No último domingo (20), uma festa de aniversário infantil em Jaboatão dos Guararapes foi invadida por um homem que disparou uma arma de fogo. Ele tinha como alvo um jovem de 19 anos, que acabou ferido, assim como outras pessoas na festa. O atirador foi contido, mas deixou como vítima fatal a menina Emily Vitória Guimarães, de apenas 6 anos, convidada daquela festa. Uma outra menina, de 5 anos, também foi ferida. O ataque aconteceu na comunidade do Cajá, bairro de Jardim Jordão, na região de Prazeres.
Com as duas meninas baleadas, a Região Metropolitana do Recife chega a 13 crianças (idades de zero a 11 anos) vítimas de armas de fogo só em 2025, resultando em três mortas e 10 feridas, segundo o levantamento do Instituto Fogo Cruzado. A organização, que acompanha as ocorrências envolvendo armas de fogo, afirma que a RMR superou os números de crianças baleadas nas outras três regiões metropolitanas acompanhadas: Rio de Janeiro (10 crianças baleadas, com uma morte); Salvador (três crianças baleadas, com uma morte) e Belém (nenhuma criança baleada).
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As 13 vítimas em pouco mais de um semestre sinalizam para um possível recorde, ao menos na base de dados do Fogo Cruzado, que faz o levantamento desde 2019. Entre os sete anos de pesquisa, 2025 é o que apresenta mais crianças baleadas até o dia 21 de julho, com o equivalente ao total de crianças baleadas em 2022, ano mais violento para crianças até então. Os primeiros semestres mais violentos ocorreram nos anos de 2022 (sete baleadas até 21 de julho, 13 no total do ano), 2019 (seis vítimas até julho, 10 no ano) e 2020 (cinco até julho, 11 no ano). As três mortes equivalem ao recorde registrado ao longo de 2022.
O município da RMR com mais crianças vítimas de armas de fogo é Jaboatão dos Guararapes, que já contabiliza quatro crianças baleadas, sendo duas mortas (Emily, de seis anos; e um bebê de oito meses) e duas feridas (de quatro e cinco anos). A lista segue com Recife (3 vítimas, sendo uma criança morta e uma ferida por um policial), Olinda (duas vítimas), Paulista (1), Cabo de Santo Agostinho (1), Itapissuma (1) e Goiana (1).
Neste mês, em que se completa 35 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as notícias não são nada boas para esta população na Região Metropolitana do Recife, território que tem uma média de mais de 5 crianças e adolescentes baleados a cada quinzena, com a maioria dos adolescentes sendo vítimas fatais. O Instituto Fogo Cruzado produz colaborativamente e divulga dados sobre violência armada na RMR desde abril de 2018. Os dados são disponibilizados por aplicativo de celular.
O que diz o Governo de Pernambuco
Em resposta ao Brasil de Fato, a Secretaria de Defesa Social (SDS), do Governo de Pernambuco, disse estar “atenta ao aumento dos casos de pessoas atingidas por balas perdidas e vem atuando no combate a essas ocorrências”. O texto menciona 28 atentados com arma de fogo praticados contra vítimas crianças e adolescentes (zero a 17 anos de idade); “Quando comparado ao mesmo período de 2024 (31 casos), houve uma redução de 9,67%”, diz a nota.
O texto afirma ainda que o primeiro semestre de 2025 apresentou queda de 11,9% dos homicídios no estado. “Com os resultados alcançados em junho, Pernambuco chega à marca de 14 meses consecutivos de redução nos homicídios”, afirma a Secretaria de Defesa Social. O órgão também destaca o índice de 61,7% de identificação dos autores dos homicídios em Pernambuco e a promessa de investimentos da ordem de R$ 2,3 bilhões até 2026, voltados para a aquisição de equipamentos, tecnologia e realização de concursos.
O Brasil de Fato também entrou em contato com a Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Jaboatão dos Guararapes, município da RMR com o maior número de crianças baleadas e mortas até julho de 2025. Até o momento não tivemos respostas.
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Disputas de territórios também crescem
O primeiro semestre de 2025 também se destaca por um número sem precedentes recentes de tiroteios resultantes de disputas territoriais e comerciais entre grupos armados da Metropolitana do Recife. São 18 tiroteios do tipo, com 16 vítimas e mais 11 pessoas feridas. Os seis anos anteriores (2019 a 2024), somados, chegam a 10 casos do tipo (com 5 mortos e seis feridos) nos registros do Instituto Fogo Cruzado. Os casos ocorreram mais no Recife (6), Olinda (4), Paulista (4) e Cabo de Santo Agostinho (2).
O número de 39 vítimas de balas perdidas (35 mortas e quatro feridas) também são um recorde no banco de dados da organização. Ao longo de cinco anos, entre 2019 e 2023, a média na RMR era de 23 casos do tipo. Mas em 2024 saltou para 38 (em todo o ano) e em 2025 já temos 39 (só até julho). As mortes causadas por balas perdidas eram de, em média, 21 casos anuais, mas saltaram para 32 em 2024 e já chegam a 35 em julho de 2025. As pessoas baleadas estão principalmente em Olinda (17), Cabo (8) e Recife (8).
Recorde de assassinatos de pessoas em situação de rua
O Instituto Fogo Cruzado também registrou, até junho de 2025, o número de 12 pessoas em situação de rua vítimas de disparos de armas de fogo na RMR. O índice corresponde a soma total de população de rua baleada entre 2019 e 2024, segundo os dados fornecidos pela entidade. Nesses seis anos, foram oito as mortes entre as 12 baleadas. Mas, até junho de 2025, todas as 12 vítimas foram fatais.
