Mestre em Ciências Sociais e ex-ouvidor da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP), Benedito Mariano critica a condução das investigações sobre a série de ataques a ônibus na capital e região metropolitana de São Paulo, que já somam mais de 660 ocorrências desde o dia 12 de junho. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele critica a ausência de inteligência policial e classifica como “inaceitável” o fato de a polícia ainda não ter um caminho claro de investigação.
“É uma situação grave. Mais de 600 casos de depredações de ônibus indicam que não são casos isolados. Há uma articulação para esse tipo de ação de vandalismo. E é uma pena que, em mais de um mês, a Polícia Civil ainda não estabeleceu com objetividade uma linha de investigação”, afirma Mariano. Para ele, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem priorizado a repressão e a letalidade policial em vez de investir em métodos eficazes de inteligência. “Se fosse uma situação que não atingisse os mais pobres, talvez a polícia já tivesse dado uma resposta”, completa.
O especialista defende a criação de uma lei nacional de compliance que impeça o crime organizado de “contratar com o poder público”. “É urgente uma resposta sobre a possível participação do crime no transporte coletivo. Para chegar aos responsáveis invisíveis, só com inteligência policial. E é isso que está faltando”, diz.
Deputada pede investigação
A deputada estadual Ediane Maria (Psol-SP), também ouvida pelo programa, afirma ter protocolado dois ofícios nesta segunda-feira (14) exigindo ações concretas e transparência do poder público sobre os ataques. Segundo ela, trabalhadores e trabalhadoras que dependem do transporte público vivem em situação de medo constante, enquanto o governador do estado e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) agem em prol de interesses próprios.
“E, em vez de o Tarcísio e o Nunes irem atrás das respostas, estão mais preocupados em salvar o [ex-presidente Jair] Bolsonaro (PL) da cadeia. […] O que o povo quer hoje é resposta. Eu preciso sair da minha casa e garantir que volto viva, sem levar uma pedra na cabeça. Quem está sendo atacado é o trabalhador, é o usuário do transporte público”, declara a parlamentar.
Ediane Maria critica ainda a falta de prioridade das autoridades diante da gravidade do cenário. “Dá para resolver, dá para colocar mais câmeras, mais segurança, dá para colocar a polícia nesse trajeto, dá para fazer um belo plano. Mas a questão é falta de interesse real”, lamenta.
Para ouvir e assistir
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