No mês em que a primeira mulher negra foi eleita para a Academia Brasileira de Letras (ABL), o Distrito Federal recebe a quinta edição do evento Julho das Pretas que Escrevem, encontro literário que tem como objetivo mostrar o poder transformador da palavra e o protagonismo das mulheres negras na literatura.
Como parte da programação do Festival Latinidades, o evento marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Com uma programação voltada à valorização da produção literária, a atividade será realizada no próximo sábado (26), no Museu Nacional da República.
Criado em 2021, com cerca de 20 mulheres, o coletivo Julho das Pretas que Escrevem no DF hoje reúne mais de 70 autoras negras, com produções que vão da poesia ao romance, da crônica ao infantojuvenil, passando por textos acadêmicos transformados em obras literárias. O grupo realiza anualmente um encontro para reunir mulheres negras que escrevem ou desejam escrever, publicadas ou não, e profissionais da cadeia produtiva do livro.
Neste ano, a atividade ocorre no mesmo mês em que a escritora Ana Maria Gonçalves passa a integrar a ABL, se tornando a primeira mulher negra a compor a instituição. O evento propõe então o fortalecimento de redes entre autoras do Distrito Federal, além de buscar ampliar a visibilidade da produção literária local.
Waleska Barbosa, escritora, jornalista e idealizadora do projeto, destaca que estar abraçada pelo Festival Latinidades fortalece ainda mais a visibilidade do evento, e amplia seu alcance. “Esse grande encontro é importante para dar visibilidade ao trabalho das mulheres que fazem uma militância antirracista por meio da literatura”, pontua.
Para Barbosa, a literatura feita por mulheres negras é uma resposta política a séculos de silenciamento. “A gente sabe como vem sendo historicamente difícil para a mulher colocar sua voz na literatura, publicar, ser lida”, completa.
Afrofuturismo
Em 2025, o evento chega à sua quinta edição com o tema “Escrever o Afrofuturol”, destacando perspectivas da literatura negra voltadas para o futuro e a ancestralidade. Realizado pelo coletivo homônimo e idealizado pela jornalista e escritora Waleska Barbosa, a proposta inclui atividades voltadas para diferentes faixas etárias, com enfoque especial nas meninas negras.
A escolha pelo afrofuturismo como eixo desta edição reforça a ideia da palavra como uma tecnologia ancestral e de reinvenção do futuro. “Agora, mais de 120 anos depois da criação da ABL, temos uma mulher negra integrando esse quadro. Então, é também uma forma de contribuir para a valorização da mulher negra como alguém que faz e usa a palavra como uma tecnologia de sobrevivência, de existência”, defende idealizadora.
A programação conta com homenagens, sarau, rodas de conversa, lançamento de livros e feira de obras literárias produzidas por mulheres negras. Entre os lançamentos estãoOralidade agora se escreve, organizado por Lia Vieira, Ipês não são domesticáveis, de Waleska Barbosa, e Ananse, de Nanda Fer Pimenta.
Homenageadas
Como nas edições anteriores, o encontro Julho das Pretas que Escrevem no DF homenageia mulheres negras cuja trajetória se relaciona com a palavra, seja ela escrita ou falada. Em 2025, quatro nomes serão reconhecidos por suas contribuições à literatura, à comunicação e à cultura popular no Brasil.
A escritora Andressa Marques, doutora em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), será uma das homenageadas. Autora do romance A Construção, obra vencedora do prêmio Toca Literária, Andressa tem se destacado por sua atuação acadêmica e literária, integrando a nova geração de romancistas negras brasileiras.
A jornalista e escritora Ramíla Moura também será reconhecida. Com atuação em jornalismo e literatura, é autora do livro Antes que o ano acabe vou publicar meu primeiro livro, publicado em 2020, e tem participado de diversas coletâneas de poesia e conto. Sua escrita, que surge das experiências pessoais e coletivas, tem como foco as vivências de mulheres negras.
Também será homenageada nesta edição a jornalista investigativa Juliana Cézar Nunes, que é uma das fundadoras da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do DF (Cojira-DF). Ao longo da carreira, ela recebeu prêmios como o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e o Tim Lopes de Jornalismo Investigativo.
E com trajetória voltada à cultura popular, Mestra Martinha do Coco completa o grupo de homenageadas. Cantora, compositora e brincante, é conhecida por seu trabalho com ritmos como o coco, maracatu e ciranda, desenvolvendo o que é chamado de “Coco do Cerrado”. Sua produção musical é marcada pela oralidade e por temáticas ligadas à ancestralidade, ao território e à resistência cultural.
Para a poeta Kaju, presente desde a primeira edição, o evento é mais que um encontro literário: é um abraço coletivo, um respiro de autoestima em um mundo que ainda marginaliza a mulher negra. “Faz a gente se sentir menos sozinha como escritora. Eu amo, me sinto viva e próspera”, declara a poetisa.
A expectativa, segundo Barbosa, é de que o evento continue sendo um espaço fértil de encontros e trocas transformadoras. “A gente está homenageando cinco mulheres e a expectativa é que possamos fazer muitas trocas, que o sarau seja muito potente, que o público venha nos conhecer, conhecer essas obras. É um convite que a gente vem fazendo há cinco anos à população do DF”, finaliza.
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Serviço
Data: 26 de julho de 2025 (sábado)
Local: Museu Nacional da República (Festival Latinidades)
Horário: das 14h às 18h
Informações e inscrições no Instagram @julhodaspretasqueescrevemdf
Programação
14h – Abertura
14h15 – Homenagem às autoras
15h – Lançamento de livros
15h30 – Sarau
Exposição e venda de livros ao longo de todo o evento.