Nesta sexta-feira (11), dia em que completam 90 dias do assassinato do ambulante senegalês Ngagne Mbaye por um policial militar (PM), um protesto percorreu as ruas do Brás em São Paulo, pedindo o fim da Operação Delegada. O ato faz parte da campanha lançada em junho por 62 entidades, reivindicando o fim deste convênio que permite que PMs atuem pela prefeitura no combate ao comércio ambulante, enquanto estão de folga do serviço para o governo estadual.
Desde que, em plena luz do dia, um PM trabalhando na Operação Delegada alvejou Ngagne na barriga, a opressão policial no mais conhecido bairro de comércio popular de São Paulo piorou. A denúncia é dos trabalhadores ambulantes do Brás, que atestam sofrer racismo e xenofobia, ter mercadorias roubadas e serem vítimas de achaque.
“Brasil é um país que a gente escolheu para buscar uma vida melhor”, discursou o senegalês Meissa Fall, amigo próximo de Ngagne, durante o ato. “A gente veio aqui trabalhando, se matando para ganhar alguma coisa para levar para a nossa família. Ngagne era amigo de todos nós. Todo mundo gostava dele”, afirmou. Ele estava presente no momento em que o policial o matou. “Dor, dor, dor, senti toda a dor que vocês podem imaginar”, descreveu.
“A gente está aqui atrás de trabalho digno. Todo dia tem confusão aqui. E não é por nós. É pela polícia”, destacou Fall, ao ser aplaudido pelos manifestantes. “Se o policial fala ‘tira suas coisas’, você não briga, você pega e sai. Mas o policial chega e fala ‘tira essa porra daqui’. E se você reclama de alguma coisa, falam ‘volta para a sua terra. Aqui você não é bem vindo’”, relata.

“Essa polícia aqui é para dar insegurança aos trabalhadores do Brás”, declarou José Pedro dos Santos, ambulante e membro do fórum da categoria, vinculado ao Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos .
“Um companheiro nosso perdeu a vida às 14h, foi assassinado pela PM porque queria trabalhar”, ressaltou Pedrinho, como é conhecido. “Esse ato é em memória desse trabalhador e para dizer à população que a culpa é do governador, do prefeito, mas da instituição Polícia Militar, que se propõe a fazer esse papel medíocre de açoitar os trabalhadores”, denunciou.
O protesto se concentrou na Rua Joaquim Nabuco, onde Ngagne foi morto, e saiu em passeata, acompanhado de perto por um efetivo de cerca de 150 policiais. Nos cartazes, lia-se “trabalhador não é caso de polícia”, “vidas imigrantes importam”, “90 dias sem justiça”, “pelo fim da violência policial” e “rebelar-se é justo”.
Participaram o Fórum de Ambulantes, associações de imigrantes, o Movimento dos Trabalhadores Sem Direitos, o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), além de outras organizações de defesa dos direitos humanos. Entre parlamentares, estiveram a vereadora Luana Alves (Psol), a deputada estadual Ediane Maria (Psol) e representantes do mandato do vereador Eduardo Suplicy (PT).