O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que pediu licença do cargo para morar nos Estados Unidos e já afirmou em diferentes situações ter pedido sanções contra o Brasil ao governo estadunidense, revelou em entrevista na última segunda-feira (28) estar atuando para que a comitiva de senadores brasileiros que viajou a Washington (EUA) não consiga se reunir com nenhum representante da Casa Branca para negociações sobre as tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reforçou seu posicionamento de que não pode haver negociação econômica antes dos fatores políticos demandados pela gestão de Donald Trump serem atendidos. Para o deputado licenciado, as tarifas só podem deixar de ser aplicadas nos EUA se uma anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado do 8 de janeiro no Brasil for concedida: “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo. O problema é uma crise institucional, é um problema dentro do Judiciário, é um problema político e não meramente econômico. Se o Brasil der um primeiro passo para mostrar que está disposto a resolver essa situação, o Trump abre uma mesa de negociação”, disse.
Uma comitiva de oito senadores brasileiros viajou aos Estados Unidos no último fim de semana para tentar conversar com representantes do congresso estadunidense e “distensionar a relação” entre o executivo dos dois países. As agendas tiveram início na segunda, com uma reunião do grupo com a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti – que teve seu próprio acesso a representantes da Casa Branca bloqueado por Eduardo Bolsonaro. De lá, a comitiva foi à sede da Câmara Americana de Comércio para se reunir com lideranças empresariais.
Seis reuniões com parlamentares estadunidenses estão marcadas para esta terça-feira (29). O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) e coordenador da missão, Nelsinho Trad (PSD-MS), porém, reconhece que o impacto da comitiva é limitado e que “nada vai ser resolver nesta semana, tampouco dia 1º de agosto”.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), que também está nos Estados Unidos, disse nesta terça-feira (29) que o parlamentar “está cumprindo o papel de sabotar os interesses nacionais. Ele transforma uma medida tarifária em chantagem política contra a economia, contra os empregos, contra a vida do povo brasileiro”.
Em solo nacional, o governo federal prepara um plano de contingenciamento para apoiar os setores empresariais mais afetados pelas tarifas e garantir o emprego de trabalhadores dos setores impactados. O ministro da fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, afirmam que o plano é um colchão de proteção caso as tarifas entrem em vigor, mas o governo segue buscando interlocução com Washington.
Com a recente divulgação de acordos comerciais entre os Estados Unidos e União Europeia, cresce entre analistas e imprensa a cobrança para que Lula fale com Trump – o que o presidente já disse estar disposto a fazer, desde que Trump estivesse interessado em dialogar. Na manhã desta terça, Haddad reforçou ser necessário dignidade na negociação: “A gente tem que entender que o Brasil é grande. Não é arrogância. É uma questão protocolar para que o país se coloque dignamente à mesa e dialogue como parceiro centenário”.