Aconteceu, na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nessa terça-feira (8), uma audiência pública para debater os direitos individuais e coletivos dos moradores atingidos pelas obras de construção da linha 2 do metrô de Belo Horizonte. Convocada pela deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), a reunião teve como tema central o acidente sofrido por Natalice Gomes da Silva, atropelada por um trem após escorregar nos entulhos das obras.
O caso aconteceu no dia 20 de junho, quando a vítima, de 49 anos, atravessava os trilhos na altura do bairro Nova Cintra, na região oeste da capital mineira. Natalice foi socorrida no pronto-socorro do Hospital João XXIII, onde se constatou que ela sofreu fratura na coluna, traumatismo craniano e, posteriormente, foi necessária a amputação de uma das pernas.
Tanto a Metrô BH, concessionária que assumiu a gestão do modal desde a privatização, quanto a VLI, empresa responsável pela ferrovia, se eximiram de assumir a responsabilidade pelo dano causado à moradora. Já a MRS Logística, dona do trem que atropelou Natalice, procurada pela deputada, num primeiro momento, teria se prontificado a prestar auxílio à família da vítima, mas depois voltou atrás, de acordo com a parlamentar.
A família teve que se realocar, devido a falta de infraestrutura necessária para a recuperação. Durante a audiência, a moradora relatou o impacto que a obra tem tido na vida de quem mora no entorno da linha.
“Tem mais de 30 anos que eu moro lá e nunca imaginei que isso fosse acontecer. Está difícil”, desabafou.
Ainda na audiência, sua filha, Jéssica Gomes da Silva, ressaltou o aumento nas despesas para garantir os cuidados mínimos com a mãe, todos providenciados por familiares e membros da comunidade.
De acordo com Jéssica, procuradas pela família, nenhuma das empresas teria se prontificado a prestar auxílio. As filhas de Natalice denunciam o desamparo após o acidente, já que estão sem trabalhar para cuidar da mãe e contando com a solidariedade de vizinhos.
“Estão fazendo a demolição das casas e o trem passando no meio da obra. Claro que ia dar problema. Dona Natalice perdeu a sua perna e teve que se arrastar para pedir socorro. A gente vê que não tem nenhuma segurança, nem para os funcionários que estão fazendo o trabalho nem para os moradores. É um descaso e um abandono total”, afirmou Gonçalves, em suas redes sociais.
Obras têm impactado a comunidade
Segundo o relato dos moradores, não há qualquer sinalização que indiquem o risco no local. Além disso, Jairo Pereira, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), pontuou na audiência que, desde o início das obras, famílias da região estão sem acesso à luz e à água, viram as paredes de suas casas trincando e tiveram que conviver com entulhos, poeira e animais perigosos.
Outra denúncia apresentada à comissão é a de que cerca de 16 famílias ainda não receberam indenização pelos prejuízos enfrentados a partir das obras de expansão do metrô. Amanda Lélis da Silva, moradora do entorno, relatou pedidos exagerados de documentação para viabilizar o pagamento da indenização.
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“A sensação é de estar sendo expulsa da própria casa. Para mim, é como se fosse uma pressão silenciosa que a empresa está fazendo: ‘olha, se você não sair, você vai ficar sem água, sem luz, no meio do entulho’”,pontuou.
As ausências de representantes das empresas e da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) na audiência foram sentidas. Segundo a presidenta da comissão, Bella Gonçalves, “não tem diálogo possível com quem trata o povo desse jeito”.
Ao fim do debate, ficaram encaminhadas a realização, nos próximos dias, de uma audiência de conciliação no caso de Natalice; um severo processo de fiscalização das obras do metrô, em conjunto com a Superintendência do Trabalho; e a tomada de providências, junto ao Ministério Público, para incluir as famílias no plano de reassentamento.