“Uma palavra minha nunca está no mesmo lugar”. A frase é do escritor pernambucano Marcelino Freire e resume bem uma característica presente em sua literatura: a “retirança”, termo usado pelo poeta para expressar o caráter migratório que atravessa a sua escrita.
Marcelino Freire nasceu em Sertânia, Pernambuco, mas vive em São Paulo desde 1991. É autor de vários livros de contos, entre eles “Angu de Sangue” e “Contos Negreiros”, que foi vencedor do Prêmio Jabuti 2006, na categoria ‘Melhor Livro de Contos’.
Nesta edição do Bem Viver, programa do Brasil de Fato, Marcelino Freire fala sobre esse processo migratório que marca a sua trajetória na literatura brasileira; sobre seu novo romance “Escalavra” e sobre o Festival Literário Elos da Língua, que ocorreu em São Francisco Xavier.
“Eu começo com uma palavra e percebo que elas vão caminhando, fazendo esse processo migratório que minha família fez. Uma palavra minha nunca está no mesmo lugar. Acho que é porque eu também nunca estive no mesmo lugar. Porque eu achava que ia ficar em Sertânia, fui para Paulo Afonso, quando eu achava que ia ficar em Paulo Afonso, fui para o Recife, quando achava que ia ficar no Recife, estou em São Paulo. Tem uma coisa migratória aí, uma ‘retirança’ que eu acho que a minha palavra tem”, afirma o escritor.
Diante da perspectiva migratória, Marcelino também conta sobre a sua relação de longa data com a cidade de São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos, São Paulo. A paisagem e atmosfera da cidade serviram como inspiração para a escrita do mais recente livro de Marcelino, o romance intitulado “Escalavra”, escrito inteiramente na cidade.
“Essa cidade deixa a gente muito para dentro e isso para mim era fundamental, sobretudo numa loucura de uma vida agitada em São Paulo, de uma vida cheia de viagens, corre daqui, corre dali. Aqui eu encontro esse lugar do silêncio, esse lugar do ensimesmar-se para poder revelar essas palavras. Aqui as palavras nos socorrem. Me agarro nelas e escrevo”, explica o poeta.
O romance “Escalavra” conta a história de um pai e um filho cuja relação é marcada pelo silêncio entre eles. O escritor revisita as memórias da sua infância e do vínculo com o seu próprio pai para dar a tônica deste “romance megalítico”. Nesse relacionamento de silêncio pesado, como grandes blocos de pedra, as palavras vão sendo escalavradas, no sentido da fricção e do tensionamento entre elas. “Escalavrar é deixar a pele em carne viva, friccionar uma pele na outra, uma pedra na outra”, explica Marcelino.
Festival Elos da Língua – Além da calmaria para escrever seus livros e oferecer oficinas literárias, outra forte conexão de Marcelino Freire com a cidade de São Francisco Xavier é por meio do Festival Literário Elos da Língua, que este ano realizou a sua quarta edição no início de junho e contou com a curadoria do escritor.
Com o tema “Toda Palavra Lavra”, o festival literário celebrou a produção de escritores e escritoras, artistas, mestres e mestras da linguagem e destacou o entrelaçamento entre a comunidade, a natureza e o papel da literatura como agente de mudança social. Um reconhecimento à semeadura e ao cultivo de iniciativas independentes e ações literárias que movimentam e transformam a sociedade, como os clubes de livros e de leitura que acontecem principalmente nos pequenos espaços.
O tema também foi uma homenagem ao poeta pernambucano Jobalo, que faleceu ano passado e é autor do verso “Toda palavra lavra, toda palavra colhe, toda palavra pede, toda palavra pode”, que exemplifica o processo de semear e cultivar a palavra proposto pelo festival Elos da Língua.
A população abraçou o festival e mostrou que a literatura vive em São Francisco Xavier. “A cidade sempre abraça a literatura e as artes, mas este ano, essa quarta edição foi um envolvimento completo. Seus moradores, seus comerciantes, os donos da pousada, as pessoas, as crianças, as escolas, os professores, as mestras, os mestres, muita gente abraçando e sentindo que a festa é verdadeiramente da cidade”, comenta Marcelino.
E tem mais…
O Bem Viver traz também o Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), que integra conhecimentos tradicionais do campo e pesquisas acadêmicas para impulsionar a produção científica e debater políticas públicas voltadas para a sustentabilidade. O evento ocorrerá em Juazeiro (BA) em outubro deste ano.
Do outro lado do Atlântico, a capital cubana viveu dias de pura musicalidade. O Festival Internacional de Piano Musicalia 2025 transformou Havana em um grande palco, onde jovens promessas e mestres do piano se uniram em uma sinfonia de emoção e transformação.
Tem também receita com a chef Gema Soto e muito mais, confira!
Quando e onde assistir?
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Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET.
Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17.
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