Movimentos populares, partidos políticos, sindicatos e parlamentares progressistas ocuparam a Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, na última quinta-feira (10), para denunciar a paralisia do Congresso Nacional diante de pautas que impactam diretamente a classe trabalhadora.
Entre as principais reivindicações dos atos estão o fim da escala 6×1 — a jornada de seis dias trabalhados consecutivamente com apenas um dia de folga, projeto de autoria da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), a proposta já atingiu forte adesão: conta com pelo menos 234 deputados apoiando, superando as 171 assinaturas mínimas para iniciar a tramitação na Câmara.
“O que a gente quer, a partir desse ato, é fazer com que essa mobilização se estenda para outros momentos. Então, essa é a proposta: apoio ao governo Lula, mas também crítica constante e pressão para que o Congresso atue em favor da população,” afirmou. Laura Lima, membro do coletivo Rede Lular.
A crítica ao sistema tributário brasileiro esteve no centro das falas em Brasília, como o debate sobre a taxação dos super-ricos, prevista no Projeto de Lei Complementar (PLP) 68/2024, apresentado pelo governo federal, como parte da regulamentação da Reforma Tributária. A pauta sofre grande resistência dentro do Congresso de partidos conservadores. Um reflexo desse cenário foi a derrota do governo em junho, quando a Casa Legislativa rejeitou o projeto que previa o aumento do IOF. No Brasil, mais de 50% da arrecadação vem de tributos indiretos, que incidem igualmente sobre todos, mas penalizam de forma desproporcional os mais pobres e a classe média.
Outra palavra de ordem na manifestação foi a defesa do projeto do Poder Executivo, que também está dentro do pacote de justiça tributária no país, que prevê a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
“O povo brasileiro quer pagar menos imposto, quer justiça tributária. O Congresso mostra que não tem disposição pra dar um passo se quer na nossa direção. Mas estão bem ocupados aprovando mais uma reforma política para aumentar seus privilégios e a distorção eleitoral que existe no Brasil”, denunciou Hélio Barreto, da direção do Partido dos Trabalhadores no DF.
André Doz, representante do diretório do Centro Acadêmico da UnB (DCE), também destacou: “Não há outra forma de enfrentar o Congresso Nacional que não seja a mobilizar do povo. A nossa força está nos trabalhadores organizados dos estudantes”.
Contra a política internacional de Trump
Além das pautas trabalhistas, o ato também foi espaço para críticas à política internacional e a ameaças ao meio ambiente. Manifestantes repudiaram o anúncio do presidente Donald Trump, que pretende impor uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto.
“Trump vai praticar assédio e violência contra o Brasil, que é um Estado soberano, e já está nos atacando. A principal aliança de Trump nesse processo é com a extrema direita. A culpa do tarifaço, que pode tirar empregos no Brasil, precisa ser conhecida por todos: Jair Messias Bolsonaro e a extrema direita são os responsáveis”, disse o deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF).
Outro tema que motivou protestos foi a Reforma Administrativa (PEC 32). A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) denunciou que o parlamento “está de costas para o povo” e observou que a PEC retira direitos e enfraquece os serviços públicos.
A atividade também foi marcada pela presença de líderes sindicais, como o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), Sindicato dos Sindicato dos Servidores e Empregados da Assistência Social e Cultural do GDF (Sindsasc), Associação dos Servidores da Carreira Ambiental do DF, entre outros.
Desigualdades e a importância da mobilização
O impacto da jornada exaustiva sobre as mulheres negras também foi lembrado. Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2022 apontam que 65,8% dos contratos formais no Brasil preveem mais de 40 horas semanais, correspondendo à lógica da escala 6×1. Entre esses trabalhadores, 82% atuam no comércio, e 65% ganham até dois salários mínimos.
A autônoma Joelma Cezário, que também participou do ato, destacou que as mulheres negras da periferia são as mais atingidas. “Lutar contra a jornada 6×1 vai beneficiar especialmente as mulheres, que enfrentam dupla jornada dentro e fora de casa. As mulheres cuidam das famílias e do país”, afirmou.
Integrante do Movimento Salve o Rio Melchior Newton Vieira, morador de Ceilândia, uma das periferias mais populosas do DF, também acredita na importância da luta coletiva: “Acho que é um grande desafio mostrar para a população periférica e trabalhadora a necessidade de estarmos juntos lutando. Porque o desgaste do trabalho é tão grande que muitas vezes a pessoa não consegue ver a importância da luta. É extremamente importante superar esse desafio e estarmos juntos”, enfatizou.

Dentre as falas na mobilização também houve críticas ao Governo do Distrito Federal denunciado o governo Ibaneis-Celina, acusando a atual gestão de desmonte na Educação, na Saúde, como também críticas às privatizações na cidade em benefício do empresariado. A principal causa do protesto foi a atual concessão da Rodoviária do Plano Piloto, que tem ameaçado o sustento de ambulantes locais.
Durante a atividade, trabalhadores informais se juntaram ao protesto para reivindicar o direito ao trabalho do local, após serem retirados com a troca de gestão da Rodoviária. “Depois que privatizou, estão tirando nós como se fossem lixos. Saímos, fomos pro calçadão, agora querem tirar a gente de lá também. Nós queremos o direito de trabalhar em Ibaneis” desabafou Francisca Lima, que trabalhava como ambulante na rodoviária.
Cultura como ato político

A cultura também esteve presente no ato em Brasília, com a participação do coletivo artístico-musical Muralha Antifascista, grupo já conhecido na cidade por suas apresentações em manifestações de rua e também no carnaval. “Que a gente possa botar o povo no orçamento e os ricos no imposto de renda”, resumiu Gustavo Vieira, integrante do grupo, reforçando a importância da arte na luta por direitos.