Coordenadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), Ramonildes Gomes alerta que, apesar da conquista da saída do Brasil do Mapa da Fome, anunciada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU) nesta segunda-feira (28), a fome ainda atinge 2,5% da população brasileira, com impactos mais severos entre mulheres negras, mães solo, povos indígenas, quilombolas e população LGBT+.
“Foi uma corrida contra o tempo que produziu um resultado muitíssimo satisfatório, porém ainda longe daquilo que é o ideal, daquilo que a sociedade brasileira merece e precisa”, avalia Gomes, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “O problema é muito mais sério do que simplesmente o acesso ao alimento em quantidade. É preciso garantir alimento suficiente, nutricionalmente correto e seguro o ano inteiro”, diz. “Com fome, não há democracia, não há justiça social”, completa.
Para a pesquisadora, a combinação de políticas públicas como Bolsa Família, a valorização do salário mínimo, o fortalecimento da agricultura familiar e compras institucionais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) explicam o avanço. “É o resultado de uma sinergia de diferentes políticas que, a partir do governo Lula, conseguiram se reconectar e criar esse tecido social, essa rede de apoio capaz de impulsionar o enfrentamento à fome”, analisa.
Ela lembra, no entanto, que o país ainda depende de programas que não têm garantia constitucional e podem ser interrompidos. “Transformar políticas de governo em políticas de Estado é uma situação bastante delicada. Mas a sociedade brasileira tem protagonizado um processo de governança capaz de institucionalizar programas como o Bolsa Família”, afirma.
Impactos desiguais
Gomes também chama atenção para os impactos da crise climática e da insegurança hídrica, especialmente em territórios como o Semiárido, o Cerrado e a Amazônia, onde está grande parte da agricultura familiar. “As mudanças climáticas não são mais uma promessa, são uma realidade vivida e sentida em diferentes territórios. E impactam profundamente a disponibilidade de alimentos”, aponta.
Além disso, ela destaca a importância de dados desagregados para entender quem são os mais afetados pela fome. “As desigualdades sociais se aprofundam em escalas. As mulheres negras, mães solo, populações periféricas, indígenas, LGBTQIA+ estão ainda incluídos em situações de insegurança alimentar moderada a grave”, lamenta.
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