Entre os dias 26, 27 e 28 de julho, a Caravana Humanitaria que está percorrendo a região de Catatumbo, na Colômbia, visitou comunidades de alguns municípios como: Filo Gringo (El Tarra), El Aserrio e San Juanicito (Teorama), e La Trinidad (Convención).
Estas são algumas das muitas comunidades afetadas pelo conflito armado que ganhou uma nova escalada desde janeiro de 2025, na região de Catatumbo.
A Caravana, além de visitar estas localidades em conflito, também realiza o processo de escuta de lideranças locais e da comunidade em geral, que denunciam as consequências da guerra na vida da população civil.
A escuta conta com representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Igreja, da Defensoria do Povo, além de observadores internacionais que farão um relatório a ser entregue ao governo colombiano e as instituições internacionais de Direitos Humanos.

Muitas são as denúncias de violações de Direitos Humanos que tornam comunidades inteiras vítimas da guerra em Catatumbo.
A ausência do Estado na garantia de direitos básicos como: educação, saúde, proteção às lideranças, idosos e crianças, infraestrutura, dentre outras, somada à sistemática violência armada, agudiza a situação de terror vivida pelas comunidades.
Quais as denúncias?
1. Ausência de políticas públicas:
– Educação: algumas comunidades, como por exemplo, Filo Gringo, a escola encontra-se fechada desde janeiro, após a explosão do conflito. Professores tiveram que abandonar o povoado para preservar suas vidas. Na ausência da escola, recai sobre as mães, não só a responsabilidade do cuidado com os filhos, mas também a preocupação com o déficit de aprendizagem, sem perspectiva do retorno das aulas;
– Saúde: os povoados mais distantes do centros urbanos, sobretudo aqueles em meio ao acirramento do conflito, reclamam o abandono do poder público na área da saúde, tendo que contar com hospitais precários, muitas vezes sem serviço médico para atender a população.
– Segurança: moradores denunciam a falta de segurança do Estado no que se refere a proteção de lideranças sob ameaças eminente de assassinatos. Além disso, idosos também denunciam graves problemas psicológicos que os afetam por conta da guerra. De acordo com relatos, diversos idosos já foram vitimados por ataques de drones sobre as comunidades;
– Mobilidade: as comunidades também denunciam a falta de infraestrutura local, principalmente a manutenção das vias de acesso entre as comunidades e veredas. A abertura de vias e sua manutenção, são feitas pelas próprias comunidades, que se organizam e juntam dinheiro pra manter minimamente as estradas em funcionamento. O perigo devido a precariedade das estradas, em meio as montanhas, dificulta a passagem de veículos grandes para abastecimento das demandas locais, bem como para o escoamento da produção campesina;
– Desenvolvimento local: a ausência de politicas públicas para o desenvolvimento local é um dos grandes problemas que afetam a região. A falta de investimentos em infra estrutura para geração de emprego, renda e educação não está colocada por parte do Estado. De acordo com relatos, a maioria dos jovens encontram na guerra uma forma para resolver a sobrevivencia. “Nós mães parimos filhos para a guerra” afirmou uma moradora de Filo Gringo, ao reclamar políticas publicas para a juventude.
2. Ataques de Drones: o uso de drones como tecnologia da guerra tem aterrorizado a região. A guerrilha, que historicamente se deu por meio de confrontação direta entre as insurgências e contra a insurgência, hoje tem usado tecnologias como drones, a seu favor, porém sem nenhum critério. Dezenas de casas já foram atacadas resultando em morte de civis, incluindo idosos e crianças. Por isso, as lideranças pedem urgentemente a proibição do uso de drones no conflito armado.
3. Perfilamento: as lideranças também denunciam a criação de perfil falso nas redes sociais, nova forma de guerra que tem crescido e aumentado a tensão na região. Relatos afirmam que as redes sociais tem sido uma arma de guerra psicológica para ameaçar e assassinar lideranças comunitárias, vinculando-as a grupos guerrilheiros. O medo causado nessas lideranças, expostas nas redes sociais, os impedem de circular pela região para realizar seu trabalho organizativo. Por isso, muitos acabam abandonando suas casas e suas terras para fugir das ameaças.
4. Estigmatização: a contínua discriminação e criminalização que se materializa em acusações falsas contra líderes sociais e defensores de direitos humanos tem aumentado significativamente. A caracterização de organizações como o Comitê de Integração Social de Catatumbo (CISCA), por exemplo, na tentativa de enquadrá-los como parte integrante das insurgências em Catatumbo, reforça a perseguição política e a ameaça às suas lideranças.
5. Militarização: organizações e lideranças comunitárias rechaçam a resolução do conflito pela via da militarização, que segue sendo uma aposta do Estado colombiano para aniquilar a insurgência. Este método, historicamente utilizado no país, já provou seu fracasso e ademais, promove a escalada da violência contra pessoas e comunidades que nada tem haver com o conflito armado.
Como alternativa, os movimentos populares, principais protagonistas na organização e defesa do território Catatumbeiro, defendem a construção de um modelo de paz com base num instrumento dialógico entre governo e população para a implementação do Pacto Catatumbo.
A resolução imediata do conflito deve estar, portanto, ancorada na criação de políticas publicas para um projeto popular, basilar do Pacto Catatumbo, desenvolvimento socioeconômico, cultural e educacional, inclusivo e soberano para a região.
*Judite Santos é da Coordenação Nacional do MST e integrante da Caravana Humanitária