Ato em defesa da soberania nacional e contra o aumento de tarifas de importação anunciado pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros foi realizado na Esquina Democrática, no centro de Porto Alegre (RS), na última segunda-feira (14). A mobilização, convocada por partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais, integrou uma agenda nacional de protestos que também cobra mudanças na política tributária brasileira.

Com faixas e cartazes que pediam “Taxar os bilionários, não o povo brasileiro”, manifestantes criticaram a decisão do governo norte-americano de elevar tarifas sobre o aço e o alumínio do Brasil. Organizações presentes afirmaram que a medida representa interferência política e tentativa de pressionar autoridades brasileiras em processos internos, inclusive judiciais.

Lideranças partidárias e sindicais discursaram no ato, defendendo a unidade entre movimentos populares e o debate público sobre quem paga impostos no país. Amarildo Cenci, dirigente da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS), disse que o contexto é de disputa política intensa e que os setores populares devem se organizar para responder.

“Nós estamos diante de uma luta de classes em aberto. Uma parte do setor político e das elites brasileiras está procurando um caminho para se fortalecer em disputas futuras, tentando justificar esse desembarque. Por trás das tarifas há uma disputa geopolítica e o interesse americano de nos manter como colônia. Só a nossa unidade vencerá, mas não é uma unidade só das militâncias ou das vanguardas. É uma unidade que tem que trazer o povo para o nosso lado”, declarou Cenci.

Ele também defendeu a realização do plebiscito popular sobre o sistema tributário. “Precisamos puxar para dentro dessa discussão toda a população que trabalha 44 horas semanais, que enfrenta jornadas extensas e assédio. Quem paga e quem não paga impostos nesse país precisa ser debatido de forma ampla”, disse.
A deputada estadual Sofia Cavedon (PT) destacou que a mobilização na capital gaúcha faz parte de um movimento articulado em várias regiões do país. “Este ato se soma às manifestações de deputados no Congresso, de senadores, dos movimentos de rede que estão muito fortes, e de protestos de rua em outras cidades, como em São Paulo. O Brasil quer aprofundar as mudanças prometidas nas urnas com o presidente Lula. Queremos dizer aos povos do mundo que vamos defender a soberania de todos os países e a democracia global. E o presidente Lula não vai dizer isso sozinho, vai dizer conosco nas ruas”, afirmou.

A deputada federal Luciana Genro (Psol) também participou da manifestação e fez críticas ao governo norte-americano. “Essa taxação do governo dos Estados Unidos é uma tentativa evidente de interferência na soberania do país. É inaceitável usar tarifas alfandegárias para chantagear o governo ou o Supremo Tribunal Federal [STF] em defesa de quem atentou contra o estado de direito. Precisamos repudiar com força esse tipo de ação e unir todos os que são verdadeiramente patriotas”, disse.

O presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE), Alejandro Guerrero, que também discursou na Esquina Democrática, lembrou o histórico de mobilização política em Porto Alegre e afirmou que a cidade já enviou, no passado, recados ao mundo em defesa da soberania popular. “Hoje é um dia importante de mobilização do povo gaúcho. Porto Alegre já deu esse recado há muito tempo com os Fóruns Sociais Mundiais, dizendo que o povo brasileiro é soberano. Nenhum presidente de outro país deve se meter na nossa democracia, sobretudo para defender quem foi golpista. Aqui a lei funciona diferente”, declarou.

Os organizadores do ato defenderam ainda a necessidade de pressionar o Congresso Nacional para aprovar medidas que ampliem a tributação sobre grandes fortunas e grandes empresas, argumentando que o atual sistema penaliza mais a população de baixa renda.
Em discursos, dirigentes reforçaram que o protesto também faz parte da campanha nacional pelo plebiscito popular sobre o sistema tributário, que busca envolver a sociedade em debates sobre justiça fiscal e financiamento de políticas públicas.
Outras manifestações estão previstas nos próximos dias em diversas cidades do país, com o objetivo de manter o tema em pauta e pressionar autoridades a reverem tanto acordos internacionais quanto a estrutura tributária interna.
