Em meio à escalada de tensões entre Estados Unidos e Brasil, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo governo norte-americano deve causar impactos imediatos à economia nacional. A medida está prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto e atinge exportações como suco de laranja, café, carne, aço e alumínio. Para o economista Newton Marques, ouvido pelo Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o tarifaço é “improcedente” e pode afetar uma ampla cadeia produtiva, com risco de demissões e perdas de faturamento.
“Temos um impacto em alguns setores relevantes […]. Tudo que vendemos para os Estados Unidos tende a ter essa tarifa de 50%, e isso é claro que prejudica bastante, porque não encontramos o mercado rapidamente”, diz. Segundo ele, o curto prazo até a entrada em vigor das tarifas torna inviável a busca por novos mercados. “Tem muito produto que vai estragar, porque os contratos são de médio e longo prazo”, prevê.
Segundo Marques, há uma motivação política por trás das novas tarifas, que não se justificam do ponto de vista comercial. “No caso do Brasil, quem tem superávit são os Estados Unidos”, ressalta. Ele classifica como “ingerência” a tentativa do presidente Donald Trump de condicionar a retirada das tarifas à anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Não existe em nenhum lugar. Isso é uma ingerência muito forte. O país é soberano”, afirma.
O economista acredita que o silêncio do governo estadunidense pode ser estratégico, enquanto avalia a pressão dos próprios importadores dos EUA, contrários à medida. “Eu imagino que o governo dos Estados Unidos vai adiar essa conversa de 1º de agosto”, opina. “Mas se não adiar […], o presidente Lula vai ter que tomar medidas para, justamente, colocar em vigor a lei de reciprocidade”, sugere.
Alternativas brasileiras
Para ele, o Brasil também vai ter que “tentar uma negociação” com os EUA ou “buscar outros mercados” se a medida for mantida. “Caso contrário, tem aí um problema muito sério, que é a queda do faturamento, a demissão de pessoal, porque tem toda uma cadeia produtiva. As pessoas só olham no caso do café, do suco de laranja, mas tem por trás um monte de indústrias e de pessoas ligadas a esses setores”, destaca.
O governo Lula (PT) planeja criar um fundo emergencial para apoiar as empresas afetadas, possivelmente com participação de bancos públicos. “Tem que ser algo passageiro, não é algo permanente, é provisório. […] O governo está sob uma política fiscal, tem um arcabouço fiscal. Não dá para fazer muitos gastos sem desrespeitar esse arcabouço”, comenta Marques. Ele critica o Congresso por não apresentar soluções e tratar o problema como responsabilidade exclusiva do Executivo. “Isso é um problema do país como um todo”, defende.
Apesar dos impactos, Marques lembra que a força do mercado interno brasileiro pode ajudar a mitigar os impactos externos. “Ainda bem que o Brasil sempre priorizou o mercado doméstico. […] Quando tem um mercado doméstico desse fantástico que o Brasil tem, podemos justamente não sofrer tanto”, pondera.
Uma pesquisa Ipsos-Ipec divulgada nesta terça-feira (16) revelou que 72% dos brasileiros acreditam que conflitos internacionais podem afetar muito a economia do país. Para Marques, o temor é justificado. Ele destaca que os EUA são o segundo maior comprador de produtos brasileiros e têm forte influência global. “Os Estados Unidos são muito influentes na Europa e em outros países, até mesmo aqui na América Latina. Então há essa preocupação do governo”, explica.
Para ouvir e assistir
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