O congelamento de óvulos tem deixado de ser um procedimento voltado apenas para quem enfrenta dificuldades de fertilidade. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que o número de ciclos de congelamento aumentou 98% entre 2020 e 2023 no Brasil, especialmente entre mulheres com menos de 35 anos. Para o ginecologista Luiz Fernando Pina, especialista em reprodução humana e diretor da clínica Baby Center, o crescimento reflete uma mudança de mentalidade.
“O congelamento de óvulos, ou preservação social da fertilidade, faz parte de uma estratégia que chamamos de ‘segunda revolução feminista’”, afirma em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, à medida que as mulheres avançaram no mercado de trabalho, a partir do pós-Segunda Guerra Mundial, e passaram a adiar a maternidade, a técnica se tornou uma forma de garantir a possibilidade de engravidar no futuro.
O congelamento se tornou ferramenta de autonomia reprodutiva para mulheres que desejam adiar a gestação, muitas vezes para focar na carreira ou em outras fases da vida. “Esse processo de congelamento faz parte de uma estratégia, de dizer: ‘Olha, eu não quero pensar nisso agora, eu quero pensar nisso no futuro’”, indica o médico. “Esse crescimento está ligado às mulheres que não são inférteis, pessoas que não têm problema pra engravidar, porque elas nem tentaram engravidar ainda”, explica.
Outro ponto importante, segundo o especialista, é o impacto da idade sobre a qualidade dos óvulos. “A mulher nasce com o número de óvulos que vai usar durante a vida toda, e não produz mais ao longo da vida”, diz. A partir dos 35 anos, a perda da chamada reserva ovariana se acentua, o que diminui a chance de gravidez e aumenta o risco de doenças genéticas, como a síndrome de Down. “A mulher que engravida aos 34 anos tem um risco de um para 600 de ter um bebê com síndrome de Down. Aos 40, o risco é de um para 100”, alerta. O congelamento, segundo ele, “faz com que ela pare esse processo de envelhecimento”.
O médico também chama atenção para a importância de considerar o histórico familiar, especialmente em casos de menopausa precoce. “Você quer saber quando vai parar de menstruar? Pergunte pra sua mãe”, orienta. Ele recomenda que mulheres cujas mães tiveram menopausa antecipada investiguem precocemente a função ovariana e, se for o caso, interrompam o uso de anticoncepcionais hormonais temporariamente para uma avaliação. “Vejo muita paciente que para de tomar pílula com 32, 33 anos e já está na menopausa”, relata.
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