“Não há racionalidade econômica da medida que foi tomada”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao comentar a sobretaxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para ele, a decisão é um “tiro no pé que deve ser revertido”.
Haddad comentou, na manhã desta quinta-feira (10), ser incompreensível a postura da Casa Branca ao apontar que Washington é superavitário em relação à América do Sul e ao Brasil, evidenciando ser falsa a informação de que há “déficits comerciais insustentáveis” entre os países como alegou Trump na carta enviada ao presidente Lula.
“É uma decisão política, não há racionalidade econômica do que foi feito ontem [sobretaxa de Trump], uma vez que os Estados Unidos são superavitários em relação à América do Sul como um todo e ao Brasil também. Nos últimos 15 anos, nós tivemos um déficit de bens e serviços de mais de 400 bilhões de dólares com os EUA. Então, não há racionalidade econômica da medida que foi tomada”, disse o ministro durante sabatina com mídias independentes no Canal do Barão.
No entanto, Haddad acredita que essa medida não ira se manter por conta da diplomacia brasileira ser “reconhecida pelas negociações”. Além disso, acusou a família Bolsonaro de “urdir” esse ataque ao Brasil “com objetivo específico que é escapar do processo judicial que está em curso”.
Ainda para o ministro, este é um momento dos setores estarem unidos: produtivo, agropecuário e principalmente, a indústria paulista. “O estado de São Paulo é um dos principais prejudicados, por ser produtor do suco de laranja e dos aviões produzidos pela Embraer — que é uma conquista histórica da tecnologia brasileira”, disse.
Analisando tanto do ponto de vista político, quanto econômico, Haddad reforçou que é uma “tarifa insustentável de 50%” e que esse “tiro no pé, deve ser revertido”, acrescentando que a extrema direita vai ter que “reconhecer mais cedo ou mais tarde” que isso é uma “agressão unilateral, sem nenhum fundamento econômico e político”.
“O governo entrar na onda de um político extremista local e atacar um país e nós temos nesse momento que estar unidos. […] Eu quero crer que esse tiro no pé vai ser revertido, porque é insustentável”, afirmou ele.
Ele mencionou ainda que se reuniu recentemente com o secretário do Tesouro na Califórnia e disse que a tarifa de 10% já não fazia sentido justamente pelo Brasil ser deficitário em relação a balança dos EUA, afirmando que Scott Bessent reconheceu que havia espaço para renegociar uma redução.
Entenda o caso
O presidente norte-americano Trump enviou na tarde de quarta-feira (09) uma carta a Lula anunciando que os Estados Unidos irão impor uma tarifa aos produtos importados do Brasil que ingressarem no mercado norte-americano. A taxação é esperada entrar em vigor a partir do dia 1º de agosto.
Trump declarou que uma das razões para aplicar tais restrições ao país é por ser contra o fato de Jair Bolsonaro estar sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Pelas redes sociais, Lula respondeu que o Brasil é um país soberano, com instituições independentes e que “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que vai utilizar a Lei brasileira da Reciprocidade Econômica com os Estados Unidos — sancionada em abril, a legislação autoriza o governo a adotar medidas retaliatórias contra países e blocos que imponham barreiras unilaterais aos produtos do Brasil no mercado global.