Na madrugada desta sexta-feira (11), o Armazém do Campo do Distrito Federal foi alvo de mais um assalto, contabilizando o terceiro desde janeiro deste ano. Apesar dos esforços para reforçar a segurança após os ataques anteriores, os criminosos conseguiram invadir o espaço novamente, causando um prejuízo estimado em cerca de R$ 4 mil, segundo o coordenador do estabelecimento Antônio Dias.
Câmeras de segurança do edifício ao lado do Armazém, mostra que o homem acessou o local pela entrada do exaustor, na parte superior da loja, acessando a cozinha, que estava isolada com as portas trancadas. De lá, foram levados utensílios como panelas, facas, colheres, garfos, além de alimentos destinados à feijoada servida às sextas-feiras, incluindo arroz, feijão e carnes e até um botijão de gás. Apesar do reforço na segurança após os assaltos anteriores, o invasor evitou áreas com equipamentos mais caros, como forno, micro-ondas, outros eletrodomésticos e a própria loja principal.
“Investimos em segurança, fechamos bem todas as áreas, mas eles conseguiram entrar por uma parte muito específica e levaram justamente o material que usamos para as feijoadas de sexta-feira”, lamentou Dias. Na ocasião, um grupo de advogados e membros da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) estavam agendados para almoçar no espaço, mas teve que ser dispensado. “Além do prejuízo financeiro, tem o dano com os nossos parceiros, com os grupos que veem no Armazém um espaço de encontro e confraternização.”

O Armazém do Campo DF é um ponto de comércio de produtos da reforma agrária e também um espaço cultural, político e social construído por movimentos populares como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e serve de referência para sindicatos, coletivos, partidos de esquerda e moradores do Distrito Federal. “Aqui é onde a gente marca território no centro do poder econômico e político do país”, explica Dias. “É um espaço de encontro e resistência. Manter o Armazém aberto e seguro é fundamental.”
Desconfiança
Diante da recorrência dos crimes, existe uma leve desconfiança de que os assaltos possam ter alguma motivação política, embora não exista nenhuma confirmação disso. “Na primeira vez, o que mais levaram foram camisetas e bonés do MST. Agora, invadiram justamente a cozinha, onde poderiam ter levado equipamentos muito mais caros, como micro-ondas e processadores, mas preferiram roubar só as panelas e os alimentos da feijoada”, observa. “Isso chama atenção, ainda mais acontecendo no dia em que temos atividades com grupos organizados.”
Mesmo com o prejuízo, a equipe do Armazém já está se mobilizando para seguir em frente. “Alguns sindicatos amigos vão nos ajudar a comprar novos utensílios, outros vão emprestar o necessário para não parar as atividades”, conta Dias. Além da possibilidade de levantar campanhas de arrecadação e planos para realizar uma atividade cultural que ajude a reunir apoio e levantar fundos.
O boletim de ocorrência foi registrado. “Informamos à polícia e ao nosso advogado, mas não há muito o que fazer”, relata o coordenador.
O que resta, segundo ele, é seguir lutando para manter o Armazém de pé, como um símbolo de resistência, cultura e organização popular na capital do país.