A dupla Ana Caetano e Vitoria Falcão conhecida pelo nome Anavitória teve seu início de carreira em 2014 e seu trabalho se caracteriza por um pop rural. Oriundas de Araguaína, no Tocantins, elas são cantoras, atrizes e compositoras.
Vencedoras por duas vezes do Grammy Latino, sendo a primeira vez de Melhor Canção em Língua Portuguesa em 2018, com a música Trevo do álbum Anavitória e a segunda em 2021 por Cor, que foi considerado o Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa.

Anavitória cumpriu longa agenda de shows na Eurotour que teve início no mês de junho em Bergen na Noruega, passando por Porto e Lisboa, dias 13 e 15, em Portugal, 19, em Paris, França, 21 e 23, em Manchester e Londres na Inglaterra, 22, Glasgow na Escócia, 25, Amsterdam na Holanda, 26, Bruxelas na Bélgica, 28 e 29, Hamburgo e Berlin na Alemanha, 1º, Viena na Áustria, 3, Bolonha na Itália, e no último sábado (5), no Montreux Jazz Festival, onde encerraram a turnê.
Após o show no festival, o Brasil de Fato RS conversou com Ana e Vitoria sobre a sua primeira apresentação no MJF, a turnê na Europa, políticas para a cultura no Brasil e sobre suas músicas.

Acompanhe a entrevista:
Brasil de Fato RS: Como é representar a música brasileira neste festival. Como é para você estar aqui?
Vitoria: É muito massa poder fazer nosso som aqui. E dentro do nosso contexto é mais especial ainda porque é o final de uma turnê. Então a gente meio que encerrou, sabe? Tipo um selinho assim. Muito massa, muito especial estar aqui.
Ana: É isso, é um festival que a gente já escuta falar tanto tempo, né? Tantas pessoas e artistas que a gente admira passaram por aqui. Que bom que a gente recebeu esse convite. É uma bela cereja mesmo. É um ótimo final para esses dias, sabe? Foram 28 dias de turnê, 14 shows. Eu acho simbólico o último ser aqui. A gente podendo registrar também, a gente pode ouvir isso depois, sabe? Eu amei.
Vitoria: É, e dividir o palco com um artista que a gente admira também, que é o Seu Jorge. Muito legal, tudo muito legal.
E o que vocês acharam da plateia? Qual a reação? Como que foi ver? Pelo que eu acompanhei, tinha muito brasileiro.
Ana: Sim, tinha. Eu achei muito brasileiro, mas eu não sei se eram pessoas que conheciam tanto a nossa música, assim. Mas… Não sei, achei gostosa. Achei uma plateia receptiva. Embora não conhecessem tanto.
A gente sabe que está uma retomada na política cultural no Brasil. Como está sendo isso para vocês? Como vocês estão vendo as políticas em relação à cultura no Brasil?
Vitoria: Eu acho que é um momento em que a gente fica muito mais feliz do que o que a gente estava vivendo antes, mas eu acho que a gente sempre tem caminho para onde ir. Tem muita coisa para acontecer ainda.
E o que você acha que deveria ter mais nas políticas para os músicos brasileiros? Vocês têm uma carreira de 11 anos, mas para quem está começando, por exemplo, o que vocês acham que deveria ter que ainda não tem na política cultural brasileira?
Vitoria: Nossa, falando do nosso lugar assim mesmo, eu acho que existe uma dificuldade muito grande de entrar no Brasil, de fazer shows para as 5 mil cidades que tem o país, sabe? A gente, pelo menos o nosso nicho, é um nicho que acaba fazendo ali no máximo 50, 60 cidades. E é óbvio que a gente entende que vai chegar para todas as pessoas, em todas as pequenas cidades, o que está tocando muito mais e o que faz muito mais sentido.

