Cerca de 300 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desocuparam na noite desta quinta-feira (24) a sede da Superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em São Paulo. A saída do prédio ocorreu após assembleia do movimento, que avaliou como avanços os encaminhamentos obtidos em reunião online realizada mais cedo com o presidente do órgão, César Aldrighi.
Segundo o MST, a conversa resultou na confirmação de uma reunião presencial nesta sexta-feira (25) com a diretora de Obtenção de Terras do Incra, Maíra Coraci Diniz, e na promessa de novo encontro presencial com Aldrighi na primeira semana de agosto. As tratativas colocam novamente a pauta da reforma agrária popular no centro do debate com o governo federal, avalia o movimento.
A ocupação teve início às 6h da manhã de quarta-feira (23), como parte da Jornada Nacional da Semana Camponesa, promovida pelo MST em todo o país. Ao longo dos dois dias de mobilização na capital paulista, os sem-terra denunciaram a lentidão na condução da política de reforma agrária pelo governo federal e cobraram medidas urgentes para o assentamento de famílias e a proteção de territórios sob ameaça.
Entre as principais demandas levadas à Superintendência do Incra em São Paulo, chefiada por Sabrina Diniz, está a defesa de cinco áreas ameaçadas de despejo no estado: Comuna da Terra Irmã Alberta (na capital), Marielle Vive (em Valinhos), Ilda Martins (em Apiaí), Alexandra Kollontai (em Jardinópolis) e Luiz Beltrame (em Gália). O MST também reivindica o assentamento imediato de 5 mil famílias acampadas, a liberação de créditos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ampliação dos limites de compra por cooperativas e assentados, e inclusão de políticas habitacionais nos assentamentos por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
“O diálogo com o Incra de São Paulo está truncado. Há tempos tentamos um diálogo e seguimos sem resposta para nossa pauta”, afirmou a dirigente nacional Claudete Pereira durante a mobilização. Para ela, além da limitação orçamentária, há “falta de vontade política em garantir as conquistas para estas famílias”.

Jornada se espalha pelo país
A ocupação do Incra de São Paulo integra a chamada Semana Camponesa, que ocorre entre os dias 21 e 25 de julho. A jornada leva o lema “Para o Brasil alimentar, Reforma Agrária Popular!” e inclui ocupações de terras e prédios públicos, doações de alimentos, audiências com autoridades e atos públicos em 27 cidades de 21 estados e no Distrito Federal.
Até esta quinta-feira (24), o MST já havia promovido a ocupação de 20 superintendências do Incra em todas as regiões do país. A pauta nacional cobra um cronograma de assentamentos, reativação de linhas de crédito e o fortalecimento de políticas públicas como o Pronera (educação no campo), o PAA e o Pronaf A (crédito agrícola para assentados e assentadas).
As ações denunciam o “descaso” com mais de 100 mil famílias acampadas no país, das quais 65 mil esperam pelo assentamento há mais de 15 anos. O movimento também critica a baixa execução orçamentária do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), comandado por Paulo Teixeira.