção, razoabilidade e medida do que fazem.”
No plenário, Ana Júlia denunciou publicamente o caso e recebeu apoio de diversos colegas, tanto da base governista quanto da oposição. Entre os que se manifestaram estão Luiz Claudio Romanelli (PSD) — que classificou o episódio como “litigância de má-fé” —, além de Luciana Raffagnin (PT), Mabel Canto (PP), Cristina Silvestri (PP), Cloara Pinheiro (PSD) e Professor Lemos (PT).
Arruda também quer investigação contra Renato Freitas, membro da CCJ, que reforçou as acusações da colega. Para Ricardo Arruda, “tais falas não apenas ratificam as acusações infundadas, como constituem tentativa clara de criminalizar sem base o Deputado Ricardo Arruda”.
O deputado já foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) por receber cerca de R$ 500 mil em troca de favores. A denúncia foi aceita pelo Tribunal de Justiça do Paraná. Em maio, a OAB pediu afastamento do deputado, mas o caso ainda não foi analisado pela Alep.
Relator bolsonarista
A relatoria de ambos os processos foi definida apenas na terça-feira (8), sendo atribuída ao deputado Tito Barrichello (União). Ana Júlia criticou a decisão, apontando que os casos tratam de fatos distintos e não deveriam ser analisados pelo mesmo relator.
“Eu vou ter que dizer de novo aqui que ele cometeu violência política de gênero. E olha só a ironia dos homens: eles cometem violência contra uma mulher e depois querem transformar a vítima na culpada”, declarou a deputada em discurso.