É inegável que a inclusão escolar representa um avanço social significativo. No entanto, quando essa inclusão acontece de forma desorganizada, sem leis claras, sem apoio técnico e sem infraestrutura adequada, ela deixa de ser um direito assegurado para se tornar um campo de tensões, onde quem mais sofre é quem está na linha de frente: os profissionais da educação.
Imagine um jogo de futebol onde os jogadores entram em campo sem saber quais são as regras, sem ter um técnico orientando, sem juiz para mediar e com bolas de tamanhos diferentes rolando ao mesmo tempo. Cada jogador tenta fazer o melhor possível, mas ninguém sabe exatamente qual é sua posição, o que deve fazer ou a quem recorrer. O resultado? Confusão, sobrecarga e, inevitavelmente, exaustão. É exatamente assim que muitos educadores se sentem diante de uma inclusão que, embora necessária, não é devidamente regulamentada nem acompanhada de políticas públicas consistentes.
Professores se deparam com realidades complexas: estudantes com múltiplas deficiências, transtornos do neurodesenvolvimento e dificuldades severas de aprendizagem. E tudo isso sem um “esquema tático”, sem regras claras que definam o papel de cada profissional envolvido. A responsabilidade pela inclusão é de todos, mas ninguém sabe ao certo o que cada um deve fazer. Falta o técnico, falta o planejamento, falta o apoio do “banco de reservas”.
Além disso, o campo de jogo é desigual. Faltam investimentos em formação continuada, recursos didáticos acessíveis e profissionais de apoio – como cuidadores, intérpretes, professores de apoio e psicopedagogos. Na prática, o professor entra em campo sem chuteiras, sem colete, sem preparação – e ainda esperam que ele marque o gol da inclusão com excelência.
Essa falta de estrutura transforma a escola num espaço de improviso, e o professor num jogador solitário, tentando driblar obstáculos com as ferramentas erradas. A exaustão, portanto, não vem da recusa à inclusão, mas da forma como ela é imposta: sem escuta, sem diálogo, sem condições mínimas de trabalho e sem garantir o que é mais importante – o direito a uma educação de qualidade para todos.
Incluir não é apenas colocar o aluno em campo, é garantir que ele tenha condições reais de jogar. E, para isso, é preciso muito mais do que boa vontade dos professores – é preciso regras claras, apoio contínuo e um time inteiro jogando junto.
*Juliana Marques é coordenadora de Educação do Grupo de Comunicação para o Terceiro Setor (Gecom), pedagoga e professora mediadora no Colégio Força Máxima, em São João de Meriti. Atuou na função de professora de alunos com múltiplas deficiências em escolas públicas de Duque de Caxias e investiu na formação continuada que a qualifica para atuar com estudantes com deficiência visual. Entre os cursos realizados estão: Técnicas de Leitura e Escrita Braille, pelo Instituto Benjamin Constant; Educação Inclusiva na Perspectiva do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e Tecnologia Assistiva para Pessoas com Deficiência Visual, ambos pelo CECIERJ; além do curso Tecnologia Assistiva para Deficientes Visuais, promovido pelo Instituto ABBA.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato.