O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a se manifestar sobre o processo criminal contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, em carta publicada nesta quinta-feira (17) na rede social da qual ele é dono, a Truth Social. No texto, o republicano afirma que o ex-presidente brasileiro está sendo vítima de “um sistema injusto” e pede o fim do julgamento que pode levar Bolsonaro à prisão.
“Tenho visto o tratamento terrível que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto que se voltou contra você. Este julgamento deveria terminar imediatamente!”.
O gesto é mais um capítulo na crise diplomática com o Brasil fomentada pelos Estados Unidos. A carta vem oito dias após Trump endereçar uma mensagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticando a Justiça brasileira, episódio que foi interpretado por autoridades como tentativa de interferência estrangeira na soberania nacional.
Agora, o estadunidense reafirma ter imposto tarifas ao Brasil como resposta a uma suposta “censura” e, sem qualquer prova, se refere ao país como um “ridículo regime” que estaria perseguindo a “liberdade de expressão”.
As declarações de Trump acontecem poucas horas depois de Bolsonaro convocar uma coletiva de imprensa em Brasília, em que voltou a se declarar perseguido e sugeriu que seria a pessoa ideal para negociar diretamente com os EUA. Diante dos jornalistas, chegou a cogitar uma concessão de anistia. “Vamos supor que Trump queira anistia. É muito? É muito, se ele pedir isso aí?”
Além de defender Bolsonaro, em sua carta, Trump ainda parabeniza o ex-presidente pela “liderança nas pesquisas” eleitorais. “Não me surpreende vê-lo liderando as pesquisas. Você foi um líder muito respeitado e forte que serviu bem o seu país”. No entanto, pesquisa do instituto Quaest, divulgada nesta quinta-feira, aponta que Lula lidera a corrida eleitoral em todos os cenários analisados, inclusive contra Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030.
Uma disputa entre os dois em primeiro turno, estimulada pelo instituto, demonstrou vantagem de 6 pontos percentuais a Lula, que tem 32% das intenções de voto neste cenário, contra 26% de Bolsonaro. As vantagens do atual presidente se mantêm também em cenários de disputa contra o filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, contra Michelle Bolsonaro e contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) – que alcança empate técnico com Lula em simulação de segundo turno, considerando a margem de erro da pesquisa.

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) respondeu à carta de Trump em suas redes sociais. O parlamentar reforçou que Bolsonaro está inelegível por “uso abusivo da máquina pública” e que “está sendo julgado por articular, financiar e estimular uma conspiração armada contra o Estado Democrático de Direito”.
O deputado reforça que posicionamento de Trump é ataque à soberania brasileira. “Trump não está defendendo a ‘liberdade’, mas chantageando o Brasil com tarifas e ameaças, numa tentativa inaceitável de pressionar o STF e livrar seu aliado da cadeia. É interferência estrangeira na Justiça brasileira — uma afronta à nossa soberania”. Farias afirma que Brasil não se submeterá a “caprichos de Washington”, nem será “colônia” de Trump.
Mais cedo, em entrevista à TV CNN dos Estados Unidos, Lula voltou a criticar as tarifas de 50% impostas pelo governo Trump e reafirmou que o Brasil está disposto a negociar, mas não aceitará “nada que lhe for imposto”.
“Trump precisa lembrar que foi eleito presidente dos Estados Unidos, não imperador do mundo”, afirmou o petista.