O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou, até esta quinta-feira (24), ações de mobilização em 27 cidades de 21 estados – e no Distrito Federal – nesta semana, como parte da Semana Camponesa, que ocorre entre os dias 21 e 25 de julho.
As iniciativas incluem ocupações de terras e prédios públicos, doações de alimentos, audiências com autoridades e atos públicos para pressionar o governo federal e os estados a avançarem em políticas de reforma agrária popular.
A jornada leva o lema “Para o Brasil alimentar, Reforma Agrária Popular!” e denuncia o “descaso” com as mais de 100 mil famílias acampadas no país, das quais 65 mil aguardam assentamento há mais de 15 anos. As pautas entregues aos órgãos governamentais cobram um cronograma de assentamentos, reativação de linhas de crédito, investimentos em infraestrutura nos assentamentos e o fortalecimento de políticas públicas como o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) A.
As ocupações de sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) durante a Semana Camponesa se espalham por todas as regiões do país. No total 20 unidades do instituto foram ocupadas.
Ao todo, houve mobilizações em 27 cidades: Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS); São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Chácara (MG), Vila Velha (ES), Campos dos Goytacazes e Rio de Janeiro (RJ); João Pessoa (PB), Teresina (PI), Natal (RN), Fortaleza (CE), Recife e Petrolina (PE), Salvador, Juazeiro e Itabela (BA), Aracaju (SE) e Maceió (AL); Goiânia (GO), Cuiabá (MT) e Brasília (DF); Palmas (TO), Imperatriz (MA), Belém (PA), com duas frentes na capital paraense, e em Boa Vista (RR).

Balanço desta quinta
Nesta quinta-feira (24), integrantes da direção nacional do MST se reuniram com o presidente do Incra, César Aldrighi, e com superintendentes estaduais em Brasília (DF), para tratar da obtenção de novas áreas e da regularização das famílias acampadas. Cada estado apresentou suas demandas específicas em busca do fortalecimento da reforma agrária popular.
Em Porto Alegre, o MST realizou uma ação de solidariedade na Cozinha Solidária da Juventude, com a doação de 3 toneladas de alimentos oriundos de assentamentos em Viamão. Já na Paraíba, cerca de 500 famílias acampadas há três dias realizaram um ato político na sede do Incra em João Pessoa e, por meio da frente urbana Mãos Solidárias, distribuíram 2 toneladas de alimentos agroecológicos em comunidades da capital.
Na capital paulista, cerca de 300 pessoas seguem mobilizadas na sede do Incra desde quarta-feira (23), aguardando reunião com o presidente do órgão. No Rio de Janeiro, 500 famílias ocuparam a Fazenda São Cristóvão, em Campos dos Goytacazes, para pressionar pela destinação da área à reforma agrária. A Polícia Militar cercou o local e ameaçou realizar despejo forçado, sem ordem judicial.
No Rio Grande do Norte, o movimento mantém a ocupação da governadoria do Estado, com cerca de 800 militantes reivindicando escolas do campo, alfabetização de jovens e adultos e infraestrutura para assentamentos. Em Goiás, o superintendente do Incra se reuniu com representantes do MST, que ocupam a sede do órgão em Goiânia desde terça-feira (22). No Pará, militantes marcharam até o Incra e montaram acampamento à espera de negociação com a direção nacional da autarquia.
Lula promete atender parte da pauta
Representantes do MST se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quarta-feira (23), em Brasília (DF), para apresentar a pauta de reivindicações. Uma nova reunião com o presidente do Incra, a direção da Conab e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, foi marcada para a próxima semana, com o objetivo de retomar o debate sobre a pauta fundiária.
Segundo o dirigente nacional do MST João Paulo Rodrigues, em entrevista ao Brasil de Fato, o encontro teve caráter político e tratou da “situação geral do país”, com ênfase na taxação de grandes fortunas, no plebiscito popular e no que chamou de “ofensiva dos americanos aqui no Brasil”. Ele afirmou que o presidente Lula se comprometeu a atender parte das demandas do movimento.
O MST cobrou investimentos em áreas estratégicas como mecanização, insumos, tecnologia e melhoramento genético, além de destravar a criação de novos assentamentos. “Nós precisamos de pelo menos R$ 5 bilhões para obtenção de terra”, disse Rodrigues, acrescentando que a expectativa é de que o governo apresente um novo plano fundiário ainda neste semestre.
Apesar da cobrança por avanços, o dirigente reconheceu que houve medidas positivas desde a última rodada de negociações. “Houve um aumento do recurso do Pronera para a educação, não é o que queremos, mas é importante recuperar e ressaltar”, avaliou. Ele também destacou a liberação de crédito do Pronaf A no valor de R$ 50 mil e o reforço no orçamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