Mas também a gente sabe que tem uns incentivos, umas escolhas, uns prefeitos, umas fazendas, sabe? Uns donos de gado, uns negócios que acabam comandando, de certa forma, o mercado. Tem muita coisa, né? Tem o cinema, tem a música, tem várias áreas de cultura.
Mas pensando na situação que a gente vive, é muito tipo de abrir outras possibilidades de que outros artistas possam também fazer shows em outros lugares do Brasil. Porque as pessoas às vezes nem chegam a conhecer o som. Às vezes as pessoas não têm a oportunidade de conhecer aquilo porque nunca nem chegou na cidade dela. A gente vem de um lugar assim. Em Araguaína nunca vimos um artista que a gente aspirava ver ou tinha vontade, assim, era sempre aquele mesmo… A mesma dupla sertaneja…
Ana: Eu acho que falta espaço físico também. Sim, de pequenos lugares também. Quando a gente vai normalmente tocar em municípios mais pequenininhos, sempre são shows com ar de improviso. Eu acho que se a gente tivesse mais espaços físicos, talvez seria mais possível de levar também.
Vocês já tiveram e têm várias parcerias tais como a Rita Lee e o Lenine. Como foi para vocês esse tipo de parceria?
Ana: Nossa, essas duas, pelo menos que você citou, foram grandes felicidades. Tanto a Rita quanto o Lenine participaram de um disco chamado Cor. A Rita abria o disco e o Lenine fechava. Mas não só… A gente já fez tantas outras. De tantos gêneros diferentes e sempre é uma troca importante. Toda vez que a gente colabora com alguém é um intercâmbio que a gente faz. Enfim, acho que é isso. A gente gosta muito de trocar, de colaborar. E sempre que há vontade e há possibilidade, isso é algo que acontece.
Em dezembro do ano passado vocês retomaram com um novo disco que inclusive citaram no show. Podem falar um pouco sobre ele?
Ana: Na real, a gente ainda nem começou a turnê desse disco. Vai começar agora no segundo semestre no Brasil. Mas os músicos que tocaram com a gente nessa Eurotour, que está encerrando, são os que produziram esse disco.
E sobre a Eurotour como foi e por onde vocês passaram?
Vitoria: Nossa senhora! A gente foi pra Portugal, Porto e Lisboa. A gente fez França, Áustria, Holanda, Amsterdam, Inglaterra. Na Inglaterra foram alguns shows: Glasgow, Manchester. A gente foi pra Bruxelas. A gente foi pra cidades que a gente não tinha feito ainda nas nossas outras turnês, como Bolonha. Fizemos alguns lugares menores. Hamburgo e Berlim, e a gente nunca tinha ido pra Alemanha. Foi bem legal. A gente fez lugares inusitados.

Ana: A gente começou a turnê na Noruega, tocamos em Bergen. Dentro de uma catedral de, sei lá, mais de 800 anos. Era a coisa mais linda. Foi bem legal. Foi bem especial. Foi uma turnê muito legal.
Vitoria: Muito longa e cansativa, mas muito bonita e especial. Lugares felizes, sabe? Conhecer novas pessoas, conhecer novas casas de show, lugares. Foi bem bonito.
A música de vocês fala sobre relações humanas e acompanhando o show e observando as pessoas da plateia tive a sensação de que há uma identificação com a vida das pessoas.
Ana: É, acho que sim, acho que as minhas composições elas permeiam muito esse lugar. Na maioria das vezes, autobiográfico, e aí é isso, passa muito pelas relações, eu gosto de escrever sobre isso, é um assunto que me pega, eu vejo muita beleza nisso, muita poesia nisso…
Sim, tem uma identificação, mas não só, mas isso na maior parte do tempo. Eu acho que não é nenhuma vontade consciente, não. Acho que isso é consequência. Tipo, acho que todo mundo, a gente tem muitas repetições. Eu e você provavelmente a gente sente muitas coisas muito parecidas e já viveu muitas coisas muito parecidas, então essa identificação acaba acontecendo, mas não é algo que eu penso na hora de escrever.
